quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A repercussão na botecosfera:

Acabou
a cerveja acabou.

E o mundo?
tá se acabando.

**
Se os maias fossem bom em prever o futuro já teriam ganho a Megasena há muito tempo...
Eles já sumiram
Pra não serem desmascarados!

***
Pra mim o mundo acabou em junho quando Odete saiu de casa... Por quê, Odete? Por quê?


Doismiledois


Em Hollywood o mundo já acabou milhares de vezes. O canal Syfy preparou uma maratona de filmes por conta do badalado dia vinte e um de "doismiledois". E até que os roteiristas são criativos: nada de meteoros ou invasão alienígena, isso tudo está batido. "Buraco branco", crocodilos gigantes e até Stonehenge entraram na parada.
Por que essa fixação com o fim do mundo? Talvez seja algo ligado ao nosso subconsciente. A psicanálise já diz há algum tempo que a mente humana dialoga com uma série de pulsações e uma delas é a dobradinha Eros/Tanatos (ou, Vida e Morte). 
Vamos tentar simplificar as coisas: aquele momento quase hipnótico em que você olha para um lugar muito alto e pensa "será que se eu pular morro?" seria Tanatos atuando. Aquele momento que vem logo em seguida, quando você conclui "melhor não tentar, vai que eu morro" seria obra de Eros. Nesse caso, o instinto de auto-preservação ganhou do instinto de auto-destruição, colocando as coisas de modo bem grosseiro.

Mas será só isso mesmo? Vamos dar uma olhada no gênero da ficção científica dentro do cinema. Na virada do século XX encontramos narrativas maravilhadas com a tecnologia, narrativas que apostam num futuro melhor. Algumas guerras mundiais depois, o panorama é totalmente diferente. Já no final do mesmo século nada é mais emblemático para a ficção científica que o cyberpunk. O futuro não é mais utópico, mas sombrio e desanimador. A tecnologia não nos libertou, apenas nos tornou mais miseráveis.
Vou usar aqui o melindroso conceito de imaginário coletivo para alegar que a distopia (o contrário da utopia) se enraizou em nossa vida. O desencanto com o futuro, por conta das experiências do presente, levaram muitos a valorizar o passado de maneira surpreendente - só para exemplificar, os hipsters são uma tribo urbana cada vez mais numerosa. Não que isso tenha acabado com qualquer perspectiva de futuro, mas que enxergar um futuro esplendoroso nos pareça um pouco sem sentido agora. Um futuro amargo e fatalista seria muito mais palatável á geração cyberpunk.
O medo é difuso (líquido, diria Zygmunt Bauman) porque hoje qualquer coisa pode ser mortal, desde um pequeno e quase invisível vírus até um rapaz com uma arma. Hoje não sabemos de onde esperar a peia. Essa insegurança justifica o crédito dado ás profecias de Nostradamus, dos maias e de quem mais precisarmos desenterrar para nos assustar.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Mama África

