terça-feira, 29 de novembro de 2011

Quintana e a adolescência:

O ADOLESCENTE
Mário Quintana

A vida é tão bela que chega a dar medo
Não o medo que paralisa e gela,
estátua súbita
mas,
esse medo fascinante e fremente de curiosidade que faz
o jovem felino seguir para a frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez, da gruta.
Medo que ofusca: luz!
Cumplicemente,
as folhas contam-te um segredo
velho como o mundo:
Adolescente, olha! A vida é nova...
A vida é nova e anda nua
-vestida apenas com o teu desejo!

domingo, 27 de novembro de 2011

Ações Afirmativas

"Porque, na verdade, as ciências sociais no Brasil - não vou dizer só a antropologia para não ferir suscetibilidades -, mas o problema é que parece que o problema racial no Brasil sempre foi um problema dos pretos. Florestan Fernandes, por exemplo, foi um aliado importantíssimo na luta contra or acismo, escreveu um livro em que ele disse que a escravidão teria deformado o negro brasileiro, teria incapacitado o negro brasileiro para se integrar socialmente, a anomia social, a coisa da disputa, a crítica a certas práticas que ele entendia que eram incompatíveis com a idéia de família, mas o que é interessante é que o Florestan, que era um marxista, não vai pensar na possibilidade de que a escravidão pode ter deformado o branco brasileiro.
Acho que o debate sobre ação afirmativa tem coisas interessantes: ele tira a branquitude do armário. Hoje há uma reação branca à ação afirmativa no Brasil. A branquitude - como um movimento político absolutamente articulado, organizado, que gere a economia, a política e as comunicações desse país com tranquilidade - vai botando as manguinhas de fora, digamos assim. Isso aparentemente tensiona mais as relações, porque até hoje quem foi para o microfone, quem foi para o debate público, foi a negritude - se eu for pensar a negritude como a antítese da branquitude. Agora, não; agora, o branco foi chamado para o debate público para ele dizer o que ele pensa das relações raciais. Está sendo forçado, na verdade, porque o debate sobre ação afirmativa força o branco a se manifestar".

Depoimento de Hédio Silva Júnior, advogado e militante do movimento negro em São Paulo, retirado do livro Histórias do Movimento Negro no Brasil: Depoimentos ao CPDOC. Organizado por Amilcar Araújo Pereira e Verena Alberti. (Rio de Janeiro: Pallas/CPDOC-FGV, 2007). p. 470.
_____________
O livro de Florestan que Hédio menciona é o clássico A Integração do Negro na Sociedade de Classes (1964).

sábado, 26 de novembro de 2011

Resistência Escrava Política da Escravidão e Precarização da Liberdade no Amazonas Imperial

