domingo, 25 de outubro de 2009

"Monkey Hills"

Com o perdão do atraso comento aqui a manchete que já rodou o mundo: os últimos desdobramentos da guerra do tráfico e ao tráfico. Falo da tragédia do Morro dos Macacos, ou Monkey Hills segundo a imprensa internacional (ver o destaque da tragédia no mundo: http://jovempan.uol.com.br/noticias/noticia/confronto+no+rio+e+destaque+no+mundo-176564,,0 ).
No sábado, dia 17, traficantes de uma facção rival, oriunda do Morro São João, invadiram o Morro dos Macacos. A polícia militar foi conter o conflito e na tentativa um helicóptero foi abatido. No dia seguinte se seguiram festas em alguns morros pelo acontecido. Ônibus foram queimados e depois depenados por saqueadores.
Estive no Rio na segunda e um pedaço da terça passada (respectivamente, dias 19 e 20) e presenciei um clima muito estranho. Na Avenida Brasil, carros da "Força Pacificadora", uma ramificação da Polícia Federal. Nas lojinhas, entre os comentários do resultado do jogo menções ao caso e outros mais.
Ou seja, apesar da aparente tranquilidade do Rio, o clima está tenso. A situação piora mais a cada dia. A última da vez foi a morte de um cantor do AfroReggae por assaltantes e a omissão da Polícia em ajudá-lo. Isso tudo na futura sede das Olímpiadas!(link sobre os últimos casos de violência no Rio: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u642886.shtml)
A imprensa nacional sempre foi sensacionalista quando se trata do Rio de Janeiro, o novo é que agora a imprensa internacional está descobrindo que a cidade maravilhosa não está tão maravilhosa assim. No entanto, mesmo diante de 42 mortes, o Comitê Olímpico Internacional se manteve irredutível em cancelar o status de sede dos jogos olímpicos de 2016 para o Rio. Para eles, "Monkey Hills"ainda está muito distante do Rio de Janeiro sensual e edílico dos filmes. Será?
A violência no Rio não surgiu da noite pro dia, ela faz parte de um longo processo que deve ter começado ainda nos tempos da colônia e que foi acentuada pela política de urbanização de gente como o prefeito Pereira Passos, que nos anos de 1900 já havia marginalizado grande parte da população nos morros, e culminou na queda do helicóptero no Morro dos Macacos. Não se pode fugir da violência, deve-se encará-la de frente. Posso dizer aqui uma lista imensa de gente, inclusive amigos e parentes, que pensavam que morando e trabalhando longe dos morros estariam livres da violência. Ledo engano.
O problema é muito longo e profundo, não se pode resolvê-lo em um ano ou mesmo antecipá-lo para outra data, como foi feito no Pan. É algo cultural, necessita de uma campanha pesada de conscientização acompanhada de uma melhora nas condições de vida destas pessoas. O governo tem que fazer aquilo que ele deixou de fazer a décadas: ajudar essa população e não por meio de medidas assistencialistas. Ele tem que se relacionar com todos os segmentos da sociedade e não só com aqueles que ficam bem na foto.
Mas todos nós sabemos que isso está no reino da ficção científica, para não dizer contos de fadas. Se a possibilidade de mudança já era pequena, ficou menor ainda com a escolha da cidade como sede das Olímpiadas, pois assim revitalizou-se o status quo carioca. Essas Olímpiadas serão a promessa para muita gente de dinheiro fácil e de prestígio. E enquanto elas continuarem se alimentando de ambos, se multiplicam as mortes no Monkey Hills da cidade.

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