domingo, 2 de março de 2014

Artemanhas I

Saul Steinberg.

Essa eu achei genial.
Um cara fez um livro sobre 50 artistas contemporâneos. E olha que ele caprichou: páginas cheias de biografias, trechos de entrevistas, fotos de suas obras em ótima definição e capa de luxo. Acontece que nenhum deles é real. Todos foram inventados por Bruno Moreschi, o autor do livro, para concluir sua dissertação de mestrado no Instituto de Arte da Unicamp. Quer dizer, o livro é sua dissertação.
A pegadinha aqui faz parte de uma crítica aos dispositivos de consagração da arte atualmente. Moreschi não foi o primeiro: se lembram do Yuri Firmeza que fez a maior badalação na imprensa cearense sobre uma exposição de um artista japonês sensacional que não existia? (Não faz mal, se não se lembra tem um link aqui com mais informações).
Há um tempo conversando com um amigo veio aquela pergunta mais que manjada: o que é arte? Ele veio com essa definição: arte é o que se chama de arte. Parece óbvio, né? Mas experiências como essa de Moreschi e Firmeza comprovam isso. As demarcações, que antes eram ligadas ao conceito de Belo, foram estendidas indefinidamente pelas vanguardas do século XX. A subjetividade comanda, mas não há como deixar de imaginarmos que estas fronteiras frouxas entre arte e cotidiano abrem espaço para charlatanismos. Ora, muitas pessoas enxergam o termo "arte contemporânea" pejorativamente por causa disso.
Mas se tudo é arte, por que excluir o charlatanismo?

*Bem que alguém podia fazer algo parecido sobre o meio acadêmico.
** Me lembrei também de um outro episódio: quando Monteiro Lobato voltou para Taubaté já consagrado nacionalmente como escritor e editor pediram para ele fazer uma palestra na Associação Artística e Literária. O criador de Emília fez um discurso sem qualquer sentido, apenas composto de palavras pomposas tal como "defenestração" e "tuberosidades" e foi aplaudido de pé ao final de sua fala.

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