Ygor Olinto Rocha Cavalcante
Foto: Maurílio Sayão.
Esse era o título da palestra ministrada pelo mestrando em História pela UFAM, Ygor Olinto Rocha Cavalcante na segunda noite da Semana de Consciência Negra da Uninorte desse ano.
A fala de Ygor se iniciou com um caso interessante: a fuga de três escravos da propriedade de seu dono em 1851. Ignez, Felipe e Manoel fugiram e se refugiaram no interior da mata, mas uma expedição foi organizada para capturá-los. Uma vez pegos eles são remanejados, remetidos para outras funções.
O interessante é que o jornal A Estrella do Amazonas, um dos primeiros jornais da província, faz um artigo sobre o ocorrido aplaudindo o sucesso da expedição, depositando nessa fuga de escravos um peso muito forte. Esses três escravos foragidos eram encarados como braços que se evadiam da lavoura, enfraquecendo sua produção, e como subversivos do mais alto nível de perigo, pois poderiam invadir a cidade com seus amigos de mocambos a qualquer minuto.
O artigo, é claro, tem um pouco de exagero (temos de lembrar que a Revolução do Haiti, onde negros mataram seus senhores, por muito tempo assombrou a cabeça da elite brasileira), mas existem nele dois pontos interessantes: primeiro, a importância da lavoura era grande aqui, e em segundo, a importância dos escravizados também.
Ora, se o negro era importante porque a historiografia tradicional afirma que ele teve uma contribuição infíma na nossa história? Isso implica uma revisão historiográfica. Como podemos avaliar o real peso do negro na economia amazonense? Uma das respostas são as estatísticas. Através do número de escravos presente na província, Ygor pode verificar que a população negra aumenta na década de 1850 (quando ainda era apenas comarca do Grão-Pará), reflexo da Companhia de Comércio do Grão Pará e Maranhão que a partir de 1750 trouxe escravos para essa colônia.
Um grande mito foi quebrado. O outro seria de que a escravidão no Amazonas foi tão pequena que o senhor de escravos e seus escravos não conviviam por meio de relações autoritárias, ou seja, aqui a escravidão foi branda e amena. Por meio da leitura das notícias policiais e dos relatórios de prisões, Ygor nos apresenta uma sociedade tão paranóica quanto a dos cafeicultores paulistas em relação aos escravos. Se fossem vistos mais de dois escravos juntos em algum local público, já temia-se uma insurreição escrava e acionava-se a polícia. Muitas ordens de prisão de escravos eram expedidas com base nesse medo. Além disso, o aumento da atuação policial coincide com o aumento da exportação do cacau, café e fumo.
O mais interessante é que a mesma preocupação se tinha com os trabalhadores livres: sejam eles imigrantes brasileiros ou estrangeiros, muitas brigas se iniciavam entre eles e seus patrões ou com a polícia por causa do rígido controle que estes mantinham sobre eles. Ações fora do espaço de trabalho eram consideradas subversivas.
De todas essas ações, as fugas dos escravos eram as mais incovenientes e preocupantes para essa elite senhorial, porque elas aumentam as chances de uma revolta contra os senhores. Além de, como o artigo do jornal no começo dizia, retirar braços da lavoura local. Ora, só o ato de fugir das fazendas por si só pode ser encarado como uma evidência muito forte de que no Amazonas a escravidão não foi nada branda.
Essas considerações nos levam á algumas perguntas e certas conclusões. Quanto as perguntas: esse rígido controle social se originou como? Havia uma certa solidariedade entre trabalhadores livres ou não por causa dessa sua condição de serem constantemente vigiados e punidos? Algumas possíveis respostas: a escravidão indígena pode ter sua parte de culpa, mas uma série de acontecimentos no século XIX fez com que as elites senhoriais acreditassem que o Amazonas estava passando por uma crise de mão-de-obra (epidemias, revoltas políticas, fugas de escravos, deserções de trabalhadores livres, etc) e com isso reforçasse o trato com os trabalhadores. Quanto á solidariedade, Ygor nos fala que trabalhadores livres e escravizados se aproximavam sim, mas não se uniam, justamente por uma série de diferenças (culturais e sociais) que levavam ao conflito entre si.
Quais são as conclusões? A mais importante de todas é que a escravidão no Amazonas provincial representou um dado estrutural para se compreender as relações sociais dessa época. O controle social sobre os trabalhadores e a revolta (ainda que difusa) desses trabalhadores comprovam que também tivemos uma elite autoritária. Elite essa que buscará continuar com esse sistema social, mesmo depois da lavoura de cacau e café perderem sua força. O seringal pode ser entendido como uma extensão desse sistema.

A palestra do Ygor foi muito boa, cheia de informações muito úteis e propostas interessantes, por isso, com certeza falaremos mais dela aqui, nesse blog, mais para frente. O que acho essencial na sua fala é que ela busca rever conceitos um tanto errôneos sobre a escravidão na região, dando destaque não só para a força dessa instituição em nossa terra como também valorizando a influência da cultura negra nesse processo histórico. A todos que ficaram interessados com sua fala indico seu artigo "Fugindo, ainda que sem motivo": escravidão, liberdade e fugas escravas no Amazonas Imperial (1850-1888)" que está presente no livro organizado por Patrícia Sampaio, O Fim do Silêncio, que será lançado hoje ás 18h30 no Museu Amazônico.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Negritude em versos (Parte I)

Um poeta e um píntor e algumas imagens sobre a cultura negra. A proposta de nosso estudo é de vasculhar a presença da cultura africana na Região Norte através da literatura. Escolhemos dois poemas, criados por artistas influenciados pelo modernismo e comprometidos em formar uma cultura amazônica longe do beletrismo que vinha imperando na Amazônia até então, que são emblemáticos justamente por sugerirem muitos ganchos para o estudo do negro na região.

Caricatura de Bruno de Menezes.
Bruno de Menezes, poeta paraense apaixonado pela cultura negra e um dos grandes expoentes do modernismo na terra do carimbó, era um homem que frequentava desde academias literárias até batuques de candomblé. Já na década de 1950, quando o Clube da Madrugada aqui no Amazonas dá os seus primeiros passos, Bruno já era um intelectual reconhecido. Reconhecido inclusive pelos artistas amazonenses, muitos o considerando uma espécie de sacerdote do movimento cultural que pretendiam operar em Manaus. É o caso de Arthur Engrácio que o considerava um "poeta-poeta" ou Genesino Braga, da tradicional Academia de Letras do Amazonas, que já o chamava de imortal. O imortal veio a falecer nos anos 60, justamente quando o Clube da Madrugada adquire mais força, mas os intelectuais locais trataram de fazer uma merecida homenagem: um busto seu foi feito pelo pintor e escultor Afrânio de Castro ás pressas e exposto na Praça da Polícia, onde se localiza até hoje.


