sábado, 1 de dezembro de 2012

Pesadelos

James Ensor.


Na escuridão da garagem, o homem preguiçoso, que era eu, descartava o lixo, que não era meu.
Silêncio, silêncio, silêncio... silêncio até demais.
O elevador subiu. A luz piscou. O homem, que era eu, tremeu.
Sobre a minha cabeça, um tecido de concreto com nervos de canos. Nada via, mas havia algo ali, que não era eu. Os sons das garras denunciava.
O homem, que era eu, correu para o elevador. A voz, que não era minha, disse que não adiantava mais pegar o elevador. Ele, que era eu, correu entre os carros. Tudo era escuro. Escondeu-se debaixo de um carro, que não era o dele. A coisa, que não era eu, já estava no chão. Suas patas sujas e garras imensas do lado de fora do carro. Uma delas passou pelo rosto do cara, que era eu.
Do carro, ele saiu. No chão, o rastro de sangue, que era meu. A criatura, que não era eu, agarrou-lhe. A garra soltou-lhe, assim que entrou no domínio da lâmpada. A pata queimada recolheu-se a escuridão-mãe.
Sob a proteção daquela pequena faixa de luz - a única lâmpada que funcionava bem - , o homem, que era eu, ouviu da coisa, que agora era eu: você está salvo... por enquanto.

O dia era azul, a cama era quente. O azulejo fez-se em água, a cama dissolvia-se. Uma presença sinistra estava por perto, podia sentir. Movia-se na água escura como um peixe. Os tentáculos me envolveram. Uma boca sinistra no centro da criatura sugou-me. E o resto é suco gástrico.

Paredes, paredes, paredes. Universo de paredes sem fim. Em cada quarto dali uma estranha decoração: móveis no teto, espelhos com molduras feitas de insetos, abajur oval...
O fim do corredor. As paredes tremeram. O começo do corredor se aproxima. Logo, tudo não passa de um cubículo onde os joelhos chegam á altura do pescoço. Algo pressiona o teto. Talvez seja outra parede querendo encontrar-se com sua irmã. Não se sabe. O ar rareia. No seu lugar, outro elemento, mais denso, domina: a morte.

Outras histórias, o mesmo fim: acordar sem fôlego no outro dia.

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