Tcharan! Tia Lucy (Aryana Monteiro) e Elo Perdido (Augusto Severo) no palco.
Foto: Jhames Bessa.
No primeiro semestre do ano nos aventuramos com o teatro amador com uma peça chamada Nóis Véve a História para abrir a XI Semana de História da Uninorte. Decidimos repetir a dose. Mas dessa vez para abrir a IX Semana da Consciência Negra que teve por tema a história da África.
O Vanderson Dinhows Fernandes e eu ficamos responsáveis por escrever a peça, escalar o elenco e ensaiar com eles. O primeiro passo até que foi fácil. Reunimos um monte de boas ideias e tivemos ainda a ajuda da mente pervertida criativa do Everton Andrade - ele que teve duas participações pequenas, mas super-especiais!
Vinicius Amaral, Vanderson Dinhows e Everton Andrade: os roteiristas.
Foto: Raoni Lopes.
A grande questão era como fazer algo que fale da História da África e que divirta ao mesmo tempo? De início apresentaríamos um breve painel da História da África, na forma de um monólogo, mas desistimos dessa ideia. Ficaria muito maçante. Afinal, são muitas informações e pouco tempo. O fato da história desse continente ser pouco conhecida era um obstáculo, porque precisávamos dialogar com o que o público sabia. Como rir de algo que você não conhece? Por isso, optamos em falar do que conhecemos, das imagens do senso comum.
A proposta era brincar com alguns estereótipos sobre esse continente enquanto apresentávamos alguns pontos pouco conhecidos sobre a história da África (como a presença dos impérios de Gana, Mali, Songai e a relação com o islamismo). Muita gente achou parecido com a peça Hermanoteu na Terra de Godá, outros com as gags do Monty Python.
A primeira dificuldade foi montar o elenco. Estávamos agora trabalhando com uma equipe muito maior que da última peça. Existiam alguns personagens que foram criados para tal pessoa, outros não, precisávamos achar alguém que se encaixasse no seu perfil e que estivesse disponível. O maior problema sempre foi achar pessoas compromissadas e com tempo disponível. E em se tratando de época de prova a coisa só se complica mais.
Mas, por incrível que pareça, conseguimos achar muita gente. Com a exceção de alguns egressos, a maioria dos atores vieram do segundo e terceiro período noturno. Gente que não se conhecia muito bem, apesar de viver se esbarrando pelos corredores da faculdade ou então se enfrentando nos jogos de pingue pongue.
Os ensaios eram feitos aos sábados, geralmente em uma das unidades da faculdade ou então no Largo São Sebastião. Com a aproximação da Semana da Consciência Negra passamos a fazer ensaios durante a semana, entre uma aula e outra.
Primeiro, precisávamos fixar as falas na mente.Depois treinamos a interpretação e a construção das cenas (qual seria a ordem de entrada de cada personagem, onde ele ficaria, como ele reagiria a tal fala, coisas do tipo). E ao fim de cada ensaio aos sábados, uma cervejada. E churrascadas também. Uma antes da peça e outra depois.
O elenco assistindo a peça na churrascada, dias depois.
Foto: Rafael Mota.
Não teríamos conseguido chegar lá, claro, sem o apoio da Profa. Elisângela Maciel, sem o compromisso de todo o elenco, sem o apoio técnico e moral do Everton e sem a garra do Vanderson Dinhows. Ouvi aplausos e elogios, mas creio que a nossa recompensa maior é outra.
Creio que esse tempo juntos ajudou a criar um sentimento de união de forma que a própria galera espera participar de novos eventos da mesma forma e com a mesma equipe. Então que venham os próximos eventos!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Agenda cheia...

São em momentos como esse que você vê o surgimento de lendas, como Allan Carneiro (ao centro) que fez o dramático papel do Menino do Teco Teco na nossa peça. Foto: Ivanir Lima.

O motivo de minha ausência nesse blog tem uma boa justificativa. Melhor, boas justificativas. Ultimamente estive envolvido em toda sorte de eventos. Primeiro, ensaiando uma peça de teatro para a abertura da Semana da Consciência Negra da Uninorte com meus colegas do segundo período matutino e noturno, do terceiro período e do sexto. Foram vários sábados, sem contar as vezes que ensaiamos entre o intervalo das aulas durante a semana. O resultado foi uma boa encenação, mesmo com alguns obstáculos. O mais importante foi que nos divertimos muito com isso e espero que tenhamos criado fortes laços de amizade.
Aí está todo o elenco da peça Nós Véve a História Doize: Mama África. Foto: Jhames Bessa.

Outro motivo foi a série de provas e concursos que fiz. Tive que desenferrujar e voltar aos tempos de cursinho para me preparar para os vestibulares e processos seletivos. Dentre todas as provas, destaco aqui a do Mestrado em História pela UFAM. Após passar pelas quatro etapas, recebi a agradável notícia de que  tinha sido aprovado. Agora é só arregaçar as mangas que vem muito trabalho aí! Curiosamente, nesse mesmo tempo o primeiro encontro estadual da ANPUH do Amazonas foi realizado. E nesses quatro dias procurei participar o máximo que pude. Claro que não podemos desprezar também uma conversa com os amigos, um almoço no R.U. (Restaurante Universitário) e um cafézinho.
Prof. Hideraldo Lima da Costa, presidente da ANPUH/AM, iniciando o ciclo de conferências sobre  o Comitê da Verdade. Foto: Talita Magalhães.