Escultura póstuma de Bruno de Menezes feita por Afrânio de Castro em 1963.

Afrânio de Castro foi um dos tantos discípulos de Bruno, bem como o pesquisador Vicente Salles no Pará. O pintor já tinha se dedicado a realizar uma arte amazônica, abstrata e minimalista, mas através de Bruno passou a se inspirar no colorido e nos significados da cultura negra. Ao lado de Moacir de Andrade, Afrânio foi um dos artistas plásticos que ganhou destaque com o Clube da Madrugada, expondo quadros dentro e fora de Manaus. Como todo bom artista da época, teve seus momentos de aperto, passando a morar no IGHA por um tempo graças ao favor de um amigo. O sujeito de personalidade forte e marretento, que manteve algumas arrengas com Moacir Andrade e Luiz Bacellar, veio a morrer afogado na Ponta Negra na década de 1970. A morte trágica parece acompanhar os artistas amazonenses: mais ou menos na mesma década o jovem pintor Hanneman Bacellar se suicidaria, por não aguentar mais o preconceito e a miséria.
Um fio condutor que une tanto as trajetórias do venerável Bruno de Menezes com a do intenso Afrânio de Castro é a preocupação em retratar uma cultura negra dentro de uma cultura amazônica. Veremos adiante, com mais detalhes, que cada um o faz á sua maneira.
O livro mais famoso de Bruno foi Batuque (1931), de onde retiramos o poema Pai João. Embora Afrânio seja mais reconhecido pelas Artes Plásticas, ele também nos deixou uma ampla produção poética e cronística no Suplemente Madrugada d'O Jornal. Recolhemos das páginas amareladas dos jornais o poema Macumba.

Homens e muros (Introdução)

O MURO
Aníbal Beça
(1946-2009)

Para Margarete Vernieri

o muro está adormecido
Apenas o verde limo vive.
O muro vegeta sombras
Cinzentas sombras de cinza e carvão.
o muro está quase caindo
como pétala de rosa
quando murcha
quase morta
temerosa.
Mas
o muro ainda vive,
ás vezes um castelo range
com o rachado do muro
(e os musgos cansam por abafar).
o muro está adormecido
Apenas o verde limo vive.
E na sua inércia
Confundiram-se com um cemitério,
um frio cemitério de sombras.
Mas
o muro vive
o muro tem olhos,
suas lágrimas
fecundam trepadeiras
que trepam no tempo
fluindo com a superfície do muro.

O muro cresceu
e germinou no silêncio.

Embora a sombra da memória
persista em criar
elementos que empatam
o crescimento do muro.

Penso
que o muro cansado cansou-se do verde.
Agora
mais que em tempo
o muro precisa de uma cor,
cor viva
que corra como o vermelho do sangue
uma cor com sabor alegre e livre
como a cor da papoula.

Para que o muro não caia
Para que o muro não morra.

Urge que se mudem as cores
porque o muro
fartou-se do verde.

Publicado em O Jornal de 28 de Maio de 1967.

