terça-feira, 4 de maio de 2010

O Almirante Negro

Nesse ano a rebelião liderada pelo marinheiro João Cândido contra os abusos cometidos pelas autoridades da marinha contra os marinheiros negros, conhecida como a Revolta da Chibata, fará 100 anos.
Em 2008 a Marinha finalmente liberou os arquivos sobre João Cândido, e em março desse ano o presidente Lula finalmente concedeu a anistia ao homem. Isso mesmo: anistia. Vale a pena lembrar que João passou o resto da sua vida como vendedor de peixe na Praça Quinze no Rio, como um desconhecido...
Enquanto preparo um post mais decente para vocês, deixo-os por enquanto com a clássica música de João Bosco e Aldir Blanc, O Mestre Sala dos Mares. Uma curiosidade: eles tiveram que mudar de "almirante" para "navegante" por causa da censura da ditadura militar.
O MESTRE SALA DOS MARES
Aldir Blanc e João Bosco

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas, jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão que a exemplo do feiticeiro gritava então:

Glória aos piratas
As mulatas
As sereias
Glória a farofa
A cachaça
As baleias
Glória a todas as lutas inglórias que atravéz da nossa história não esquecemos jamais
Salve o navegante negro que tem por monumento as pedras pisadas do cais
Mas salve
Salve o navegante negro que tem por monumento as pedras pisadas do cais
Mas faz muito tempo

domingo, 2 de maio de 2010

Primeiro de Maio

Vou aproveitar a data e falar um pouco de como o trabalho vem sendo visto pela sociedade dentro de nossa história.
O trabalho era marginalizado na Grécia, a razão: a escravidão. O trabalho, por estar associado aos escravos, tornou-se algo tido como inferior e menor. Com a Idade Média a concepção de trabalho não muda muito: ainda é mal-visto, mas agora é encarado como um fardo (a maldição bíblica dada á Adão e Eva por terem contrariado as ordens de Deus). Ou seja, tanto na Antiguidade Clássica como na Idade Média o trabalho era menosprezado por estar associado á escravidão e a servidão. Os grupos dirigentes tinham o privilégio do ócio, sua concepção de mundo era fundamentada no ócio e na falta de movimento. Somente com a ascensão da burguesia no começo da Idade Moderna é que o trabalho começa a ser revisitado, uma vez que esse próprio grupo social se sustentava com o trabalho (mercantil e não servil, como aconteceu durante a Alta Idade Média). Com o tempo, ele será valorizado pela burguesia (quando esta tomar o poder com as revoluções) e pelo proletaridado (quando este surgir e se tornar cada vez mais coeso). Gradativamente, o trabalho vai ganhando importância: Locke o estabelece como um dos direitos fundamentais á propriedade, Adam Smith como a verdadeira riqueza das nações e Marx como a expressão essencial do homem.


Se na teoria, o trabalho era valorizado e respeitado, na prática, muitas vezes o mesmo não acontecia. Os primeiros anos da industrialização nos países europeus demonstram muito bem isso: as precárias condições de vida, as jornadas desumanas de trabalho, o trabalho infantil e a insegurança nas fábricas eram quase patentes. Greves, meios dessa nova classe social se manifestar, eram vistas como ações subversivas sendo tratadas como questão de polícia, com o máximo de violência possível. Greves que podem ser vistas, inclusive na iconografia do século XIX e XX (ora, basta lembrar da emblemática cena de Tempos Modernos de Chaplin quando uma manifestação trabalhista é diluída á pancadas). Uma delas, em Chicago, na qual morreram muitos operários. A greve acontecera no dia primeiro de maio de 1886 e os operários franceses fizeram uma greve também no mesmo dia em 1891, em homenagem aos operários americanos mortos. A greve francesa também foi cheia de violência.
Em 1919, o senado francês ratifica uma das reivindicações dos operários (jornada de 8 horas) e proclama como dia do trabalhador o dia primeiro de maio. Foi uma conquista, assim como a jornada de oito horas, os dias de folga, a proibição do trabalho infantil. O reconhecimento do trabalho e do trabalhador, como podemos ver, é um processo histórico e uma conquista. Tivemos um longo caminho até chegar aqui. O dia foi comemorado de diversas maneiras, primeiro como luto, depois como inspiração á luta e finalmente, após o trabalhismo de Vargas, como dia de festa. A nossa concepção atual de primeiro de maio ainda é de dia de festa. Estou criticando sim a falta de reflexão que o dia ganhou, mas não quero com isso dizer que nesse dia seja proibido qualquer tipo de lazer, nada disso, o lazer para o trabalhador é uma conquista que deve ser usufruída, mas não fomentada como um vício. Por que não dedicamos algumas horas de nosso dia para pensar no significado desse dia, do processo histórico e do que conseguimos?