Bem, vou falar um pouco sobre cada um desses eventos, mas na próxima ocasião. Agora, meus amigos, vou dar uma merecida pestanejada.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Scenas

Ciranda, Djanira.
Esse peixe do olho grande é mais simpático que a vovó, pensava. Só mais um pensamento aleatório. Coisa normal pra Cissa. E na feira, cada cheiro, cada barraca e cada voz bastava para abrir uma infinidade de links na sua cabeça. O homem do camarão é um corpo-seco, se passar óleo de sucuriju no corpo cria escamas, pupunha é uma bolotinha de pamonha embalada. Isso tudo ela imaginava. E não se contentava, puxava o braço do avô e contava suas novas descobertas, hipóteses e impressões.
Cissa é assim.

Saindo da feira, aquela andança toda, partiam pra casa. O almoço no quintal de casa, regado a muito guaraná, rendia histórias até o fim da tarde. Fulano que morreu, sicrano que viajou, beltrano que se casou. Mas o melhor era ouvir os podres que o titio contava. Não só do irmão, mas de qualquer um. De qualquer um, menos do velho, claro. Ele não era doido de fazer isso.
E ela ria de tudo, mesmo sem entender. Não era o causo, não eram as desculpas, era o jeito do tio, embaralhando meia dúzia de palavras com gargalhadas. Titio conta de novo, pedia. E o resto do domingo passava sentada, como todo mundo, ouvindo os protestos de cada um e a risada inconfundível do tio. Era conversa no quintal até os mosquitos começarem a judiar as pernas.
Domingo era assim.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Da infidelidade


A ciência precisa ser infiel. Calma, calma. Não estou justificando o adultério entre os pesquisadores. A infidelidade de que falo é de ordem intelectual.
O que ouvimos é que devemos nos apoiar no que já foi produzido para irmos além. A ciência é coletiva e provisória: ninguém chega a uma conclusão sozinho e há que se ter em mente que ela não se sustentará eternamente. Mais cedo ou mais tarde ela será refutada.
Quando nos afeiçoamos ao pensamento do filósofo X ou do físico Y tendemos a nos manter fiel a ele, aplicando ele em todas nossas conclusões. Qual o problema aqui? O preço da fidelidade é a falta de autonomia. Como refutar algo que elevo ao status de intocável?
Não quero com isso dizer que devemos menosprezar todos aqueles que vieram antes de nós. Não podemos correr o risco de sermos ingratos. Há que se considerar o peso de cada pesquisador. Alguns deslizes são aceitáveis, afinal, como dizia Marc Bloch, o homem é mais filho do seu tempo do que de seus pais. Mais uma vez lembremos: a ciência é uma obra coletiva, todos ajudam a desenvolvê-la.
O que se espera é que possamos avaliar a contribuição de cada um (e de nós mesmos), mas sempre conservando um certo grau de independência. Do contrário, como poderemos ir além?

sábado, 1 de dezembro de 2012

Dez achados da década perdida



  • Sábado á tarde, batendo papo no Facebook sobre os anos 80. "Ei, cara, já percebeu que o pessoal fala muito dos anos 80, mas dos anos 90, que é bom, nada?" Pensando nisso, surgiu um desafio: listar os filmes que marcaram essa década e as seguintes. Muito bem, aceitaram o desafio os amigos Augusto Severo, Tarcísio Normando e Vanderson Fernandes (além de mim, claro...). Acompanhe aí abaixo o resultado:


Dez grande filmes de 1990

por Tarcísio Serpa Normando




Perfume de Gardênia - Em 91, ano em que collor acabou com a Embrafilme, este foi o ÚNICO filme brasileiro produzido. Entra na lista pela persistência;
O Poderoso Chefão Parte III - Acabou a segunda melhor trilogia do cinema;
Ronin - A melhor perseguição automobilística dos anos 90 e um Robert de Niro ainda inspirado;
Fogo contra Fogo - Pela primeira vez juntos De Niro e Pacino. Tem a melhor cena de tiroteio dos anos 90;
Dança com Lobos - O último filme que presta do Kevin Costner;
A Excêntrica Família de Antônia - Filme sueco(?) que com toda justiça levou o oscar de filme estrangeiro no lugar do brasileiro Quatrilho;
Cães de Aluguel - Primeiro filme de Tarantino, um espetáculo;
Pulp Fiction - Obra prima de Tarantino;
Despedida em Las Vegas - O filme mais deprê dos anos 90 com uma inexplicável boa atuação de Nicholas Cage;
Ah, quer saber, escolhe qualquer um desses: Central do Brasil, As Bruxas de Salem, Forrest Gump, Seven.




Dez filmes que definiram os anos 90
por Vinicius Alves do Amaral






-Matrix: pra mim foi uma revolução tanto no tema (embora o eXistenz e Cidade das Sombras tenham o mesmo tema) como nas técnicas (leia-se efeitos especiais);

-Sexto Sentido: foi o suspense da década, cara!

-Máquina Mortífera: virou até fórmula pronta - a dupla de policiais, um inconsequente, outro bem família e coisa e tal...

-Cães de Aluguel: começo em grande estilo do Tarantino;

-Melhor Impossível: nunca gostei de comédia romântica, mas essa aqui me conquistou. Jack Nicholson atacando de escritor antipático, impagável;

-Rei Leão: eu acho que em se tratando de animação, o Rei Leão tem um grande concorrente que é Toy Story;

-Central do Brasil: cara, eu sempre achei que esse filme ajudou a levantar a auto-estima do cinema brasileiro;

-Bruxa de Blair: pode ver o tanto de cria que esse filme deu hoje, tipo Atividade Paranormal, Rec e o escambau;

-Jurassic Park: Spielberg marcando essa década com mais um filmão;

-Os Imperdoáveis: o último grande western e só com feras (Clint, Morgan Freeman, Gene Hackman, Richard Harris).

Os 10 maiores filmes dos anos 90
por Vanderson Dinhows Fernandes






Então vamos lá:
1-Armagedon
2-Um Herói de Brinquedo 
3-Forest Gump
4-A Bruxa de Blair
5-O poderoso Chefão III
6-Central do Brasil 
7-Orfeu
8-Street Fighter (Fã de videogame)
9-Mortal Kombat (Fã de videogame)
10-American Pie (lembra a época dos tempos de escola de todo mundo)


Os 11 (tentei 10, mas não deu) Melhores Filmes dos anos 90
por Augusto Severo


O Pagamento Final (Carlito’s Way, 1993) de Brian de Palma – Sou colecionador de filmes, e esse é, em minha opinião, o terceiro melhor filme do Al Pacino.

Pulp Fiction: Tempo de Violência (Pulp Fiction, 1994) de Quentin Tarantino – A década de 90 foi a década de ouro da cultura tarantinesca, e foi difícil ter que escolher qual o melhor dele nesse período. Escolhi o PULP porque, além de pioneiro, é o que mais trouxe consequências diretas pro universo pop do cinema de hoje. Além de uma atuação do Samuel L Jackson e uma trilha sonora que dispensam comentários.

À Beira da Loucura (In the Mouth of Madness, 1994) de John Carpenter – Como sou nascido e criado no universo dos RPGs, essa foi a primeira dramatização séria que se baseou nos mitos Cthulhunianos de H.P. Lovecraft, e por isso, meu sonho realizado infantil de como deveria ser todo filme de terror. Clássico dos clássicos do rei dos clássicos: John Carpenter!

Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line, 1998) de Terrence Malick – Eu me perguntava como seria um “APOCALIPSE NOW” tendo como base a WW II, e acho que foi o que mais se aproximou. Esse eu vi no cinema!

O Grande Lebowski (The Big Lebowski, 1998) de Joel e Ethan Coen – O primeiro grande trabalho dos Irmão Cohen. Considero a única grande comédia DEMOCRATA americana da década de 90: aluguei quando moleque!