O Negro no Amazonas

Profa. Arlete Anchieta (CDB/FOPAAM)
Foto: Maurílio Sayão.
No primeiro dia da Semana da Consciência Negra da Uninorte, a coordenadora geral do Fórum Permanente dos Afro-Descendentes, Profa. Arlete Anchieta, proferiu uma palestra sobre o movimento negro no Amazonas.
A palestra inicia-se homenageando uma figura conhecida aqui nesse blog, o intelectual e militante negro Nestor José Soeiro do Nascimento (1947-2003). Um dos pioneiros do movimento negro no estado do Amazonas, hoje quase esquecido pela maioria da população. Fundou a primeira entidade política negra local que se tem notícia, o Movimento Alma Negra (MOAN) no final dos anos 60.
Nestor José Soeiro Nascimento
Foto: Clóvis Eugênio/ Arquivo Em Tempo.
Muitos não viam necessidade em um movimento negro no Amazonas, onde a presença negra é quase mínima. Mas isso é um mito: a historiografia amazonense local tem combatido essa lenda criada pelos historiadores tradicionais, demonstrando o peso da escravidão africana na região. Arlete nos apresenta então um pequeno histórico sobre esta instituição no Amazonas: a origem dos escravizados, as rotas que seguiam para chegar na província, as ocupações em que eram empregados etc.
A presença negra tem um espaço todo seu na cultura amazônica e ele não é pequeno. A professora nos lembrou da origem negra da festa mais popular do Amazonas: o Boi Bumbá. Além disso, mencionou outras tantas manifestações culturais como a capoeira, o tambor de Mina, o samba etc. Não só manifestações culturais como também personagens conhecidos como a mãe-de-santo de São Jorge Joana Galante, o capoeirista Mestre Vermelho, o ex-secretário de saúde Henrique Mello e o famoso governador dos tempos da Belle Epóque Eduardo Ribeiro, dentre outros.
Vista panorâmica da Praça 14 nos anos 70
Foto: Cassius da Silva Fonseca.
A presença negra também se configura no traçado urbano de Manaus: os tradicionais bairros negros como Praça 14 de Janeiro, Seringal-Mirim (hoje Nossa Senhora das Graças), Morro da Liberdade, São Jorge etc. Hoje, estes bairros deixaram de ser redutos exclusivamente da cultura negra. A própria cultura negra está se irradiando por outros bairros como o Zumbi, Cidade Nova, Japiim, de história mais recente.
Logo, podemos concluir que a presença negra não é tão mínima assim quanto se imaginava. O objetivo do movimento negro é justamente trabalhar esta identidade, no sentido de valorizá-la. Enquanto a história oficial inculcou na cabeça de toda a população que não há quase negros no Amazonas, o movimento negro aqui tem o dever de contestar isso através não só de uma revisão historiográfica como também de ações que reafirmam a identidade negra.
E nesse tópico, a Profa. Arlete começa a falar dos movimentos negros no estado:
-Movimento Alma Negra (MOAN) fundado por Nestor Nascimento em meados dos anos 60 e sendo extinto alguns anos depois;
-Movimento Orgulho Negro (MON), criado nos anos 80 por antigos militantes do MOAN e moradores da Praça 14, que nos anos 90 se transformaria em Associação do Movimento Orgulho Negro do Amazonas (AMONAM);
-Movimento Afro-Descendente do Amazonas (AFROAMAZONAS), criado em fins de 2006, para reunir as lideranças dos demais movimentos negros da região, principalmente para divulgar suas opiniões.
-Fórum Permanente de Afro-Descendentes do Amazonas (FOPAAM), fundado em 2000 para congregar as demais entidades negras em seu bojo. Instituição da qual a professora Arlete Anchieta faz parte na condição de coordenadora geral.
O FOPAAM tem uma ligação com mães e pais de santo, mestres de capoeira, cantores de hip-hop e até quilombolas do Amazonas. Sim, no Amazonas existem quilombos (ao todo 15 comunidades), mas a professora mencionou o caso específico da comunidade de Novo Ayrão, onde o FOPAAM vem acompanhando todo o seu processo de legalização.
O próximo tópico da palestra foram as polêmicas políticas de ação afirmativa como as cotas raciais nas universidades, a legalização dos quilombos, o Estatuto da Igualdade Racial e o ensino de História da África nas salas de aula, por exemplo. Segundo a professora, a intenção não é revanchismo, mas tentar equilibrar uma condição social imposta por 300 anos de escravidão: a marginalização do negro. O preconceito é apenas um dos obstáculos que o negro brasileiro tem de enfrentar para poder ascender socialmente: entre os demais estão a falta de uma educação de qualidade e a baixa renda nos empregos. São medidas para afetar esse status quo.

Enfim, como vocês podem perceber, foi uma palestra muito proveitosa e esclarecedora. O estilo descontraído da Profa. Arlete também ajuda e muito que todos se interessem mais por esse tema. Ao meu ver, a Semana de Consciência Negra não poderia ter começado melhor.

sábado, 19 de novembro de 2011

VIII SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA - UNINORTE

Aqui está (com um certo atraso) a programação da oitava Semana da Consciência Negra, cujo tema deste ano será A Presença da Cultura Negra no Brasil e na Amazônia, promovida pelo curso de História da Uninorte:

Foto: Maurílio Sayão.


Dia 16

18h30mim
Abertura com ritual africano
William Daniel (Grupo Zimbábue)

19h30min
Palavras da Coordenação do Curso
Profa. Msc. Elisângela Socorro Maciel

19h10min
As Ideologias Afro-Brasileiras
(encenação com alunos e egressos do curso)

20h
Palestra: Movimentos negros no Amazonas
Profa. Msc. Arlete Anchieta (CDB/FOPAAM)

21h
Debate

22h
Encerramento
__________


Dia 17

18h30min
Abertura com dança
Grupo Zimbábue

19h
Negros em Movimento: a luta da memória contra o esquecimento
Documentário produzido por:
Prof. Msc. Arcângelo da Silva Ferreira, Antônio Everton Andrade, Francisca Anália Silva, Maria Lucirlei Barbosa, Maurílio Sayão e Vinicius Alves do Amaral.

