quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Cidadão, esse ilustre desconhecido

José Murilo de Carvalho é um dos nomes dourados e iluminados da História brasileira, com o perdão do exagero. Para quem não o conhece ele é um cientista político mineiro, também historiador, que já pesquisou sobre o Exército brasileiro, as elites imperiais, as elites republicanas, as artes republicanas e a corrupção brasileira, dentre milhares de outras coisas.
Porém, o cerne da historiografia de Carvalho, o que aparece volta e meia em seus textos, é a preocupação com a construção da cidadania no Brasil. Ele demonstra em sua análise sobre as elites imperiais que a cidadania era pequena e limitada no Império e assim continuou sendo na República com algumas nuances. A população brasileira em sua maioria era uma telespectadora da história do país, assistiu á grande parte dos seus acontecimentos, incluindo a proclamação da República, "bestializada". No entanto, vira e mexe, alguns setores dela se levantaram para reclamar a seu modo desse status quo, seja no Exército, no sertão de Canudos ou nas favelas do Rio de Janeiro.
Confrontando isso com outros autores, existe também o pressuposto de que o próprio brasileiro, devido á situação precária em que foi posto nesses 500 anos, criou uma ética muito relativa. Uma ética que visa a própria sobrevivência e nada mais, nacionalmente conhecida como o "jeitinho". Jeitinho esse que extrapola do dia a dia nas ruas para as sessões no plenário e que foi chamado por Raymundo Faoro de "patrimonialismo". Uma dezena de homens entram no poder e para sobreviver começam a sugar esses recursos, se tornando "donos do poder", um circuito fechado que comanda o poder enquanto o resto da sociedade se afasta dele para cuidar de sua prórpia sobrevivência por outros canais.
Seja como for, obra de José Murilo, em conjunto, nos abre uma brecha para reflexão: em um país onde tudo foi imposto á sua população, inclusive a democracia, e onde essa população se tornou fortemente apática á política, talvez por causa do aspecto anterior ou quem sabe da situação em que a colônia foi relegada, há hoje cidadania? Se há ela foi conquistada ou imposta?

Recomendo, entre outros, esse pequeno e engraçadissímo código de ética do "guru" do humor nacional, Millôr Fernandes: http://www2.uol.com.br/millor/aberto/textos/004/006.htm.

Entre os livros de José Murilo de Carvalho recomendo:
-A História da Cidadania no Brasil; volume organizado por ele.
-Os Bestializados; obra clássica, trata da natureza restrita da proclmação da República.
-Formação das Almas; outro clássico, mostra como os diversos grupos republicanos manipularam símbolos e artes plásticas para legitimar a República ao povo.
-Nação e Cidadania; volume organizado por Carvalho, aborda desde o papel da imprensa na construção da cidadania no Segundo Reinado até as formas de sociabilidade e manifestação dos escravos.

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