domingo, 2 de março de 2014

Amores serão sempre amáveis


Passando aqui para recomendar o ótimo post do historiador Valdei Araújo sobre o passado e o futuro hoje: Distopias, futuros adiados e transcendência. A partir de uma música do Chico Buarque (Futuros Amantes), ele reflete sobre como nos apropriamos do passado e como projetamos o futuro hoje, depois da Queda do Muro de Berlim e depois que o gigante acordou e voltou a dormir.
*Em tempo: sempre me incomodou essa expressão "o gigante acordou". Me cheira a ufanismo barato, mas enfim...

Segundo Valdei, a modernidade consagrou dois modos de se ver o futuro: utópico e distópico. O futuro como o melhor dos mundos ou então como o pior dos mundos. A utopia tem muito de nostalgia, afinal procura-se voltar ao que era "antes", sendo esse "antes" um passado sempre idealizado. A distopia bebe muito no niilismo; as coisas não darão certo não apenas por conta da ausência de sentido da história, mas também pelo homem, egoísta por natureza.
Mas o historiador elenca aí uma terceira concepção de futuro, aquela esposada por Chico em sua letra: o futuro adiado, um projeto de realidade que fica suspenso por quanto tempo for necessário até ser chamado a ser realizado.
Muitos tem falado na desintegração da experiência (o maior exemplo aqui pode ser Walter Benjamin) diante da modernidade, mas o que o autor sugere aqui é uma outra percepção de experiência que transcende o presente para encarar a modernidade, para impedir que seja desintegrada.
Na canção, o amor desses dois amantes é sempre remarcado, mas não há angústia nisso. Há aqui serenidade, e é isso em poucas palavras que Valdei propõe como forma de resistir á uma modernidade pulsante e frenética. 
Essa discussão sobre historicidade e temporalidade rende muito. Pretendo debater mais isso em post futuros.
**Além de Chico, Valdei adora Alan Moore e se você cavucar um pouco mais no blog dele vai achar análises de Watchmen e o tempo histórico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário