quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Scenas

Ciranda, Djanira.
Esse peixe do olho grande é mais simpático que a vovó, pensava. Só mais um pensamento aleatório. Coisa normal pra Cissa. E na feira, cada cheiro, cada barraca e cada voz bastava para abrir uma infinidade de links na sua cabeça. O homem do camarão é um corpo-seco, se passar óleo de sucuriju no corpo cria escamas, pupunha é uma bolotinha de pamonha embalada. Isso tudo ela imaginava. E não se contentava, puxava o braço do avô e contava suas novas descobertas, hipóteses e impressões.
Cissa é assim.

Saindo da feira, aquela andança toda, partiam pra casa. O almoço no quintal de casa, regado a muito guaraná, rendia histórias até o fim da tarde. Fulano que morreu, sicrano que viajou, beltrano que se casou. Mas o melhor era ouvir os podres que o titio contava. Não só do irmão, mas de qualquer um. De qualquer um, menos do velho, claro. Ele não era doido de fazer isso.
E ela ria de tudo, mesmo sem entender. Não era o causo, não eram as desculpas, era o jeito do tio, embaralhando meia dúzia de palavras com gargalhadas. Titio conta de novo, pedia. E o resto do domingo passava sentada, como todo mundo, ouvindo os protestos de cada um e a risada inconfundível do tio. Era conversa no quintal até os mosquitos começarem a judiar as pernas.
Domingo era assim.

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