19h30min
Debate

19h50min
Palestra: Resistência Escrava Política da Escravidão e Precarização da Liberdade no Amazonas Imperial
Prof. Ygor Olinto Rocha (UFAM)

20h50min
Debate

21h20min
Apresentação do projeto Faculdade no Meu Terreiro
Prof. Esp. Maurício Aurélio Couto Marques, Heberson Cardoso, Náira Pthera Fonseca de Souza e Washington Philipi Correa Barbosa.

22h
Encerramento
___________


Dia 18

18h30min
Abertura: apresentação de capoeira

19h
Palestra: Encantaria
Pai Jean Karlos Lima Nascimento

20h
Palestra: Encantaria na Amazônia
Prof. Marlon Seabra

20h50min
Atrações musicais: discentes do curso de Licenciatura em História
Miquéias William, Eusimar Fernandes e Franciley Jibson.

22h
Encerramento

Foto: Maurílio Sayão.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Senghor

O texto abaixo é apenas um fragmento de um ensaio escrito por Ieda Machado Ribeiro dos Santos para o site do movimento literário Quilombhoje. O texto na íntegra pode ser encontrado aqui.

LEOPOLD SÉDAR SENGHOR
(1906-2001)

Ieda Machado Ribeiro dos Santos

Introdução
Certo dia, eu saía para trabalhar quando a vizinha me chamou:

— Espere, Ieda. O Dr. Fulano vai para o Campo Grande e pode lhe dar uma carona.

O Dr. Fulano era um senhor grisalho, muito cheio de mesuras e gentilezas.

— Professora, estou encantado em conhecê-la. Soube que a senhora sabe tudo sobre a África.

— Ninguém sabe tudo sobre nenhum assunto — retruquei.

Mas ele não deu nenhuma importância à minha interrupção porque, de fato, aquilo era um mero preâmbulo à cretinice que veio logo em seguida.

— Já que a senhora sabe tudo sobre a África, não acha que, sendo o cérebro do negro comprovadamente menor do que o do branco, ele é, naturalmente, menos inteligente?

Confesso que me senti tão irritada quanto vocês estão se sentindo agora, ao ler esta idiotice. Mas parece que o velho Oxalá jogou o seu alá sobre mim e eu permaneci bastante calma, respondendo com outra pergunta:

— O senhor já ouviu falar em Léopold Senghor?

— Não, nunca ouvi.

Então eu comecei a falar sobre Léopold Sédar Senghor, africano, filho de pai e mãe africanos (porque se for mestiço eles dizem que a inteligência vem do lado branco). Contei como Senghor, muito jovem, lecionou francês, na França, aos franceses. Que ele era membro da Academia Francesa de Letras, vencendo todos os escritores franceses que competiram com ele. Que ele era traduzido para o alemão, o japonês, o inglês e até para o português. Que ele era Doutor em Honoris Causa em mais de 20 Universidades do mundo inteiro, que havia ganho mais de 15 prêmios internacionais de poesia... E, como se tudo isso não bastasse, era um grande estadista, respeitado no mundo inteiro.

Chegando ao nosso destino, mais ou menos uns dez minutos depois, o Dr. Fulano admitiu:

— A senhora me convenceu.

Ao que respondi, com ironia:

— E com um crioulo só.

Gosto de contar essa história como demonstrativo da fragilidade do racismo e também de que, às vezes, uma argumentação tranqüila e bem fundamentada funciona melhor do que nossos gritos de cólera, embora essa cólera seja mais que justificada.

Mas, quando começo a escrever sobre Senghor, vejo que toda a sua vida foi exatamente isto: negar, e não apenas para os brancos, como querem os seus inimigos, mas para os próprios negros, principalmente os negros da diáspora, quanta falácia foi escrita e "cientificamente comprovada" sobre nossa inferioridade intelectual, sobre não termos História, Civilização ou Cultura. (...)


Consciência Negra

SOU NEGRO
Solano Trindade
(1908-1974)

A Dione Silva

Sou Negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh'alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e agogôs

Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço plantaram cana pro senhor do engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu.

Depois meu avô brigou como um danado nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso

Mesmo vovó não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou

Na minh'alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio

e o desejo de libertação...

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Falam dele, mas quem fala não tem razão?


