quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Doismiledois


Em Hollywood o mundo já acabou milhares de vezes. O canal Syfy preparou uma maratona de filmes por conta do badalado dia vinte e um de "doismiledois". E até que os roteiristas são criativos: nada de meteoros ou invasão alienígena, isso tudo está batido. "Buraco branco", crocodilos gigantes e até Stonehenge entraram na parada.
Por que essa fixação com o fim do mundo? Talvez seja algo ligado ao nosso subconsciente. A psicanálise já diz há algum tempo que a mente humana dialoga com uma série de pulsações e uma delas é a dobradinha Eros/Tanatos (ou, Vida e Morte). 
Vamos tentar simplificar as coisas: aquele momento quase hipnótico em que você olha para um lugar muito alto e pensa "será que se eu pular morro?" seria Tanatos atuando. Aquele momento que vem logo em seguida, quando você conclui "melhor não tentar, vai que eu morro" seria obra de Eros. Nesse caso, o instinto de auto-preservação ganhou do instinto de auto-destruição, colocando as coisas de modo bem grosseiro.

Mas será só isso mesmo? Vamos dar uma olhada no gênero da ficção científica dentro do cinema. Na virada do século XX encontramos narrativas maravilhadas com a tecnologia, narrativas que apostam num futuro melhor. Algumas guerras mundiais depois, o panorama é totalmente diferente. Já no final do mesmo século nada é mais emblemático para a ficção científica que o cyberpunk. O futuro não é mais utópico, mas sombrio e desanimador. A tecnologia não nos libertou, apenas nos tornou mais miseráveis.
Vou usar aqui o melindroso conceito de imaginário coletivo para alegar que a distopia (o contrário da utopia) se enraizou em nossa vida. O desencanto com o futuro, por conta das experiências do presente, levaram muitos a valorizar o passado de maneira surpreendente - só para exemplificar, os hipsters são uma tribo urbana cada vez mais numerosa. Não que isso tenha acabado com qualquer perspectiva de futuro, mas que enxergar um futuro esplendoroso nos pareça um pouco sem sentido agora. Um futuro amargo e fatalista seria muito mais palatável á geração cyberpunk.
O medo é difuso (líquido, diria Zygmunt Bauman) porque hoje qualquer coisa pode ser mortal, desde um pequeno e quase invisível vírus até um rapaz com uma arma. Hoje não sabemos de onde esperar a peia. Essa insegurança justifica o crédito dado ás profecias de Nostradamus, dos maias e de quem mais precisarmos desenterrar para nos assustar.

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