quinta-feira, 29 de abril de 2010

A cidade de Manaus

Muito se tem falado sobre as transformações urbanas porque Manaus passou na passagem do século XIX ao XX que a transformou na Paris dos Trópicos, mas pouco se sabe sobre a construção do espaço urbano manauara antes.
Alguns estudos tem tentado ampliar a história da cidade nesse aspecto, mas eles esbarram com um problema muito marcante: primeiro, a escassez de fontes sobre o período (uma vez que não foram preservadas devidamente).
No entanto, isso não impediu que se produzissem bons estudos sobre o tema (centrados na literatura dos viajantes e memorialistas da região).
Maria Luiza Ugarte menciona que a cidade foi revitalizada na passagem do século XVIII pelo governador Tenreiro Aranha. Na verdade, não foi bem uma revitalização, mas uma expansão controlada ao longo do rio. No entanto, no século XIX essa expansão foi se descontrolando.
Os viajantes do século retrasado ficaram espantados com o traçado urbano de Manaus. Elisabeth Agassiz menciona sobrados ao lado de taperas, ruas semi-pavimentadas ao lado de igarapés. Ou seja, a topografia era ainda muito primitiva em comparação ás cidades européias que esses viajantes tinham como referencial.
Então vem o ciclo da borracha e a partir daqui todos nós sabemos o que aconteceu com a cidade de Manaus. A cidade passa a ser planejada e remodelada com base na arquitetura moderna. O objetivo era construir uma metrópole no meio da selva. Edinéia Mascarenha Morais demonstra como esse processo de urbanização privilegiou a elite manauara e as casas comerciais estrangeiras (principalmente o seu ponto de escoamento, o porto) e modifcou todo o modo de vida das populações marginais, porque essa urbanização não impunha somente novos padrões arquitetônicos, mas costumes também. Banhos de igarapé, carroças, galinheiros no quintal, tudo isso foi condenado e perseguido, mas conseguiu sobreviver em parte no cotidiano dos manauaras.
Depois, a decadência da borracha e com ela a decadência urbana também. Manaus vive tempos de escassez e de um pretenso conservadorismo. A cidade não cresce mais e os serviços começam a entrar em colapso. Tempos difíceis eram esses até a chegada da Zona Franca em meados da década de 1960. Novamente aqui a urbanização foi conduzida pelo capital, agora mais pelo capital estrangeiro (das multinacionais) que das falidas elites locais. Nova expansão urbana, expansão de periferias é claro. A cidade não foi revitalizada estruturalmente o que se torna e é até hoje um de seus maiores problemas, pois ela não consegue absorver os serviços e fluxo de pessoas e capital com uma estrutura urbana da Belle Epoque.

O mito

Ainda naquela nossa tentativa de entender o conhecimento, hoje passamos para um dos modos de conhecer mais famosos da humanidade: o mito.
O mito é a primeira tentativa de entender o mundo, no entanto, sua função não é só essa. O mito dá uma certa segurança para o ser humano na medida em que confere ao mundo um sentido e a possibilidade de manipular os fenômenos da natureza (a magia). O mito também serve como legitimador da ordem social, criando explicações para certas práticas e tabus.
Podemos pensar que o mito acabou com os gregos ou com os índios, mas estamos muito enganados. Ainda existem mitos na tv, na literatura e na própria vida cotidiana. Ao contrário do que o iluminismo e o cientificismo do século XIX nos fizeram acreditar, o mito não está ligado á sociedade primitivas. O mito, sabemos hoje graças ao esforço de muitos pesquisadores e pensadores, é uma dimensão da própria alma do homem, sendo, portanto, existente em todos os tipos de cultura e em todos os momentos da história.