"Nosso Mussolini", esse foi o apelido que o general Newton Cruz recebeu da midia. Também não era para menos. O próprio Newton Cruz reconheceu, em entrevista recente á Geneton Moraes Neto, que sempre foi muito esquentado. Numa das coletivas de imprensa, o então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) perde a cabeça com as perguntas feitas por um repórter. O jornalista relata que teria sido agredido, o que enfurece Cruz que vai pegá-lo no braço para que peça desculpas na frente de todo mundo.
Bem, não preciso descrever muito. O vídeo acima mostra muito bem como tudo aconteceu.
Isso explica porque Newton Cruz se tornou uma figura tão folclórica. Episódios como esse não eram raros com esse general linha-dura. O criador do SNI, general Golbery do Couto e Silva, gostava da competência dele, mas sempre ressaltava que seu temperamento punha quase sempre tudo a perder.
Newton Cruz também ficou associado á ditadura militar. A intolerância com que tratava os repórteres se tornou uma espécie de símbolo da censura á imprensa impsota pelo regime. Tanto que sua exoneração é uma das primeiras medidas tomadas pelo Comando do Exército após o fim da ditadura: o objetivo era apagar tudo aquilo que pudesse lembrar o que veio antes de 1985 e depois de 1964.
Essa atitude tomada pelo Estado Maior do Exército para que houvesse uma abertura á democracia sem maiores atritos, como se pode imaginar, teve um peso muito grande para Cruz que na entrevista mencionada antes afirma que guarda uma mágoa sem tamanho contra o general Leônidas Pires Gonçalves, que acredita ser o responsável por "fazer a cabeça" do Estado Maior.
Esta entrevista, concedida em 2010, é muito importante, ao meu ver, não só porque revela alguns pontos omitidos pelos dados oficiais (como um possível atentado da linha dura, nas proporções do Riocentro, e a proposta indecente feita pelo então candidato á presidência Paulo Maluf ao general para "dar sumiço" em Tancredo), mas porque também procura enxergar Newton Cruz além desses estereótipos construídos por suas ações e em parte pela mídia.
Aliás, a entrevista parece toda construída em cima dessa proposta: o entrevistado tentando desconstruir os mitos ao seu respeito. A todo momento, Newton Cruz tenta deixar de ser o "nosso Mussolini". Acaba que em alguns momentos ele reitera isso, com alguns arroubos de truculência. Fora isso, Newton Cruz, já aos 80 anos, demonstra ser apenas um senhor muito falador e arraigado na doutrina anticomunista. No final, cantando a música "Falam de mim/ mas quem fala não tem razão", reitera esse desejo de esclarecer que é um homem incompreendido, cuja fama, que não dizia respeito á realidade, teria o prejudicado. A pergunta que fica é: será?

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Novidades

A equipe na ilha de edição: Maria Lucirlei Barbosa, Maurílio Freitas Sayão, Francisca Anália Ferreira Silva e eu. No computador, Edson Egas.
Foto: Maurílio Sayão.
Os leitores frequentes desse blog (se por acaso ele tiver alguns) devem estar se perguntando por que a demora em novas atualizações. O motivo vem a ser meu envolvimento com o projeto de extensão da faculdade sobre alteridade e diversidade na Amazônia Brasileira. Nosso projeto está em uma fase muito interessante e agitada: estamos construindo um pequeno vídeo sobre o movimento negro no Amazonas.
O pretenso documentário será exibido na VIII Semana de Consciência Negra do Departamento de História da Uninorte, entre os dias 16 e 18 desse mês.
Estamos muito cansados por conta da carga de material que coletamos e agora estamos editando, no entanto, também estamos muito ansiosos para vermos o produto pronto e a recepção do nosso público. Ficamos um pouco triste, pois tivemos que retirar muita coisa importante por conta do tempo, mas pretendemos fazer futuramente um documentário que englobe mais discussões e mais fontes.

Período Populista: alguns conceitos

No esquema de hoje vamos esclarecer alguns pontos:

