quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Negritude em versos (Parte I)

Um poeta e um píntor e algumas imagens sobre a cultura negra. A proposta de nosso estudo é de vasculhar a presença da cultura africana na Região Norte através da literatura. Escolhemos dois poemas, criados por artistas influenciados pelo modernismo e comprometidos em formar uma cultura amazônica longe do beletrismo que vinha imperando na Amazônia até então, que são emblemáticos justamente por sugerirem muitos ganchos para o estudo do negro na região.

Caricatura de Bruno de Menezes.
Bruno de Menezes, poeta paraense apaixonado pela cultura negra e um dos grandes expoentes do modernismo na terra do carimbó, era um homem que frequentava desde academias literárias até batuques de candomblé. Já na década de 1950, quando o Clube da Madrugada aqui no Amazonas dá os seus primeiros passos, Bruno já era um intelectual reconhecido. Reconhecido inclusive pelos artistas amazonenses, muitos o considerando uma espécie de sacerdote do movimento cultural que pretendiam operar em Manaus. É o caso de Arthur Engrácio que o considerava um "poeta-poeta" ou Genesino Braga, da tradicional Academia de Letras do Amazonas, que já o chamava de imortal. O imortal veio a falecer nos anos 60, justamente quando o Clube da Madrugada adquire mais força, mas os intelectuais locais trataram de fazer uma merecida homenagem: um busto seu foi feito pelo pintor e escultor Afrânio de Castro ás pressas e exposto na Praça da Polícia, onde se localiza até hoje.


Escultura póstuma de Bruno de Menezes feita por Afrânio de Castro em 1963.

Afrânio de Castro foi um dos tantos discípulos de Bruno, bem como o pesquisador Vicente Salles no Pará. O pintor já tinha se dedicado a realizar uma arte amazônica, abstrata e minimalista, mas através de Bruno passou a se inspirar no colorido e nos significados da cultura negra. Ao lado de Moacir de Andrade, Afrânio foi um dos artistas plásticos que ganhou destaque com o Clube da Madrugada, expondo quadros dentro e fora de Manaus. Como todo bom artista da época, teve seus momentos de aperto, passando a morar no IGHA por um tempo graças ao favor de um amigo. O sujeito de personalidade forte e marretento, que manteve algumas arrengas com Moacir Andrade e Luiz Bacellar, veio a morrer afogado na Ponta Negra na década de 1970. A morte trágica parece acompanhar os artistas amazonenses: mais ou menos na mesma década o jovem pintor Hanneman Bacellar se suicidaria, por não aguentar mais o preconceito e a miséria.
Um fio condutor que une tanto as trajetórias do venerável Bruno de Menezes com a do intenso Afrânio de Castro é a preocupação em retratar uma cultura negra dentro de uma cultura amazônica. Veremos adiante, com mais detalhes, que cada um o faz á sua maneira.
O livro mais famoso de Bruno foi Batuque (1931), de onde retiramos o poema Pai João. Embora Afrânio seja mais reconhecido pelas Artes Plásticas, ele também nos deixou uma ampla produção poética e cronística no Suplemente Madrugada d'O Jornal. Recolhemos das páginas amareladas dos jornais o poema Macumba.

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