quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Cicatrizes

Ontem, dia 27 de janeiro, foi o dia de comemoração do Holocausto. O nome parece estranho. Comemorar? Quem vai comemorar um genocídio? Não há nada o que comemorar com certeza. O nome do dia deveria ser o dia de relembrar o Holocausto.
Este dia existe simplesmente para isso: para lembrar. Nesse dia devemos lembrar esse genocídio e, acredito eu, não só esse, mas os outros muitos holocaustos e mini-holocaustos que a Humanidade já presenciou, sejam eles de judeus, de índios, de hutus, de sérvios e etc. Não precisamos ir muito longe para sentirmos tantos o peso de tantos gritos e lágrimas, basta lembrarmos de Canudos, das "guerras dos bárbaros", dos campos de concentração no Ceará e no Sul do Brasil.
Precisamos lembrar disso para não esquecer.É muito pleonástico, mas é verdade. Mas não podemos lembrar a toda hora, porque assim acabamos, voluntaria ou involuntariamente, por banalizar o ocorrido.
O Holocausto foi uma cicatriz na face da história e como toda cicatriz ela irá para sempre nos acompanhar. Devemos tomar cuidado para não repetirmos mais cicatrizes do tipo. Esse tipo de comportamento não é só para fatos históricos como esse, também podemos usá-lo na nossa vida íntima, em nossas perdas. Elas nos ensinam muito, por isso não podem ser apagadas. Eu acho que devemos conservar e cultivar a alegria, mas não podemos esquecer a tristeza.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

História das Cidades

É uma perspectiva histórica que tem ganho algum peso recentemente. A História das Cidades é interessante não só por abordar a constituição do espaço urbano no Brasil, mas por demonstrar os vários aspectos que a categoria cidade adquiriu com o tempo e como esse processo ainda está em andamento hoje.

Os principais nomes nessa corrente de estudos são evidentemente Lewis Mumford, George Simmel, Marshal Berman, Max Weber e muitos outros. O estudo das cidades nasceu graças ao processo acelerado de urbanização no século XIX. Muitos tentaram compreender a modernidade através das cidades, como Weber e Simmel, por serem os símbolos mais emblemáticos da industrialização. Com o tempo, contudo, a urbanização acarretou muitos problemas e questões que precisavam ser abordadas historicamente, nessa corrente se inscreve Mumford, por exemplo.
no entanto, esses autores privilegiaram as cidades européias em seu estudo - nada mais justo, afinal, eram nelas que eles viviam e eram elas que eles pretendiam conhecer. Não havia até a década de 1970 estudos realmente dirigidos ao desenvolvimento das cidades na América Latina. A razão pode estar no nosso próprio subdesenvolvimento, uma vez que até os anos 90 boa parte do continente ainda era dominada pelo meio rural. Então surgiram Angel Rama e José Luiz Romero. Ambos autores se dedicam a entender o desenvolvimento das cidades latino-americanas com o objetivo de demonstrar como surgiram as desigualdades sociais que as afligem hoje ou como outras que já existiam no campo se reproduziram de modo diferente no meio urbano.
Depois dos seus trabalhos a tendência foi surgir ramificações de estudos do tipo por toda a América Latina. No Brasil não seria diferente. Temos hoje uma boa tradição historiográfica nesse campo, com bons nomes, como o de Raquel Rolnik, Milton Santos, Lúcio Kowarick, Csaba Deák, dentre muitos outros.

O homem que descobriu o homem

Eu vi em algum lugar certa vez o seguinte: Copérnico descobriu que o homem não é o centro do universo e Freud que ele não é dono de si próprio. Ou seja, as duas ações seriam complementares, a consequencia de ambas seria o desencanto do mundo, uma maior compreensão da vida.
Sigmund Freud foi realmente um homem de fundamental importância nesse processo, pois, por meio de sua teoria ajudou-nos a compreender nós mesmos. Freud, por meio de suas pesquisas psicológicas, percebeu que a mente humana era cheia de labirintos e muitos deles, mesmo sendo labirintos, exerciam uma certa função. O pai da psicanálise dividiu a mente humana em id, o conjunto de atitudes impulsivas e institivas, o ego, a nossa imagem perante á sociedade, e o superego, o aparato disciplinador que recebemos da sociedade que tenta frear o id.
Freud também analisou muita a nossa civilização, pois, segundo ele, ela promovia alguns desejos reprimidos que ganhavam vida nos sonhos, onde existia uma maior liberdade para o id (dai ele usar a técnica de interpretação de sonhos). Isso porque a civilização exigia em troca da segurança abocanhar um bocado da liberdade individual, por isso a disciplina era tão importante e onipresente. O filósofo polonês Zygmunt Bauman, também grande fã de Freud, diz que o quadro hoje se inverteu: a civilização trocou a segurança pela liberdade e a consequência disso é a falta de segurança e de certeza já que tudo é permitido.
No seu tempo ele não teve muito reconhecimento, até porque a psicanálise era vista como uma nova ciência exótica, como tantas outras que estavam surgindo no período (a virada do século XIX para o XX). Porém, depois das Grandes Guerras, Freud ganhou o mundo e seu pensamento foi dando origem á mais linhas de pensamento semelhantes como a de seu aluno Carl Gustav Jung.
Como eu tinha mencionado no começo, Freud foi, sem dúvida, uma grande contribuição á modernidade, pois ele desmitificou muito do que era corrente sobre o cérebro e suas quimeras. As atitudes humanas deixaram de ser definitivamente regradas pelo "humor", pelas "musas" ou por uma divindade ou simplesmente por algo inexplicável. De certa forma, e freud reconhecia isso, muito da mente humana ainda é desconhecida, mas pelo menos 20% dela já conhecemos. Agora a mente passava a ser inteligível.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Para que serve a História?