ECONOMIA
Desde o fim dos anos 30, duas correntes econômicas passaram a dominar as políticas econômicas dos governos. A primeira defende que o Estado intervenha na economia protegendo os interesses nacionais. A segunda acredita que o Estado não deve interferir na economia, mas incentivar a entrada do capital estrangeiro no país. São conhecidas, respectivamente, como protecionismo e liberalismo.
Aos poucos foram ganhando outros apelidos: desenvolvimentismo e entreguismo.
Charge sobre o Plano de Metas de JK.
Vargas era o maior exemplo de governo protecionista. Grandes ações nesse sentido do seu segundo governo foram a criação da Petrobrás e a lei de remessa de lucros, que propunha que 1/3 dos lucros das empresas estrangeiras instaladas no Brasil fosse remetido ao estado nacional. Jango tinha um projeto parecido, mas não pode aplicá-lo como pretendia, pois estava mais preocupado em sanar a inflação que vinha atordoando o país.
Já o governo do Marechal Dutra adotou uma política mais "entreguista", pedindo ajuda econômica do FMI para financiar um projeto de incentivo á melhorias em várias esferas da vida pública nacional (como o transporte público, os postos de saúde, as escolas, etc.) Esse projeto ficou conhecido como SALTE e foi um grande fracasso: houve desvio de verbas e na prática a burocracia emperrou muitas das medidas previstas.
Um destaque especial vai para o governo de Juscelino Kubiscthek que adotou um misto dessas duas correntes em seu Plano de Metas. A idéia era desenvolver o país (50 anos em 5) através da união do capital privado (empresas brasileiras), estatal (empresas públicas nacionais) e estrangeiro (multinacionais e o FMI). Claro que as empresas privadas, principalmente de construção civil, foram privilegiadas pelo projeto de construção de Brasília e de rodovias pelo país inteiro. Mas a entrada de fábricas de produtos automobilísticos ganhou muitos incentivos fiscais e lucrou com uma mão-de-obra pouco especializada.
O detalhe é que o empréstimo pedido ao FMI aumentou a dívida externa, que já havia sido aumentada por Dutra e não foi resolvida por Vargas. É o começo de um processo de inflação que duraria quase 10 anos.
Por isso, a política econômica dos governos de Jânio e Jango é quase inexpressiva. O que eles tentavam fazer era basicamente acabar com essa crise. A inflação só é acalmada no governo militar, com os planos de Roberto Campos (um economista liberal).
O governo militar, de certa forma, imitou um pouco a política econômica de JK: fortaleceu as empresas estatais e protegeu os industriais nacionais, mas ao mesmo tempo incentivou a entrada de mais multinacionais no país e contraiu um empréstimo gigantesco com o FMI para patrocinar as obras faraônicas do governo Médici (a Transamazônica, por exemplo). O resultado foi uma nova inflação que se agravou com a crise do Petróleo em 1974. A dívida externa continuou fazendo o Brasil tremer. A inflação só foi controlada já nos anos 90 com o Plano Real.
Concluindo, do ponto de vista econômico o período populista foi um caos. Se formos pensar bem, de 1945 á 2000 o Brasil experimentou oscilações entre momentos críticos e momentos menos críticos na economia - a inflação foi o grande monstro, foi o que assustou e hoje continua a assustar, mas nem tanto, o brasileiro.
Um ponto interessante é a ideologia nacional-desenvolvimentista que surgiu a partir da década de 1950 e reuniu intelectuais dos mais diversos posicionamentos (desde pensadores liberais como Hélio Jaguaribe até o marxista ortodoxo Nelson Werneck Sodré). Tinha por objetivo entender o subdesenvolvimento brasileiro e propor alternativas para superá-lo, assim tornando o Brasil um país "avançado". A maioria destes pensadores se reuniram no Instituto de Estudos Brasileiros (ISEB), que teve uma vida relativamente curta.
Só para não fundirmos a cuca, vejamos abaixo os goveros e suas respectivas políticas economicas desse período:
Dutra (1946-1950) - SALTE
Vargas (1951-1954) - não há um projeto em específico
JK (1955-1959) - Plano de Metas
Jãnio Quadros (1961)
Parlamentarismo - Tancredo Neves, Hermes Lima e Brochado da Rocha (1961-1963)
Jango (1963-1964) - Planos Trienais

