quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Vila Santo Aleixo

Hoje de manhã fui ao Museu continuar com minha pesquisa quando sou surpreendido por um jornalista, Jonatan Morel, e seu cinegrafista. Eles estavam fazendo uma reportagem sobre o plebiscito para a preservação da Vila Santo Aleixo, prédio histórico localizado em frente á Praça Santa Terezinha. Depois de ter votado fui entrevistado. Pensei que a reportagem só ia passar um dia depois. Qual a minha surpresa quando lá pela hora do almoço eu me vejo na TV! E mais surpresa ainda foi quando eu fui recebido no estágio e na faculdade como uma futura celebridade.
A todos obrigado pelas felicitações e os comentários, mas lamento desapontar vocês: não vou continuar na telinha!
Falando agora realmente sério, esse plebiscito é muito importante, embora tenha alguns defeitos. Preservação de patrimônio histórico é uma decisão que deve ser tomada e dirigida pela sociedade política e não pela civil, como já disse certa vez o professor Judas Tadeu Campos. Uma vez com o plebiscito deve-se tornar a votação acessível. Por enquanto, o único lugar em que vi uma urna para o plebiscito foi na bilblioteca do Museu.
Entre as propostas da prefeitura que aparecem na cédula está a de transformar a casa em patrimônio histórico e espaço de discussão, uma espécie de café cultural. Boa proposta. Agora, como Jonatan disse, tomara que isso saia do papel, o que eu - no meu jeito pessimista/realista de ser - duvido muito.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Zé Eduardo e a quinta dimensão

Quando entramos na faculdade, entramos em outro mundo, uma outra dimensão. E isso é bem verdade.
A faculdade exige de você muita dedicação e disciplina seja para compreender as aulas ou fazer suas pesquisas - ou mesmo "tirar nota", na linguagem dos "arrivistas". O ritmo dos cursinhos e ensino médio não tem mais espaço aqui.
Não só nas aulas, mas principalmente no ambiente extra-curricular também. O que lemos e o que conversamos conta e muito. Somos expostos a uma míriade de informações e opiniões que nos fazem repensar certas coisas com que convivemos.
Ou seja, de qualquer modo a faculdade exige de quem entra nela um amadurecimento e um constante aprendizado. Contudo, nem todos percebem isso. E esse não é o caso do meu amigo José Eduardo Manfredini.
Desde o primeiro ano, o Zé demonstrou uma confiança tremenda. Desde já delimitou seus objetivos e se esforçou o máximo que pode, na aula e na pesquisa. E a coroação desse esforço não foi lenta: sua pesquisa foi aprovada para um encontro internacional de iniciação científica na Univap, em São José, e para o Simpósio Internacional de Iniciação Científica da USP, o qual ele apresentará seu trabalho no dia 12 do mês que vêm.
Parabéns, Zé, pelo seu trabalho, você é a prova viva de que um aluno pode ser muito mais do que um simples aluno.

Bárbarie


O escritor argentino Domingos Sarmiento ficou conhecido, na literatura latino-americana, pelo livro Facundo. Nada mais é o livro senão a história de um caudilho, espécie de chefe regional que controlava a vida local. Por retrata a história de Juan Facundo Quiroga, figura histórica real, o romance virou, para muitos, não só um grande exemplar da literatura latino-americana,mas também crônica de um capítulo de sua história.
E esse capítulo se chama caudilhismo, mas poderia se chamar coronelismo ou caciquismo e por aí vai. A palavra caudilho, na origem, designa um chefe político e econômico regional da região do Prata. O maior exemplo de caudilho, com certeza, é o argentino Juan Manuel Rosas. Rosas dominava os pampas da Argentina com mãos de ferro, mas também usava do velho e bom paternalismo ou clientelismo, se preferirem.
Os caudilhos proliferaram na região após as guerras de independência; sem o poder colonial, eles estavam livres para dominarem onde quer que quisessem dominar. A maioria era de militares que atuaram nas guerras e que possuiam muitos latifúndios, ou seja, tinham o status e a riqueza necessário para tanto.
A América dos caudilhos não está muito longe de nós: a figura do coronel, do chefe local, está enraizada também em nossa literatura, dramaturgia e em nossa mentalidade. E a América dos caudilhos precisa ser estudada e analisada, não pela emergência de líderes latino-americanos que meio-mundo chama de novos caudilhos e a outra metade de neo-populistas, mas porque eles demonstram a dificuldade da construção da democracia em nosso continente. Estamos falando de uma população que passou anos sobre o jugo das potências européias e que quando se viu finalmente livre estava numa situação de pobreza e anarquia, á mercê dos líderes autoritários. Esse período da formação da nossa identidade é muito importante, pois nele houve um embate entre o ideal de modernização que se queria implantar aqui (muitas vezes a República nos moldes dos EUA ou da Europa) e a situação real dos países (pobres e comandados por líderes autoritários).