Clio, a Musa da História
Quem nunca ouviu essa pergunta? É inevitável, ainda mais quando escolhemos cursar História.
Engenharia, Direito e Medicina, com certeza, são utéis, mas, e a História? Pra que serve?
Responder essa pergunta não é fácil, muitos já tentaram e é neles que me apóio nesse momento.

Há os que digam que a História ajuda a compreender o presente, o mundo em que vivemos. Certamente é isso, mas não só isso. Outros que a História nos impede de cometer novos erros. Sempre achei essa afirmativa meio duvidosa, afinal, somos humanos e por mais que tentemos erramos sempre. Duvido que um historiador nunca erre só porque conhece os erros do passado.

E há aqueles que dizem que a História ajuda a entendermos nossa origem. Claro, a história explica e muito a nossa cultura. Mas ela não serve apenas para isso. Marc Bloch, em Apologia da História, dizia que a História é antes de tudo um deleite intelectual, nela podemos nos divertir com as tragédias e os fatos anedóticos e compreender o mundo e nós mesmos, simultaneamente. Também acredito que a História seja isso, mas não só isso.



Como se pode ver, a História "serve" para muitas coisas.

Uma filosofia brasileira?

O professor João Cruz Costa sempre reclamou de não existir uma filosofia brasileira de fato em nosso país, de que tudo o que temos são algumas tentativas quando não "cópias baratas" de sistemas filosóficos europeus. Mas o que seria, afinal, uma filosofia brasileira?
Bem, segundo o próprio professor seria um sistema filosófico que tentasse responder questões intrínsecas á nossa condição de brasileiros, sem perder com isso a universalidade das interrogações filosóficas.
E que questões seriam essas? Costa não as especificou, somente disse que precisariam estar conectadas á nossa realidade. Seriam questões relativas á ética, ao nosso jeitinho, ao patrimonialismo, ao homem cordial? Questões sobre cidadania, que modelo adotar, como adotá-lo? Pode ser. O terreno filosófico é muito fértil e embora Cruz Costa não tenha visto muita gente se dedicando ao assunto hoje temos pelo menos um número considerável de pessoas interessadas em semear algo nesse solo. E a Universidade teve e terá um papel importante nesse cultivo como incentivadora (ou não) da semeadura.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Os aliens e nós

É inevitável alguém pelo menos ter ouvido falar do novo filme de James Cameron nos últimos meses, tamanha a propaganda. Vi o filme, no começo do ano, e tenho que confessar que gostei, apesar da história apresentar alguns clichês. Realmente, Cameron se superou e demonstrou que a nova tecnologia digital veio para ficar mesmo no cinema.

Mas proponho aqui fazermos uma releitura do filme com base em uma comparação muito interessante que observei do jornalista e crítico André Forastieiri depois de elencar algumas semelhanças entre Avatar e Alien: O Resgate, do próprio Cameron: "Agora: se Aliens era sobre o Vietnã, Avatar é sobre petróleo – Iraque e Afeganistão". A ficção científica tem essa propriedade de ao querer ser se situar num futuro, abordar questões interessantes do presente e do passado. A do passado seria essa: revisitar as principais guerras porque lutaram o Estados Unidos.

Na guerra do Vietnã, o EUA perdeu descaradamente, perdeu sobretudo a auto-estima. A questão aqui não é dizer que os sinistros aliens dessa franquia de terror são representandos pelos vietnamitas, mas que a derrota que eles infligiram aos humanos representa a derrota dessa guerra em particular.

