sábado, 3 de novembro de 2012

O âmago da cidade

Um amontoado de prédios? Uma série infindável de carros? Um barulho, ás vezes ensurdecedor, misto de buzina, motores de veículos, gritos de ambulantes?
É isso a cidade?


Assim pergunta a geógrafa Ana Fani Alessandri Carlos em seu livro A Cidade. Interessada em pesquisar como o espaço urbano é constituído, a autora questiona se podemos entender a cidade por meio desses signos. Sua conclusão é outra: a essência da cidade não está na sua superfície, mas no que se encontra abaixo da sua pele de concreto.
Uma cidade não é feita apenas de prédios, carros e barulho. Uma cidade é mais do que isso. Antes de mais nada, a cidade é humana. É construída por homens e habitada por homens. Sim, o cotidiano em uma grande cidade pode nos dar a impressão de que estamos nos mecanizando, daí sempre enfatizarmos o trânsito e as construções quando pensamos em espaço urbano.
A cidade tem sua história. Ela nem sempre é do jeito como a conhecemos. Seus habitantes a modificam constantemente. Seja material ou culturalmente. O espaço urbano é construído, para Ana Alessandri Carlos, por meio de um jogo entre o Estado, empresariado e cidadãos. Todos sabemos que o mercado imobiliário ou mesmo o comércio e a indústria operam grandes mudanças no traçado urbano. O Estado tenta racionalizar a vida na cidade e o povo... o povo tenta viver na cidade, mas viver em meio á essas imposições e regras, muitas vezes injustas, torna isso mais difícil.
Portanto, a construção da cidade é cheia de tensões. As relações sociais se materializam de forma mais evidente na geografia urbana: bairros nobres, balneários, residenciais de classe média, shoppings, centro comercial. Na cidade temos um conjunto de classes sociais morando lado a lado, por mais que se tentem separar (centro e periferia).
Na cidade também temos uma coleção de tempos e espacialidades diferentes. Cada construção carrega em si estilos diferentes, cada família também possui tradições próprias. Nem todo o perímetro urbano tem características plenamente urbanas. Em alguns casos, a periferia se une com o campo, formando os chamados arrabaldes ou as chácaras.
E além de tudo isso, uma cidade também é cheia de sentimentos e emoções. Impossível negar que somos indiferentes á vida urbana, seus benefícios e suas mazelas. Antes de tudo, vivemos em sociedade. A cidade nos proporciona algumas formas específicas para esse convívio: seja em relação ás instituições que regulam nosso comportamento, seja em relação ás nossas ações. Expressamos essa situação das mais diferentes formas: poemas, grafitti, protestos, confissões, fofocas, músicas, etc. O viver urbano também é cheio de subjetividade.
Seja como for, Ana Alessandri Carlos nos propõe que a cidade deve ser analisada para além de suas formas concretas. Forma e conteúdo não podem ser entendidas se não forem articuladas. Se o pesquisador deseja compreender a sua cidade deve tentar chegar ao seu âmago por meio da análise de seu traçado, de sua história, de suas classes e de sua cultura, sempre respeitando a diversidade e a complexidade.

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