segunda-feira, 3 de março de 2014

Descobrindo uma ou outra coisa na solidão gelada


Se alguém me contasse que Perseguição (2011) era um filme de Joe Carnahan eu não acreditaria. Isso porque Carnahan é um expoente do cinema de ação. O próprio Liam Neeson, protagonista desse filme, diz que o baixinho lembra muito aqueles diretores casca grossa que produziam seus filmes noir nos anos 50 com seus inseparáveis charutos cubanos. No prefácio que fez á Kick-Ass 2 entupiu as páginas de palavrões enquanto garantia que dessa vez Mark Millar tinha caprichado no nível de "paudurescência".
Digo isso porque esse filme, que em nada lembra o anterior Esquadrão Classe A (2010) a não ser pela presença de Liam Neeson, tem um ritmo diferente e uma dose de humanismo tocante que dificilmente beira o sentimentalismo. Trata-se de um avião que cai no meio da neve. Dentro dele estavam trabalhadores de uma plataforma petrolífera ali perto. Sabemos de início que um deles é um atormentado caçador, contratado para proteger os demais homens dos lobos. No decorrer do filme somos apresentados a cada um deles, uns mais que outros.
A grande beleza desse filme é essa descoberta do outro. Todos são nivelados pela tragédia e pouco a pouco vamos achando as peculiaridades aqui e ali desses homens (não há melhor exemplo desse processo que as cenas finais). Contudo, é necessário um flashback próximo do fim do filme para que tomemos consciência de que todos estes personagens já nos foram apresentados antes, nas cenas iniciais. E mais: que antes mesmo da queda já havia o desejo, pelo menos em um dos personagens, dessa descoberta do outro. Nesse processo de humanização talvez Carnahan erre um pouco ao colocar toda a força nos diálogos. Assim temos alguns momentos em que as confissões soam ligeiramente forçadas. Como a discussão metafísica no meio do filme.
Mas Perseguição não decepciona como filme de ação também. Como disse, os sobreviventes da queda se vêem no meio de um local inóspito. Não bastasse isso eles tem de enfrentar uma matilha de lobos. Mais uma sacada de gênio aqui foi fazer que os caninos aparecessem pouco. Só vemos seus contornos e seus dentes, mas só isso já basta para tirar o sono de muita gente. Sem contar o modo como os ruídos são explorados. Contudo, os lobos não são os únicos responsáveis por manter os nervos á flor da pele. Há aqui uma cena extremamente tensa e ao mesmo tempo tocante envolvendo um penhasco.
Enfim, é um filme bem atípico. Recomendado.

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