O Silêncio dos Inocentes (The Silence of Lambs, 1991) de Jonathan Demme – Desde moleque fui fascinado por terror, até que numa noite de madrugada na globo fui apresentado a este que considero o maior TRHILLER de todos os tempos; praticamente estabeleceu o gênero (suspense com elementos de terror), tão cultuado hoje.

Clube da Luta (Fight Club, 1999) de David Fincher – Meu filme favorito de todos os tempos.

Último dos Moicanos (The Last Of The Mohicans, 1992) de Michael Mann – Na minha infância, todo garoto nerd que se preza tinha que ter decorado todas as cenas desse filme. Na época, Eu tinha acabado de ver “Meu Pé Esquerdo”, e pensava que nunca mais veria qualquer outro filme do Daniel Day-Lewis. Até que assisti isso! OBRA PRIMA da fotografia e da trilha sonora.

A Bruxa de Blair (the Blair Witch Project, 1999), de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez – Da época do “Eu Quero a Nota”, fui ao cinema mais por ter sido vítima da propaganda massiva feita em cima desse filme. Acreditei mesmo que os guris tinham morrido! Ese filme popularizou o gênero “Documentário”, tão popular hoje. Pena que as continuações foram um lixo.

O Exterminador do Futuro 2 O Julgamento Final (Terminator 2: Judgment Day, 1991) de James Cameron - Filmes de Ação de hoje em dia devem tudo a ele.

• O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999) de M. Night Shyamalan – Aquele choque de chegar ao final e ser surpreendido – PQP! – tal recurso ja era utilizado em épocas anteriores, mas foi o Sexto Sentido que trouxe de volta a vida essa sensação, fazendo todo mundo sair do cinema falando “vc tem que assistir!” Os filmes de terror atuais devem muito a esse filme.

Coloquei aqui sem ordenar por preferência ou relevância. São os filmes que considero mais relevantes dessa década no que condiz a gerar consequências no mundo pop até hoje! Alguns eu coloquei só porque gosto mesmo!

Pesadelos

James Ensor.


Na escuridão da garagem, o homem preguiçoso, que era eu, descartava o lixo, que não era meu.
Silêncio, silêncio, silêncio... silêncio até demais.
O elevador subiu. A luz piscou. O homem, que era eu, tremeu.
Sobre a minha cabeça, um tecido de concreto com nervos de canos. Nada via, mas havia algo ali, que não era eu. Os sons das garras denunciava.
O homem, que era eu, correu para o elevador. A voz, que não era minha, disse que não adiantava mais pegar o elevador. Ele, que era eu, correu entre os carros. Tudo era escuro. Escondeu-se debaixo de um carro, que não era o dele. A coisa, que não era eu, já estava no chão. Suas patas sujas e garras imensas do lado de fora do carro. Uma delas passou pelo rosto do cara, que era eu.
Do carro, ele saiu. No chão, o rastro de sangue, que era meu. A criatura, que não era eu, agarrou-lhe. A garra soltou-lhe, assim que entrou no domínio da lâmpada. A pata queimada recolheu-se a escuridão-mãe.
Sob a proteção daquela pequena faixa de luz - a única lâmpada que funcionava bem - , o homem, que era eu, ouviu da coisa, que agora era eu: você está salvo... por enquanto.

O dia era azul, a cama era quente. O azulejo fez-se em água, a cama dissolvia-se. Uma presença sinistra estava por perto, podia sentir. Movia-se na água escura como um peixe. Os tentáculos me envolveram. Uma boca sinistra no centro da criatura sugou-me. E o resto é suco gástrico.

Paredes, paredes, paredes. Universo de paredes sem fim. Em cada quarto dali uma estranha decoração: móveis no teto, espelhos com molduras feitas de insetos, abajur oval...
O fim do corredor. As paredes tremeram. O começo do corredor se aproxima. Logo, tudo não passa de um cubículo onde os joelhos chegam á altura do pescoço. Algo pressiona o teto. Talvez seja outra parede querendo encontrar-se com sua irmã. Não se sabe. O ar rareia. No seu lugar, outro elemento, mais denso, domina: a morte.

Outras histórias, o mesmo fim: acordar sem fôlego no outro dia.