quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O Negro no Amazonas

Profa. Arlete Anchieta (CDB/FOPAAM)
Foto: Maurílio Sayão.
No primeiro dia da Semana da Consciência Negra da Uninorte, a coordenadora geral do Fórum Permanente dos Afro-Descendentes, Profa. Arlete Anchieta, proferiu uma palestra sobre o movimento negro no Amazonas.
A palestra inicia-se homenageando uma figura conhecida aqui nesse blog, o intelectual e militante negro Nestor José Soeiro do Nascimento (1947-2003). Um dos pioneiros do movimento negro no estado do Amazonas, hoje quase esquecido pela maioria da população. Fundou a primeira entidade política negra local que se tem notícia, o Movimento Alma Negra (MOAN) no final dos anos 60.
Nestor José Soeiro Nascimento
Foto: Clóvis Eugênio/ Arquivo Em Tempo.
Muitos não viam necessidade em um movimento negro no Amazonas, onde a presença negra é quase mínima. Mas isso é um mito: a historiografia amazonense local tem combatido essa lenda criada pelos historiadores tradicionais, demonstrando o peso da escravidão africana na região. Arlete nos apresenta então um pequeno histórico sobre esta instituição no Amazonas: a origem dos escravizados, as rotas que seguiam para chegar na província, as ocupações em que eram empregados etc.
A presença negra tem um espaço todo seu na cultura amazônica e ele não é pequeno. A professora nos lembrou da origem negra da festa mais popular do Amazonas: o Boi Bumbá. Além disso, mencionou outras tantas manifestações culturais como a capoeira, o tambor de Mina, o samba etc. Não só manifestações culturais como também personagens conhecidos como a mãe-de-santo de São Jorge Joana Galante, o capoeirista Mestre Vermelho, o ex-secretário de saúde Henrique Mello e o famoso governador dos tempos da Belle Epóque Eduardo Ribeiro, dentre outros.
Vista panorâmica da Praça 14 nos anos 70
Foto: Cassius da Silva Fonseca.
A presença negra também se configura no traçado urbano de Manaus: os tradicionais bairros negros como Praça 14 de Janeiro, Seringal-Mirim (hoje Nossa Senhora das Graças), Morro da Liberdade, São Jorge etc. Hoje, estes bairros deixaram de ser redutos exclusivamente da cultura negra. A própria cultura negra está se irradiando por outros bairros como o Zumbi, Cidade Nova, Japiim, de história mais recente.
Logo, podemos concluir que a presença negra não é tão mínima assim quanto se imaginava. O objetivo do movimento negro é justamente trabalhar esta identidade, no sentido de valorizá-la. Enquanto a história oficial inculcou na cabeça de toda a população que não há quase negros no Amazonas, o movimento negro aqui tem o dever de contestar isso através não só de uma revisão historiográfica como também de ações que reafirmam a identidade negra.
E nesse tópico, a Profa. Arlete começa a falar dos movimentos negros no estado:
-Movimento Alma Negra (MOAN) fundado por Nestor Nascimento em meados dos anos 60 e sendo extinto alguns anos depois;
-Movimento Orgulho Negro (MON), criado nos anos 80 por antigos militantes do MOAN e moradores da Praça 14, que nos anos 90 se transformaria em Associação do Movimento Orgulho Negro do Amazonas (AMONAM);
-Movimento Afro-Descendente do Amazonas (AFROAMAZONAS), criado em fins de 2006, para reunir as lideranças dos demais movimentos negros da região, principalmente para divulgar suas opiniões.
-Fórum Permanente de Afro-Descendentes do Amazonas (FOPAAM), fundado em 2000 para congregar as demais entidades negras em seu bojo. Instituição da qual a professora Arlete Anchieta faz parte na condição de coordenadora geral.
O FOPAAM tem uma ligação com mães e pais de santo, mestres de capoeira, cantores de hip-hop e até quilombolas do Amazonas. Sim, no Amazonas existem quilombos (ao todo 15 comunidades), mas a professora mencionou o caso específico da comunidade de Novo Ayrão, onde o FOPAAM vem acompanhando todo o seu processo de legalização.
O próximo tópico da palestra foram as polêmicas políticas de ação afirmativa como as cotas raciais nas universidades, a legalização dos quilombos, o Estatuto da Igualdade Racial e o ensino de História da África nas salas de aula, por exemplo. Segundo a professora, a intenção não é revanchismo, mas tentar equilibrar uma condição social imposta por 300 anos de escravidão: a marginalização do negro. O preconceito é apenas um dos obstáculos que o negro brasileiro tem de enfrentar para poder ascender socialmente: entre os demais estão a falta de uma educação de qualidade e a baixa renda nos empregos. São medidas para afetar esse status quo.

Enfim, como vocês podem perceber, foi uma palestra muito proveitosa e esclarecedora. O estilo descontraído da Profa. Arlete também ajuda e muito que todos se interessem mais por esse tema. Ao meu ver, a Semana de Consciência Negra não poderia ter começado melhor.

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