terça-feira, 27 de outubro de 2009

Bárbarie


O escritor argentino Domingos Sarmiento ficou conhecido, na literatura latino-americana, pelo livro Facundo. Nada mais é o livro senão a história de um caudilho, espécie de chefe regional que controlava a vida local. Por retrata a história de Juan Facundo Quiroga, figura histórica real, o romance virou, para muitos, não só um grande exemplar da literatura latino-americana,mas também crônica de um capítulo de sua história.
E esse capítulo se chama caudilhismo, mas poderia se chamar coronelismo ou caciquismo e por aí vai. A palavra caudilho, na origem, designa um chefe político e econômico regional da região do Prata. O maior exemplo de caudilho, com certeza, é o argentino Juan Manuel Rosas. Rosas dominava os pampas da Argentina com mãos de ferro, mas também usava do velho e bom paternalismo ou clientelismo, se preferirem.
Os caudilhos proliferaram na região após as guerras de independência; sem o poder colonial, eles estavam livres para dominarem onde quer que quisessem dominar. A maioria era de militares que atuaram nas guerras e que possuiam muitos latifúndios, ou seja, tinham o status e a riqueza necessário para tanto.
A América dos caudilhos não está muito longe de nós: a figura do coronel, do chefe local, está enraizada também em nossa literatura, dramaturgia e em nossa mentalidade. E a América dos caudilhos precisa ser estudada e analisada, não pela emergência de líderes latino-americanos que meio-mundo chama de novos caudilhos e a outra metade de neo-populistas, mas porque eles demonstram a dificuldade da construção da democracia em nosso continente. Estamos falando de uma população que passou anos sobre o jugo das potências européias e que quando se viu finalmente livre estava numa situação de pobreza e anarquia, á mercê dos líderes autoritários. Esse período da formação da nossa identidade é muito importante, pois nele houve um embate entre o ideal de modernização que se queria implantar aqui (muitas vezes a República nos moldes dos EUA ou da Europa) e a situação real dos países (pobres e comandados por líderes autoritários).

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