domingo, 25 de outubro de 2009

"Monkey Hills"

Com o perdão do atraso comento aqui a manchete que já rodou o mundo: os últimos desdobramentos da guerra do tráfico e ao tráfico. Falo da tragédia do Morro dos Macacos, ou Monkey Hills segundo a imprensa internacional (ver o destaque da tragédia no mundo: http://jovempan.uol.com.br/noticias/noticia/confronto+no+rio+e+destaque+no+mundo-176564,,0 ).
No sábado, dia 17, traficantes de uma facção rival, oriunda do Morro São João, invadiram o Morro dos Macacos. A polícia militar foi conter o conflito e na tentativa um helicóptero foi abatido. No dia seguinte se seguiram festas em alguns morros pelo acontecido. Ônibus foram queimados e depois depenados por saqueadores.
Estive no Rio na segunda e um pedaço da terça passada (respectivamente, dias 19 e 20) e presenciei um clima muito estranho. Na Avenida Brasil, carros da "Força Pacificadora", uma ramificação da Polícia Federal. Nas lojinhas, entre os comentários do resultado do jogo menções ao caso e outros mais.
Ou seja, apesar da aparente tranquilidade do Rio, o clima está tenso. A situação piora mais a cada dia. A última da vez foi a morte de um cantor do AfroReggae por assaltantes e a omissão da Polícia em ajudá-lo. Isso tudo na futura sede das Olímpiadas!(link sobre os últimos casos de violência no Rio: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u642886.shtml)
A imprensa nacional sempre foi sensacionalista quando se trata do Rio de Janeiro, o novo é que agora a imprensa internacional está descobrindo que a cidade maravilhosa não está tão maravilhosa assim. No entanto, mesmo diante de 42 mortes, o Comitê Olímpico Internacional se manteve irredutível em cancelar o status de sede dos jogos olímpicos de 2016 para o Rio. Para eles, "Monkey Hills"ainda está muito distante do Rio de Janeiro sensual e edílico dos filmes. Será?
A violência no Rio não surgiu da noite pro dia, ela faz parte de um longo processo que deve ter começado ainda nos tempos da colônia e que foi acentuada pela política de urbanização de gente como o prefeito Pereira Passos, que nos anos de 1900 já havia marginalizado grande parte da população nos morros, e culminou na queda do helicóptero no Morro dos Macacos. Não se pode fugir da violência, deve-se encará-la de frente. Posso dizer aqui uma lista imensa de gente, inclusive amigos e parentes, que pensavam que morando e trabalhando longe dos morros estariam livres da violência. Ledo engano.
O problema é muito longo e profundo, não se pode resolvê-lo em um ano ou mesmo antecipá-lo para outra data, como foi feito no Pan. É algo cultural, necessita de uma campanha pesada de conscientização acompanhada de uma melhora nas condições de vida destas pessoas. O governo tem que fazer aquilo que ele deixou de fazer a décadas: ajudar essa população e não por meio de medidas assistencialistas. Ele tem que se relacionar com todos os segmentos da sociedade e não só com aqueles que ficam bem na foto.
Mas todos nós sabemos que isso está no reino da ficção científica, para não dizer contos de fadas. Se a possibilidade de mudança já era pequena, ficou menor ainda com a escolha da cidade como sede das Olímpiadas, pois assim revitalizou-se o status quo carioca. Essas Olímpiadas serão a promessa para muita gente de dinheiro fácil e de prestígio. E enquanto elas continuarem se alimentando de ambos, se multiplicam as mortes no Monkey Hills da cidade.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Coronel Hans Landa

