quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Medindo o Oriente II: Inverno Palestino?


Você sabe a diferença entre um cachorro doido e um cachorro brabo? O cachorro doido morde sem razão.  Assim um vizinho me explicou uma vez a diferença entre seu Doberman e um vira-lata com raiva que vivia tocando o terror na nossa rua. Seu cão tinha sido treinado para ser feroz, infelizmente, á base de muitas surras. Assim só restava ao animal duas opções: ser submisso ou ser agressivo.
A imprensa pinta o Estado de Israel como um cachorro doido. Muitos os comparam aos algozes nazistas. Mas vamos tentar compreender algumas coisas antes de prosseguirmos nossa análise. Israel foi criada por uma resolução da ONU no final dos anos 40. Foi decidido que os judeus do mundo todo agora teriam uma nação, ainda que fosse em território ocupado por outros povos como os palestinos. Tal ação originou um sentimento de hostilidade por parte dos demais países vizinhos de maioria árabe. Nos anos seguintes, o apoio dos EUA (como forma de conseguir aliados no Oriente Médio contra a URSS) apenas acirrou o conflito. 
Assim, Israel nasceu sob a égide do conflito. Nos anos 60, a situação se agrava com as guerras dos Seis Dias e do Yom Kippur. Já nos anos 80, temos a Intifada, a série de ataques palestinos contra o domínio israelense. Aos israelenses, a segurança nacional vem em primeiro lugar. Como a hostilidade da região já é antiga, há até um pouco de verdade nesse discurso, no entanto, é sabido que já faz tempo que o discurso da segurança nacional se tornou uma plataforma política. Diante desse quadro pouco otimista, em que os conflitos apenas se multiplicam, as autoridades insistem em continuar nessa via.
Por outro lado, o drama dos palestinos não é oriundo somente do imperialismo israelense, mas também da incapacidade das autoridades locais se articularem. O grupo Fatah de Yasser Arafat, responsável por levar a bandeira da libertação da Palestina para o resto do mundo, começou radical, mas quando assumiu a liderança da Autoridade Nacional Palestina (uma grande conquista, afinal até 1993 a região não tinha o direito de se auto-governar) perdeu um pouco de sua aceitação popular por conta de muitos membros envolvidos em esquemas de corrupção. O Hamas aparece então aos olhos dos palestinos cansados dos mesmos escândalos e opressão como o único grupo comprometido com a libertação da região. Daí a aceitação do Hamas ter crescido, enquanto a Autoridade Nacional Palestina parece se tornar a cada dia mais obsoleta e impopular. O problema é que o Hamas apela inadvertidamente para atentados contra o país vizinho.
Há mais de uma semana, mísseis atravessaram a fronteira israelense o que motivou uma retaliação á Palestina pelos atos do Hamas. Na tentativa de punir os culpados vidas inocentes vão se perdendo. O ódio e o sofrimento se prolongam apenas. Uma solução pacífica parece cada vez mais distante no horizonte com um governo irredutível e um grupo disposto a continuar atiçando lenha na fogueira.
Enquanto o sopro da Primavera Árabe parece sinalizar para uma transformação no Oriente Médio, a relação entre israelenses e palestinos continua quase a mesma. Ambos estão longe de serem cachorros doidos, como a mídia tenta demonstrar, uma vez que possuem motivos para serem "brabos" uns com os outros. A verdade é que julgar os dois lados desse dilema é muito fácil para nós que não conhecemos e principalmente não vivemos essa realidade. Se a lógica até agora tem sido "atacar pra se defender", mesmo com tantos apelos internacionais de diálogo, é porque no meio de tanto sofrimento e medo o "sangue-quente" parece ainda dar as cartas. Num contexto assim, os extremistas (sejam sionistas ou do Hamas) saem vencedores, para infelicidade da Humanidade.

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