domingo, 2 de dezembro de 2012

Da infidelidade


A ciência precisa ser infiel. Calma, calma. Não estou justificando o adultério entre os pesquisadores. A infidelidade de que falo é de ordem intelectual.
O que ouvimos é que devemos nos apoiar no que já foi produzido para irmos além. A ciência é coletiva e provisória: ninguém chega a uma conclusão sozinho e há que se ter em mente que ela não se sustentará eternamente. Mais cedo ou mais tarde ela será refutada.
Quando nos afeiçoamos ao pensamento do filósofo X ou do físico Y tendemos a nos manter fiel a ele, aplicando ele em todas nossas conclusões. Qual o problema aqui? O preço da fidelidade é a falta de autonomia. Como refutar algo que elevo ao status de intocável?
Não quero com isso dizer que devemos menosprezar todos aqueles que vieram antes de nós. Não podemos correr o risco de sermos ingratos. Há que se considerar o peso de cada pesquisador. Alguns deslizes são aceitáveis, afinal, como dizia Marc Bloch, o homem é mais filho do seu tempo do que de seus pais. Mais uma vez lembremos: a ciência é uma obra coletiva, todos ajudam a desenvolvê-la.
O que se espera é que possamos avaliar a contribuição de cada um (e de nós mesmos), mas sempre conservando um certo grau de independência. Do contrário, como poderemos ir além?

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