Uma das estréias mais aclamadas do mês com certeza foi o filme Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino. Assisti ao filme recentemente e no cinema pude perceber, através dos risos e comentários do resto do pessoal que assistia ao filme, que foi realmente bem recebido pelo público.
O filme é um recorte de referências cinematográficas, desde elementos do faroeste macarrônico até da moderna cultura pop como David Bowie, com a habitual violência do diretor (tirando os escalpos, até que ele está mais comportado). O filme segue algumas regras (seja pelos esterótipos ou pelo tema manjado de vingança a todo custo) e quebra outras (a narrativa, a trilha sonora e a violência).
Pessoalmente, achei que poderia ser melhor. Falando como historiador, ele é um prato cheio. Acho que pode abrir caminho para muitas questões não sobre a Segunda Guerra, mas sobre o cinema feito em cima da Segunda Guerra. O diretor deu muita ênfase á isso: a presença de Goebbels e as menções á estúdios, diretores e condições dos materiais na época exemplificam isso.
No entanto, o post de hoje não se destina a falar do filme em si, mas de um de seus personagens: o coronel da SS Hans Landa, o vilão do filme. Entre muitos personagens caricatos criados e alimentados pela indústria cinematográfica, como o americano canastrão, o inglês polido, o alemão metódico e a francesa blasé, o vilão interpretado pelo ator austríaco Christoph Waltz parece ser o personagem mais bem construído. Engraçado, cínico, cruel, frio, sádico e educado, ou seja, totalmente ambíguo. Por isso o personagem é tão polêmico; suas ações fazem com que se reflita ou mesmo se simpatize com ele, no entanto, ainda assim, ele é o vilão, e isso o diretor frisa muito bem. Landa simboliza então a sedução do mal, pois não conseguimos tirar os olhos da tela enquanto ele está na tela.
Para mim é inevitável relacionar outro filme com este: A Onda (tanto o original como o novo). Aqui, as pessoas são igualmente hipnotizadas pelo mal, elas literalmente se deixam levar. Acho que isso não é argumento para perdoar criminosos como os nazistas ou qualquer outro tipo de extremistas, mas apenas meios de entendê-los. É essa "fisiologia" do mal que pode nos fazer entender como, atualmente, se proliferam a quantidade de Hans Landas no mundo, sejam eles fundamentalistas islâmicos ou pretensos"defensores da democracia". E é essa mesma fisiologia que pode nos fazer capaz de evitarmos essa epidemia, nos despindo de certos preconceitos e nos armando com equilíbrio em nossas ações e pontos de vista.

Café e Indústria

Warren Dean foi o responsável por um estudo que foi um verdadeiro divisor de águas não só na história de São Paulo como do Brasil. Estamos falando de A industrialização de São Paulo.

Vou procurar resumir nesse post alguns pontos principais do livro.
A tese principal, que permeia o livro inteiro, é de que o complexo cafeeiro, tudo que sustentava e era sustentado pela exportação do café, incentivou a industrialização de São Paulo.
Como? Através dos próprios cafeicultores, que decidiam diversificar seus negócios fazendo fábricas, dos importadores, que tinham oficinas para darem um acabamento nos produtos antes de comercializá-los, e nos imigrantes, que eram chamados para trabalhar tanto nas oficinas dos importadores como nas pequenas fábricas dos cafeicultores ou mesmo no comércio informal.
Os industriais, no entanto, custaram a ser valorizados, uma vez que seus produtos cultivavam uma imagem de baratos e inferiores (quando comparado aos estrangeiros) e eles ficaram conhecidos como oportunistas. Tanto para adquirir capital como status, essa elite emergente começou a se fundir com a tradicional aristocracia do café.
É essa relação profundamente íntima com o café que fará os industriais ficarem por muito tempo sem uma consciência de si mesmos; eles se achavam uma parte da elite do café. Essa demora em se reconhecerem e a partir daí se unirem para defender seus interesses perante ao Estado e á sociedade é acompanhada pelo lento crescimento da indústria, marcado por crises como a Primeira Guerra - que impedia a entrada de máquinas para aparelhar as fábricas e ao mesmo tempo a entrada dos produtos estrangeiros concorrentes - e a quebra da bolsa de Nova York em 1929.

Por isso o livro é tão antológico, ele quebra certos mitos como o de que os industriais lutavam contra a aristocracia rural que os impedia de crescer (indústria x café) e de que a Primeira Guerra Mundial ajudou o boom industrial de São Paulo baseado nas muitas fontes que pesquisou. No entanto, o trabalho de Dean é muito rico, existem várias outras informações e análises interessantes, as quais não podemos mencionar rapidamente por causa do espaço, e sua linguagem muito clara e didática. Isso tudo faz desse livro uma boa leitura garantida.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

CDPH

O estágio realmente é uma experiência para vida toda. Posso dizer isso com segurança porque sou estagiário.
Desde maio estou estagiando no Centro de Documentação e Pesquisa Histórica (CDPH) da UNITAU e se fosse registrar aqui, nesse post, tudo o que aprendi nesse intervalo de tempo chegaria no limite permitido de palavras fácil fácil.
Mas o que eu posso salientar é que esse estágio acrescentou muito á minha formação profissional e á minha vida. No decorrer do ano entrei em contato com várias fontes documentais, desde os jornais á manuscritos, cartas e fotos. Em outras palavras, eu vi a História passando por minhas mãos. Foi essa experiência que suscitou em mim o gosto pela história regional. Mas também, aprender meios de organizar e catalogar um arquivo, construir uma biblioteca, digitalizar documentos, isso tudo me ajudou na medida em que aprendi como organizar minhas tarefas, meus documentos e minhas pesquisas.
Não posso deixar de mencionar a contribuição sempre presente de meus colegas Tiago Donizete Cunha, Cláudia Borges Serra, Joana Jesus Silva e, é claro, o "poderoso chefão" Prof. Mauro Castilho Gonçalves. Juntos me ensinaram como pesquisar e como agir nesse ambiente tão estranho para mim que é o ambiente acadêmico.
Igualmente valoroso foi minha interação com os visitantes, sejam pesquisadores ou pessoas simples da comunidade, que me ajudaram a exercitar tudo o que aprendi e, por que não, me ensinaram os outros lados da história.
Olhando hoje todo esse trajeto que percorri finalmente compreendi a importância do estágio para a vida dos universitários.

Usos e abusos da Educação Moral e Cívica



Discussões suscitadas em uma mesa-redonda me fizeram pensar e muito nessa matéria que foi a cruz para muitos alunos das das décadas passadas.
O que se entende por Educação Moral e Cívica? É o ensino das práticas de cidadania e ética. Até aí nada de mais, a matéria em si não oferece muita polêmica, agora o seu uso sim. Quem já teve ou mesmo ouviu falar através dos pais das famigerada OSPB? A disciplina (alguns consideram "lavagem mental") era patrocinada pelo governo militar como meio de insuflar o nacionalismo na população com as idéias de Brasil Grande ou Brasil Potência. E isso não é criação dos militares: ora, Getúlo Vargas incentivou a criação de desfiles escolares cívicos, além de tecer toda uma mitologia para as crianças a seu respeito.
Como eu disse, a matéria em si não tem nada de ruim, pelo contrário, acho, até muito boa, principalmente para os tempos em que vivemos. Se na ditadura não havia espaço para o exercício da cidadania (a real e não a pregada pelo governo da época), hoje há, mas os cidadãos estão cada vez mais se afastando desse espaço. E nós não podemos culpá-los por isso, afinal corrupção e autoritarismo são duas constantes na história brasileira. No entanto, o afastamento da política não ajuda em nada, até piora.
Por isso defendo o ensino de Educação Moral e Cívica, mas não aquela disciplina dogmática, bizantina, mas uma matéria mais pragmática que possa ensinar ao aluno a ser um cidadão ativo através do estudo de certas noções da Filosofia, Sociologia e História. Para ela ser desse jeito na prática precisa-se de equilíbrio e sapiência - na dosagem e na adaptação ás condições de cada região. E é aí que o bicho pega, pois se moderação e dedicação são necessários para esse projeto vingar o que podemos esperar de um governo que se excede e fica inerte constantemente?
Falando assim, parece um sonho a implantação desse tipo de Educação Moral e Cívica, mas nós, professores e futuros professores, podemos ensinar cidadania e ética aos nossos alunos não necessariamente com uma disciplina específica para isso, mas através de pequenos exercícios e levantamentos de questões em sala de aula. Mas mesmo assim, aqui fica um conselho muito útil:
-Educação Moral e Cívica; ensine com moderação.
Quem ficou interessado, principalmente no que tange ao (ab)uso dessa disciplina, recomendo esse artigo: www.histedbr.fae.unicamp.br/art11_24.pdf

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Cidadão, esse ilustre desconhecido

José Murilo de Carvalho é um dos nomes dourados e iluminados da História brasileira, com o perdão do exagero. Para quem não o conhece ele é um cientista político mineiro, também historiador, que já pesquisou sobre o Exército brasileiro, as elites imperiais, as elites republicanas, as artes republicanas e a corrupção brasileira, dentre milhares de outras coisas.
Porém, o cerne da historiografia de Carvalho, o que aparece volta e meia em seus textos, é a preocupação com a construção da cidadania no Brasil. Ele demonstra em sua análise sobre as elites imperiais que a cidadania era pequena e limitada no Império e assim continuou sendo na República com algumas nuances. A população brasileira em sua maioria era uma telespectadora da história do país, assistiu á grande parte dos seus acontecimentos, incluindo a proclamação da República, "bestializada". No entanto, vira e mexe, alguns setores dela se levantaram para reclamar a seu modo desse status quo, seja no Exército, no sertão de Canudos ou nas favelas do Rio de Janeiro.
Confrontando isso com outros autores, existe também o pressuposto de que o próprio brasileiro, devido á situação precária em que foi posto nesses 500 anos, criou uma ética muito relativa. Uma ética que visa a própria sobrevivência e nada mais, nacionalmente conhecida como o "jeitinho". Jeitinho esse que extrapola do dia a dia nas ruas para as sessões no plenário e que foi chamado por Raymundo Faoro de "patrimonialismo". Uma dezena de homens entram no poder e para sobreviver começam a sugar esses recursos, se tornando "donos do poder", um circuito fechado que comanda o poder enquanto o resto da sociedade se afasta dele para cuidar de sua prórpia sobrevivência por outros canais.
Seja como for, obra de José Murilo, em conjunto, nos abre uma brecha para reflexão: em um país onde tudo foi imposto á sua população, inclusive a democracia, e onde essa população se tornou fortemente apática á política, talvez por causa do aspecto anterior ou quem sabe da situação em que a colônia foi relegada, há hoje cidadania? Se há ela foi conquistada ou imposta?

Recomendo, entre outros, esse pequeno e engraçadissímo código de ética do "guru" do humor nacional, Millôr Fernandes: http://www2.uol.com.br/millor/aberto/textos/004/006.htm.

Entre os livros de José Murilo de Carvalho recomendo:
-A História da Cidadania no Brasil; volume organizado por ele.
-Os Bestializados; obra clássica, trata da natureza restrita da proclmação da República.
-Formação das Almas; outro clássico, mostra como os diversos grupos republicanos manipularam símbolos e artes plásticas para legitimar a República ao povo.
-Nação e Cidadania; volume organizado por Carvalho, aborda desde o papel da imprensa na construção da cidadania no Segundo Reinado até as formas de sociabilidade e manifestação dos escravos.

Nu pedagógico II


E aqui está minha singela homenagem ao protesto inusitado dos professores e educadores do estado nesse dia do professor. Protesto esse que aliás foi considerado pela entidade organizadora um sucesso. Declaro que fiquei decepcionado ao saber que era um nu pedagógico metafórico... Para quem quiser mais notícias aqui vai o link da notícia do protesto do próprio site da entidade organizadora: http://www.udemo.org.br/NuPedagogico.htm.

sábado, 10 de outubro de 2009

Félix Guisard: assistencialismo ou filantropia?

O fundador de Taubaté, o responsável pela sua elevação á condição de vila, foi o bandeirante Jacques Félix. Há quem diga que a cidade teve um segundo fundador: Félix Guisard.

Félix Guisard nasceu em 1862 na cidade mineira de Teófilo Ottoni. Filho de imigrantes franceses, entrou para o Seminário em Diamantina, mas teve de sair por ocasião do falecimento do seu pai em 1879. Félix e sua família foram para a Baixada Fluminense, trabalhar em uma das muitas fábricas de região. Guisard possuía conhecimento técnico em máquinas têxteis, incluindo-se em um rol comum na época do qual os industriais e fazendeiros donos de fábricas dependiam muito: o técnico de origem imigrante. Logo foi promovido a gerente.

Um amigo de seminário, Rodrigo Nazareth de Souza Reis, o convidou para visitar sua cidade: Taubaté. Aonde Lobato viu cidades mortas, Guisard viu uma mina de ouro. Já havia toda uma infra-estrutura para a instalação de uma indústria aqui: mão de obra ociosa, vias de comunicação, proximidade com os grandes centros urbanos brasileiros, produção alimentícia variada e poucos empreendedores audaciosos. O jovem gerente então decidiu criar uma fábrica aqui.
Na fundação da fábrica têxtil local, posteriormente chamada de Companhia Taubaté Industrial (C.T.I.), contaram como acionistas Guisard e seus muitos irmãos, uma firma inglesa, Nazareth de Souza, Fernando de Mattos (grande engenheiro e líder político local) e grandes fazendeiros como João Affonso Vieira e Antônio Marcondes de Moura. Fábio Ricci assim classificou a composição social da fábrica: Fazendeiros, 32,8%; Profissionais liberais, 7,0%; capital financeiro local, 12,2%, capital comercial, 12,0%, capital de pequeno industrial, 10,4%; industriários/ poupança familiar, 16,0%; capitalistas locais, 9,6%. Ou seja, ao contrário do que se pensa Félix Guisard não era "O" fundador da C.T.I. A família Guisard só foi obter o controle acionário da empresa com a retirada d ealguns fazendeiros do ramo das ações e a falência da firma inglesa (Edward Ashworth & Cia.), que a controlava antes, a partir da década de 20.


Pois bem, a empresa cresceu em capital e muito, mas Guisard não é conhecido só pelo sucesso financeiro de sua fábrica, mas principalmente por suas obras sociais. Muitas delas seriam incorporadas só 20 anos depois na CLT. Os trabalhadores tinham um turno de 8 horas diárias, nas quais paravam para almoço e lanche. Tanto na entrada na fábrica quanto na saída, o próprio Guisard vinha cumprimentar os trabalhadores e desejar boa sorte. Todo aquele que quisesse reclamar ou denunciar alguma coisa poderia fazê-lo diretamente com ele depois do expediente. Guisard criou ambulatórios, teatros, quadras para esporte, time de futebol e até colônia de férias para os seus trabalhadores em Ubatuba. Além disso contribuiu com grandes doações para o Asilo de Mendigos, o Orfanato Santa Verônica, a construção da Santa Terezinha e etc.