Bem, o EUA não perdeu nem a guerra do Iraque nem a do Afeganistão, porque Avatar representaria então esses dois eventos emblemáticos? Avatar representaria eles na medida em que explora uma de suas maiores causas e consequencias: a incompreensão do Outro. incompreensão essa acompanhada do mercantilismo, da sede de petróleo.

É uma mudança realmente. Não só de filme, mas de mentalidade. Nos anos 60 e 70 quando desenrolou os seus piores conflitos, o EUA lutavam por um ideal de liberdade, eles representavam o mundo livre. Hoje, esse ideal não se perdeu, mas ficou menos nítido. Não é por nada que uma frase do então vice-presidente do governo Bush na época da guerra do Iraque se tornou uma espécie de síntese do momento quando ele disse que "nesse momento - a guerra contra o terror - , os EUA teriam que explorar o seu lado mais sombrio".

A contribuição de Confúcio á Pedagogia

Costumamos pensar que aquilo que entendemos como filosofia é formada basicamente por pensadores gregos e europeus, ou seja, reduzimos toda filosofia á filosofia ocidental, em detrimento dos pensadores de outras partes do mundo, como por exemplo, a Ásia.
O escritor Edward Said já demonstrou em seu antológico livro O Orientalismo que nenhum saber é isento de política e que boa parte de nosso conhecimento, entre os séculos XVII e XIX, foi voltado para conhecer o Oriente e subjulgá-lo. Daí nasce a idéia que tudo que vem do Oriente significa retrocesso ou exotismo. Idéia que ainda se faz presente hoje.
Hoje temos a capacidade, através dos meios de comunicação (principalmente a internet) de descobrir mais coisas, de conhecermos melhor várias partes do mundo. Hoje podemos refletir, pensar, pesquisar e avaliar a realidade com a ajuda não só do pensamento ocidental, como também do pensamento oriental.
É nesse sentido que quero compartilhar com vocês esse texto que li nas férias sobre a visão de Confúcio sobre a pedagogia: http://orientalismo.blogspot.com/2008/08/o-professor-ideal.html

Desastre

Depois de alguns dias turbulentos de recesso finalmente voltei á ativa - pelo menos aqui no blog.
E a primeira coisa que gostaria de postar seria algo alegre, para começar bem o ano, mas infelizmente não é possível fazê-lo. Falo isso porque na passagem de 2009 para 2010 aconteceu uma série de desastres no Rio de Janeiro e São Paulo, além de Minas Gerais, e não falar deles seria uma injustiça para quem os viveu na pele.
Na virada do ano fomos surpreendidos por uma enxurrada no Rio e em São Paulo. Em Angra houveram muitos deslizamentos de barreira e de terra em alguns morros, mas o pior foi em Ilha Grande onde metade de uma pousada foi arrasada. Em São Paulo, os municípios mais afetados foram São Luis do Paraitinga, Cunha e Juquitiba, entre outros. No entanto, pela proximidade e pela familiaridade, o mais chocante para mim foi a destruição de São Luis do Paraitinga.
Não há outra palavra, a cidade foi destruída mesmo! O coreto está debaixo de uma montalha de destroços, a torre da Igreja caiu, as casas perto do Rio também. Só a parte alta se salvou.
Há alguns dias assisti a reprise de um show especial feito em São Luís em homenagem ao canto Elpídio dos Santos (aliás, aqui está uma notícia importante sobre o seu acervo ). E olhar aquela praça, aquela iluminação singular de São Luís, a Igreja, as casas coloridas me deu a sensação de estar olhando algo histórico, algo que já passou. Agora sei porque nosso avós são tão melancólicos quando lembram do passado, porque ele nunca voltará.
São Luís será reconstruída, mas ela nunca mais será a mesma. Esse desastre afastou muitas pessoas da cidade, muitas ficaram traumatizadas, muitas vão ter que recomeçar a vida em outro lugar simplesmente porque perderam tudo.
Assistindo há algumas reportagens percebi que muitos se perguntavam por quê isso agora, afinal, nunca aconteceu antes. E é mesmo de se fazer pensar porque tantos desastres naturais vem acontecendo nos últimos anos. Tsunamis, enchentes, terremotos, furacões, tufões. Bem, o escritor Kut Vonnegut Jr. dizia que a explicação disso tudo era simples: "é o sistema imunológico da Terra tentando nos expelir". A questão ambiental hoje é fundamental, ela deve ser resolvida, porque por mais que as pessoas fingem que ela não existe e que não é com elas, a natureza sempre arruma um jeito de chamar a atenção, do pior jeito possível. Tomara que nesse ano não sejamos presenteados com outras Copenhagues...