domingo, 25 de abril de 2010

Nativismo e História


Félix Guisard Filho (1890-1964) é um dos nomes mais importantes da historiografia taubateana. Graças a sua preocupação em recolher documentos sobre a história da cidade que hoje desfrutamos do rico acervo do Arquivo Municipal.
Guisard Filho foi um dos primeiros herdeiros do casal Felix Guisard e Jeanne Rosand. Sua educação primária se deu num colégio interno jesuíta de Itu e se formou em Medicina na faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Exerceu sua profissão em Taubaté por determinado tempo, mas se notabilizou como gerente da indústria de seu pai, a C.T.I. É lembrado também pela sua atuação á frente da prefeitura municipal nos anos de 1930 e 1940.
O que motivou Guisard Filho a escrever sobre a história de Taubaté? Na certa o seu ufanismo pela sua terra. Nessa época Taubaté estava sofrendo um novo surto de crescimento graças á urbanização e a industrialização, era uma época de euforia, na qual era preciso recuperar as raízes históricas do povo taubateano para explicar tal sucesso e para explicar porque Taubaté é uma cidade que merece respeito das demais cidades.
Praticamente o mesmo acontecia em São Paulo. O crescimento da cidade e a criação, gradativamente, de um projeto de hegemonia na política nacional (que irá se viabilizar com o Café-com-Leite) favoreceu uma onda de estudos sobre as personalidades históricas e a formação de S.Paulo. Em Taubaté, esse projeto político é mais limitado, refere-se somente ao Vale do Paraíba.
Guisard Filho então entra na pesquisa histórica, a exemplo de outros historiadores paulistas como Afonso de Taunay, conhecido como o historiador dos bandeirantes, (com o qual inclusive trocou correspondências) e ressuscita a fundação da vila de Taubaté pelo bandeirante Jacques Félix, relembra os nomes ilustres do Bispo Rodovalho e do Bispo José Pereira Silva Barros, além de publicar os inventários que achou em sua pesquisa.
Nessa época imperava no Brasil uma visão de história como a compilação de fatos e acontecimentos de feitos de grandes figuras e do fetiche pelos documentos. Os documentos eram assimilados sem nenhuma crítica, muitos trabalhos só se restringiajm á enumerar fatos, outros os usavam como argumentos para alguma posição política. Guisard Filho não podia fugir a regra; como vimos, sua história privilegia figuras ilustres e não faz muitas críticas ás fontes, limitando-se á copiá-las muitas vezes.
No entanto, devemos reconhecer que seu trabalho foi de suma importância, pois representa um dos primeiros impulsos á pesquisa histórica da região. Graças á sua preocupação com a cidade que acolheu sua família, o que o motivou a entrar na pesquisa histórica, Guisard Filho preservou documentos preciosos, sem os quais não poderiam existir os trabalhos atuais que tentam ver além dessa história do começo do século passado. Sem o trabalho de coleta de fontes e identificação dos documentos que ele iniciou a história de Taubaté não teria essa rica fonte de dados para pesquisa histórica que temos hoje.

A historiografia manauara

Documentos históricos sobre a Amazônia, e especialmente sobre Manaus, não faltam.
Basta lembramos do relato do padre Cristóbal de Acuna que acompanhou a viagem do conquistador portugues Pedro Teixeira ou mesmo do jesuíta alemão Samuel Fritz e suas aventuras pela Amazônia portuguesa. Mas quando se fala de uma historiografia acadêmica sobre o Amazonas e sobre Manaus, os nomes são poucos.
Temos na metade do século XIX os pioneiros dos estudos históricos na região. Gente como Agnello Bittencourt ou João Nogueira da Matta. Não são obras de especialistas, a maioria se tratava de políticos ou profissionais liberais. Não se podia esperar mais que isso, afinal, a História estava dando seus primeiros passos no Brasil através desses homens. Um Capistrano de Abreu era coisa rara.
Essa historiografia (meio encomiástica, política e memorialista- principalmente após o ciclo da borracha) que se estende até as primeiras décadas do século XX preparou o terreno para os estudiosos que veriam a seguir. Bem ou mal, elas serão a base para a construção de novos paradigmas nas gerações posteriores.
No entanto, essa nova geração demorou um pouco para se formar. Em grande parte pelo desenvolvimento tardio das universidades locais (depois de fechada a primeira universidade de Manaus em 1926, só se verá um ambiente acadêmico adequado de novo em meados da década de 1970). No entanto, ela se formou e hoje já tem o seu paradigma: a busca pelo povo na história local, ou seja, a entrada na História Social. É uma história que passa a adotar também uma análise crítica não só das fontes como também do processo histórico amazonense. Nesses sentidos, podemos apontar como membros dessa geração os nomes de Márcio Souza, Edineia Mascarenha Morais, Maria Luiza Ugarte e Robério Braga, dentre outros. E, contrariando o espaço limitado de discussão e divulgação do trabalho científico, bem como da própria pesquisa, esses "heróis da resistência" vem expandindo cada vez mais a sua área de alcance.

O cinema segundo Meliés


Georges Meliés (1838-1938) foi um ilusionista francês, um homem envolvido com o entretenimento. Quando ele assistiu, por curiosidade, a apresentação da invenção dos irmãos Lumière, especialmente aquela famosa passagem quando o trem vem em direção á platéia e todos correm, percebeu que essa geringonça chamada cinematográfo tinha futuro no seu ramo.
Meliés tentou comprá-la de Lumière, mas o inventor disse que essa máquina era para estudar a ciência dos movimentos e que nunca teria futuro no entretenimento. Meliés estava convencido do contrário. Algum tempo depois, o cinematográfo era sensaçaõ e Meliés adquiriu um. Com esse aparelho ele fez inúmeros filmes cheios de "efeitos especiais" como degolações, viagens á lua, fantasmas e muito mais.
Arlindo Machado, em seu livro Pré-cinemas e Pós-cinemas, faz uma comparação entre o cinema e o mito da caverna de Platão. Platão dizia: suponhamos que uns homens fossem acorrentados numa caverna desde pequenos de maneira que só pudessem ver as sombras se projetando na parede. Alguém faz um teatro de sombras com uma vela. E assim esses homens crescerão pensando que o que vêem, essas sombras, são reais, quando na verdade são uma ilusão. E se alguém chegar e os libertar de suas correntes eles não acreditarão que existe um mundo além da caverna e terão até vontade de voltarem para ela.
Segundo Machado, o cinema, nos seus primeiros anos, era uma espécie de caverna, e ele só cresceu porque as pessoas gostam de entrar na caverna de vez em quando, elas gostam de se iludir, de se divertir com coisas surreais que parecem possíveis no cinema, e Georges Meliés foi um dos homens que levou essa idéia á diante com seus bem-humorados filmes. Se o cinema se tornou hoje uma indústria de ilusões, um ramo do entretenimento, um de seus pioneiros, com certeza, foi esse ilusionista francês.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Mensagem