POLÍTICA
Os partidos políticos criados por Vargas, como vimos, foram dois instrumentos para angariar votos: um no povo e outro na elite. Vargas criou uma máquina para se sustentar no poder. Ao se apoiar em vários setores da sociedade para poder governa ele criou o que Boris Fausto chama de Estado de Compromisso: quase todos os grupos sociais estão ligados á ele. No seu primeiro governo ele já fazia isso, mas foi após 1945 que essa política se reforçou, pois a democracia exigia novos métodos.
Charge: o encontro entre Brizola, Vargas e Jango.
Já comentamos aqui que a sombra de Vargas parece pairar em todo esse período. O motivo é simples: ele criou essa máquina eleitoral. PTB e PSD eram os maiores partidos nacionais: um tinha amplo apoio popular e outro apoio dos "donos do poder". A UDN tentava quebrar essa lógica por meio de fortes ataques á estes partidos, mas perceberam que sua força era muito grande, por isso procuraram seus própios aliados e os encontraram no meio das Forças Armadas, onde o nacionalismo se unia lentamente ao anti-comunismo.
A UDN conseguiu quebrar essa lógica e de forma democrática em 1960 com a eleição de Jânio Quadros, um político paulista que tinha a simpatia popular e não simpatizava com o trabalhismo. Essa foi a primeira vez que um presidente do partido da oposição ganhou as eleições com milhões de votos.
A posse de Jango foi fruto do sistema de voto desvinculado, uma herança da República Velha. Jango era popular, sua pessoa era muito ligada á imagem de Vargas. No entanto, tanto a esquerda como a direita não gostavam dele. Isso porque Jango era um estancieiro gaúcho que tinha aprendido com Vargas a arte de manipular interesses. Jango se apoiava em todos os grupos sociais que lhe aparecesse não só porque temia ser deposto, mas porque queria implantar um Estado de Compromisso. Uma ditadura? Creio que não. As mudanças que Jango pretendia fazer na Constituição diziam respeito á reeleição e a questão de nenhum parente do presidente poder se candidatar ao cargo (afinal, Leonel Brizola poderia ser um ótimo herdeiro político seu, embora fosse seu cunhado).
Boa parte da esquerda brasileira conseguia ver as estratégias políticas de Jango para continuar com seu projeto político, por isso desconfiavam de suas atitudes. Todos sabiam que ele não era comunista. Prestes tinha total consciência disso, mas decidiu apoiá-lo para acatar aquele projeto de revolução por etapas (primeiro a burguesa e depois a comunista) que o stalinismo tinha difundido pelos PCs pelo mundo.
As medidas de Jango (as discussões sobre as reformas de base, principalmente) eram um meio de conquistar mais apoio, por isso se acentuaram em momentos em que parecia que a UDN estava a um passo de conseguir sua renúncia. A reforma agrária proposta po Jango não era total, mas seletiva. Ela buscava contornar o problema central, o poder do latifúndio, assim como o fez o INCRA no regime militar: enquanto o projeto da ditadura de reforma agrária consistia em mandar lavradores para se ocupar regiões da Amazônia, o projeto de Jango pretendia começar distribuindo terras devolutas (como as no entorno das rodovias) á alguns camponeses.
A força de Vargas estava nos grandes centros urbanos, entre os trabalhadores e a classe média. O campo durante boa parte de seus governos manteve-se inalterado. O motivo pode ser encontrado no grande número de latifundiários que integravam os quadros do PSD e do PTB (ora, o próprio Vargas e Jango eram estancieiros). A reforma agrária foi adiada também no governo de JK, cujo alvo principal de sua política de industrialização se encontrou nas grandes cidades do Sudeste do país, como São Paulo. Jango recorreu á reforma agrária como instrumento político, mas já era tarde.
O populismo é um meio de manipular as massas, esse novo personagem que passa a ter cada vez mais poder com o fim do século XIX. Na República Velha, o povo ficava bem longe do aparato político, por isso muitos a chamam de República das Oligarquias. Com Vargas, as massas passam a ter mais poder, mas um poder limitado pelo controle do Estado. Não é a toa que os estádios de futebol ficavam cheios diante de algums discurso de Vargas no dia do trabalho. De 1945 em diante, as massas continuam sendo manipuladas, vez ou outra representadas, mas majoritamente manipuladas.
Interessante é enxergamos como esse foi um período tenso, onde experimentamos um sopro de democracia constantemente ameaçado com golpes e revoltas. É um período expremido entre duas ditaduras.

CULTURA
Este período é encarado como um dos mais efervescentes culturalmente. Existe aqui um aprofundamento das propostas modernistas de criar uma arte autenticamente brasileiras, principalmente na música. Os anos 50 são tidos como os "anos Bossa Nova", momento em que este estilo musical, surgido da reunião do samba com gêneros musicais norte-americanos como o jazz, aparece nos discos de João Gilberto e nas letras de Vinícius de Moraes e Tom Jobim. O samba, até então marginalizado pela sua origem social (era feito em sua maioria pelo pessoal dos morros, das favelas), era reinventado e valorizado.
Esse interesse pelo samba reflete uma tendência presente na maioria dos intelectuais brasileiros: um interesse suscitado tanto pelo flerte com os movimentos de esquerda como pelo namoro com as propostas modernistas. Nos anos 60, tenta-se recuperar uma cultura popular, em contraposição á cultura erudita, marca da burguesia. É nessa conturbada década que surge a iniciativa dos Centros Popular de Cultura (CPC). Em parte, iniciativa do movimento estudantil e de líderes da esquerda brasileira.

O ator Oduvaldo Vianna Filho, um dos maiores membros dos CPCs.
No entanto, buscava-se não preservar a cultura popular, mas transformá-la em um instrumento político para atingir o povo e conclamá-lo á luta. Muitos dos entusiastas dos CPCs, como Ferreira Gullar, anos depois reconheceriam que apesar da proposta revolucionária, adotaram uma política autoritária ao descartarem tudo aquilo que não parecesse engajado.
O jornalista amazonense Narciso Lobo lembra que nesses anos cultura e política eram categorias quase intrínsecas. Podemos estender essa afirmação á todo o período populista, uma vez que a política adquiriu um status importante em nosso país através das lutas entre o trabalhismo e seus detratores, com uma pequena ressalva: claro que nos anos 60 tudo se acirra, se radicaliza mais. Afinal, basta nos lembrarmos do papel do Festival Folclórico de Manaus, de como esse evento foi palco de manifestações culturais e de articulações políticas.