É nessa parte em que surge o x da questão: o que estaria por trás dessas obras: assistencialismo ou filantropismo? Os que defendem a primeira alternativa possuem como argumento a mesma utilização dessa prática por outros industriais do período, tais como Jorge Street ou Francesco Matarazzo, como meio de impedir revoltas trabalhistas e impedir que seus operários, com grande qualificação técnica, saiam de suas fábricas. Quanto á última opção há a seu favor a forte tradição católica da qual ele era credor desde os tempos de seminário em Minas, da qual a caridade é um ponto obrigatório.
Entre esses dois pontos pode existir um meio-termo: tanto o assistencialismo como a filantropia podem ter guiado ás ações do famoso industrial local. Como? Qualquer um que se ocupe de estudar a história da cidade poderá reconhecer que a filantropia é uma prática muito recorrente, principalmente no século XIX e começo do XX. Os motivos podem ser encontrados na escravidão, afinal o senhor de escravos contava com muitos dispositivos para consolidar seu domínio sobre seus escravo; a concessão de certos benefícios aos escravos e a violência dos castigos são dois lados da mesma moeda. Não se sabe porque, mas os fazendeiros do Vale, a grande maioria, adotou a primeira opção. Outro motivo contundente para a prática da caridade pode ser a forte tradição católica na região que a partir da sua romanização no começo do século passado passou a exigir a prática com mais força. Segundo Maria Cristina Soto, a família Guisard, oriunda de Minas e de ascendência francesa, só entrou para o circuito das tradicionais famílias locais através do finaciamento de certas obras assistenciais, adquirindo assim o status delas.
No entanto, o assistencialismo foi uma prática reconhecida pelos industriais do seu tempo como meio de controlar seus trabalhadores, tais quais os antigos fazendeiros do Vale, mas ao que parece Guisard se aproximou mais dos fazendeiros ao exigir que sua imagem fosse parte integrante do dia-a-dia dos seus trabalhadores. Afinal, na fazenda tudo e todos giravam em torno do fazendeiro, desde os escravos até os agregados; aqui, na fábrica, desde o momento em que o operário entra para seu turno até o jornal que lê fora do expediente em tudo está presente o Sr. Guisard.E ele, juntamente com seu filho Félix Guisard Filho, eram mestres em manipular os símbolos sociais que permeavam o cotidiano dos trabalhadores a seu favor: a festas da fábrica e dos sindicatos, os aniversários da família Guisard, o aeroclube local, os filmes selecionados para serem assistido no cinema da fábrica, a disposição da casas da vila operária de forma a serem completamente padronizadas (como a fábrica) e o famoso relógio da CTI que regulava as horas para toda a cidade.O intuito de tais obras era justamente regular a vida do trabalhador, pelo relógio ou pela arquitetura de suas casas, e discipliná-lo, através dos filmes selecionados ou dos grupos escolares da fábrica. O resultado final esperado era sempre a maior eficiência, fruto da qualificação construída pelo industrial através desses meios. E o dispositivo capaz de legitimar essa eficiência era o paternalismo e o personalismo patrocinado pelo industrial.

Com tantas obras e empreendimentos feitos pelo povo e pela cidade, para o bem ou para o mal, não é de se estranhar portanto que quando do seu falecimento, em 1942, Taubaté em peso tenha comparecido ao seu velório (70% da população local estava presente) e que até hoje muitos digam que ele foi seu segundo fundador.


Fontes: A Companhia Taubaté Industrial: a ação social, Rosimeire Santos Figueira. Disponível em: http://www.almanaqueurupes.com/estudos/guisard/cti.html. Acesso: 03 de Abril de 2009.
Pobreza e conflito: Taubaté (1860-1935). Maria Cristina Martínez Soto. Annablume: São Paulo, 2000.
Félix Guisard: capitão da indústria no Vale do Paraíba paulista.In: Origens e aspectos do desenvolvimento da indústria têxtil no Vale do Paraíba paulista, Fábio Ricci, tese de doutoramento apresentado á FFLCH/ USP, 2002.
Félix Guisard: o pioneiro da indústria taubateana, Cláudia Martins. Disponível em: : http://www.almanaqueurupes.com/estudos/guisard/guisard.html. Acesso: 03 de Abril de 2009.

Imagens da História

Todos nós sabemos a importância das imagens hoje. Afinal, nascemos e crescemos com elas, seja através de desenhos animados ou com as fotos dos jornais. Somos uma sociedade audiovisual, isso não há como negar. Portanto nada mais adequado que usarmos imagens na sala de aula.
Com a internet, esse trabalho está muito mais fácil. É só digitar Getúlio Vargas no Google e pronto! Em 5 segundos aparece um cardume de fotos dele.
No entanto quando se trata de História Regional a coisa fica mais complicada. Afinal, não existem muitas fotos sobre o Vale do Paraíba disponíveis na internet. Em Taubaté, pelo menos, o problema não é tão problemático assim. Ora, contamos com grandes arquivos na cidade que dão conta principalmente do começo do século passado. Destaco aqui dois: o Museu da Imagem e do Som de Taubaté (MISTAU) e o Centro de Documentação e Pesquisa Histórica da Universidade de Taubaté (CDPH-UNITAU). O primeiro fica na rua Thomé Portes del-Rey, n. 925, Jardim Ana Emília; já o segundo está localizado na rua Expedicionário Ernesto Pereira, n. 120, Centro.