Muito se tem falado sobre as transformações urbanas porque Manaus passou na passagem do século XIX ao XX que a transformou na Paris dos Trópicos, mas pouco se sabe sobre a construção do espaço urbano manauara antes.
Alguns estudos tem tentado ampliar a história da cidade nesse aspecto, mas eles esbarram com um problema muito marcante: primeiro, a escassez de fontes sobre o período (uma vez que não foram preservadas devidamente).
No entanto, isso não impediu que se produzissem bons estudos sobre o tema (centrados na literatura dos viajantes e memorialistas da região).
Maria Luiza Ugarte menciona que a cidade foi revitalizada na passagem do século XVIII pelo governador Tenreiro Aranha. Na verdade, não foi bem uma revitalização, mas uma expansão controlada ao longo do rio. No entanto, no século XIX essa expansão foi se descontrolando.
Os viajantes do século retrasado ficaram espantados com o traçado urbano de Manaus. Elisabeth Agassiz menciona sobrados ao lado de taperas, ruas semi-pavimentadas ao lado de igarapés. Ou seja, a topografia era ainda muito primitiva em comparação ás cidades européias que esses viajantes tinham como referencial.
Então vem o ciclo da borracha e a partir daqui todos nós sabemos o que aconteceu com a cidade de Manaus. A cidade passa a ser planejada e remodelada com base na arquitetura moderna. O objetivo era construir uma metrópole no meio da selva. Edinéia Mascarenha Morais demonstra como esse processo de urbanização privilegiou a elite manauara e as casas comerciais estrangeiras (principalmente o seu ponto de escoamento, o porto) e modifcou todo o modo de vida das populações marginais, porque essa urbanização não impunha somente novos padrões arquitetônicos, mas costumes também. Banhos de igarapé, carroças, galinheiros no quintal, tudo isso foi condenado e perseguido, mas conseguiu sobreviver em parte no cotidiano dos manauaras.
Depois, a decadência da borracha e com ela a decadência urbana também. Manaus vive tempos de escassez e de um pretenso conservadorismo. A cidade não cresce mais e os serviços começam a entrar em colapso. Tempos difíceis eram esses até a chegada da Zona Franca em meados da década de 1960. Novamente aqui a urbanização foi conduzida pelo capital, agora mais pelo capital estrangeiro (das multinacionais) que das falidas elites locais. Nova expansão urbana, expansão de periferias é claro. A cidade não foi revitalizada estruturalmente o que se torna e é até hoje um de seus maiores problemas, pois ela não consegue absorver os serviços e fluxo de pessoas e capital com uma estrutura urbana da Belle Epoque.
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