segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Falam dele, mas quem fala não tem razão?


"Nosso Mussolini", esse foi o apelido que o general Newton Cruz recebeu da midia. Também não era para menos. O próprio Newton Cruz reconheceu, em entrevista recente á Geneton Moraes Neto, que sempre foi muito esquentado. Numa das coletivas de imprensa, o então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) perde a cabeça com as perguntas feitas por um repórter. O jornalista relata que teria sido agredido, o que enfurece Cruz que vai pegá-lo no braço para que peça desculpas na frente de todo mundo.
Bem, não preciso descrever muito. O vídeo acima mostra muito bem como tudo aconteceu.
Isso explica porque Newton Cruz se tornou uma figura tão folclórica. Episódios como esse não eram raros com esse general linha-dura. O criador do SNI, general Golbery do Couto e Silva, gostava da competência dele, mas sempre ressaltava que seu temperamento punha quase sempre tudo a perder.
Newton Cruz também ficou associado á ditadura militar. A intolerância com que tratava os repórteres se tornou uma espécie de símbolo da censura á imprensa impsota pelo regime. Tanto que sua exoneração é uma das primeiras medidas tomadas pelo Comando do Exército após o fim da ditadura: o objetivo era apagar tudo aquilo que pudesse lembrar o que veio antes de 1985 e depois de 1964.
Essa atitude tomada pelo Estado Maior do Exército para que houvesse uma abertura á democracia sem maiores atritos, como se pode imaginar, teve um peso muito grande para Cruz que na entrevista mencionada antes afirma que guarda uma mágoa sem tamanho contra o general Leônidas Pires Gonçalves, que acredita ser o responsável por "fazer a cabeça" do Estado Maior.
Esta entrevista, concedida em 2010, é muito importante, ao meu ver, não só porque revela alguns pontos omitidos pelos dados oficiais (como um possível atentado da linha dura, nas proporções do Riocentro, e a proposta indecente feita pelo então candidato á presidência Paulo Maluf ao general para "dar sumiço" em Tancredo), mas porque também procura enxergar Newton Cruz além desses estereótipos construídos por suas ações e em parte pela mídia.
Aliás, a entrevista parece toda construída em cima dessa proposta: o entrevistado tentando desconstruir os mitos ao seu respeito. A todo momento, Newton Cruz tenta deixar de ser o "nosso Mussolini". Acaba que em alguns momentos ele reitera isso, com alguns arroubos de truculência. Fora isso, Newton Cruz, já aos 80 anos, demonstra ser apenas um senhor muito falador e arraigado na doutrina anticomunista. No final, cantando a música "Falam de mim/ mas quem fala não tem razão", reitera esse desejo de esclarecer que é um homem incompreendido, cuja fama, que não dizia respeito á realidade, teria o prejudicado. A pergunta que fica é: será?

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