Finalmente voltei ao nosso blog. Mas agora falo de Manaus e não mais de Taubaté. Essa não foi a única mudança que afetará o blog. Faz tempo que tenho pensado em dinamizar esse blog, mas não a ponto de estilizá-lo completamente, correndo o risco dele se tornar um pavão. Conclui que a melhor dinâmica teria de começar pelo próprio conteúdo, então, pretendo, a partir de agora, mudar um pouco o cárater desses posts. Eles continuaram a versar sobre História, mas de uma maneira mais descontraída, menos sisuda e formal. Só não posso prometer nada sobre o tamanho deles, pois, quando começo a falar ou mesmo escrever me perco no tempo e espaço.

Bem, é isso. Espero que gostem.
Abraços.

História do Brasil de Murilo Mendes

Homos Brasiliense


O homem é o único animal que aposta no Jogo do Bicho.





O livro História do Brasil (1932) de Murilo Mendes tem essa e muitas outras sacadas geniais. São piadas em forma de poemas que brincam não só com a História do país, mas principalmente com a política da época. Num todo são uma espécie de retrato bem-humorado e irônico do Brasil.


Murilo Mendes é um poeta mineiro da primeira onda modernista que produzia uma poesia surrealista e, após a sua conversão ao catolicismo, mística. Recentemente os livros de literatura nacional tem tentado tirar a figura de Murilo do esquecimento, colocado lá pela impopularidade de sua poesia.

Por estar ligado á essa primeira fase do modernismo, o livro de Murilo possui muita dessas caraterísticas sendo as principais a irreverência, meio iconoclasta, e o humor, ás vezes ingênuo outras ácido. Murilo contesta as visões de nosso heróis, coloca alguns como foliões, ataca nossos políticos pela sua "ideologia" e critica um país que vem tentando ser outro e esquecendo de ser ele mesmo. Ao fim e ao cabo seu livro, bem ao estilo de um samba do crioulo doido, termina com uma espécie de consagração da brasilidade e de nossa "hilária" história numa espécie de festa carnavalesca.

O que é Conhecimento?

O Pensador, Auguste Rodin

Antes de nos enveredarmos pela Teoria da História ou mesmo por qualquer tipo de Epistemologia devemos sempre nos fazer essa pergunta: o que é conhecimento?

Bem, conhecimento pode ser duas coisas: a relação entre um sujeito e um objeto cognoscente e o saber acumulado pelo homem até agora. Vamos nos aprofundar na primeira: que relação é essa? É uma relação na qual o sujeito, o homem, na sua tentativa de tentar entender o mundo (ou qualquer outro objeto) descobre mais informações sobre ele. Essa relação é transformadora tanto pro sujeito (que agora tem um saber) quanto para o objeto (que agora é conhecido e pode ser manipulado).

Existem vários modos de se conhecer, embora por muito tempo tenha se pensado que só um era possível: a ciência. Hoje sabe-se que não é bem assim. O mito, o senso comum, a filosofia, a arte e inclusive a religião também são meio de se conhecer, embora sejam muito diferentes entre si. Por exemplo, a arte nos ajuda a conhecer o íntimo do artista e, especialmente para nós historiadores, o seu tempo.

O conhecimento se manifesta através do pensamento. O pensamento é uma articulação, um encadeamento de idéias e juízos. Essa cadeia de idéias e juízos, quando são muito abstratas, fazem parte de uma linguagem, a verbal. Quando elas são mais concretas, ligadas ao mundo das sensações, se torna, então, uma linguagem não-verbal. Exemplos de uma linguagem verbal e de uma linguagem não-verbal seriam as palavras e as cenas de um filme, respectivamente.

Terminaremos por hoje nossa discussão sobre o conhecimento, mas no decorrer da semana ou do mês continuaremos a expô-la e debatê-la. Aos que quiserem correr atrás sobre o tema recomendo o livro de Maria Vera Lúcia Aranha e Maria Helena Pires Martins, Temas da Filosofia.