domingo, 18 de novembro de 2012

Medindo o Oriente I: Á Espera da Primavera


O pan-arabismo, movimento político que abalou o Oriente Médio durante os anos 50 a 70, nasceu no Egito com Nasser. O fundamentalismo moderno também, com a estrutura da Irmandade Muçulmana e com o pensamento de Sayd Qtb. A Primavera Árabe começou na Tunísia, mas tornou-se mais emblemática no Egito com a queda de Mubarak que governava o país há mais de 30 anos com a benção dos EUA.
Essa curiosa coincidência é o suficiente para que muitos analistas políticos alegassem que a democracia seria um destino inevitável para o resto do Oriente Médio. Não uma democracia ocidental, como aquela que os EUA tentam empurrar goela abaixo nos países locais há décadas, mas uma democracia árabe, construída e idealizada por eles próprios.
Tenho uma certa bronca com analistas políticos justamente poque eles podem tomar uma coincidência por tendência histórica. Aliás, os historiadores também fazem a mesma coisa. Vejamos o caso do historiador Bernard Lewis, especialista em Oriente Médio e consultor da Casa Branca sobre assuntos dessa região: Analisando a história do Oriente Médio, sempre governado por impérios estrangeiros (Romano, Bizantino, Turco-Otomano, etc.), ele chega a conclusão de que o carma dos povos árabes é ser dominado por potencias de fora. A ascensão do fundamentalismo islâmico seria uma espécie de crise de abstinência - tantos anos sem ser governado por outrem, faz com que eles sonhem em se auto-governarem, mas por meio de atitudes primárias, como ordens religiosas.
É visível aonde Lewis quer chegar: vamos colonizar o Oriente Médio.
Cabos eleitorais de Mohammed Mursi.

Voltemos á Primavera Árabe. Em 2011, ela prometia ser um sopro indestrutível de renovação. No entanto, na Líbia e na Síria encontrou obstáculos poderosos. Ora, o sucesso depende da situação de cada região. Se temos uma classe militar forte na Síria e confederações de tribos ainda leais á Kaddafi na Líbia é claro que o conflito será feio.
Outra coisa: muitos enxergaram na porta aberta pelas revoltas, um passe livre para o fundamentalismo islâmico chegar ao poder. Com medo do sonho virar pesadelo, funcionários do governo e das Forças Armadas no Egito, que ajudaram na transição á democracia, começam a impor uma série de restrições ás atitudes do novo presidente eleito, Mohammed Mursi, membro da Irmandade Muçulmana. A mãe de todas as cédulas terroristas, no entanto, não está mais na "moda": o modelo atual de fundamentalismo se ampara ou no xiismo radical de Khomeini ou na Al Quaeda de Bin Laden. Será que a Irmandade Muçulmana se reinventou, tornando-se uma organização democrática e não mais uma associação terrorista?
A eleição de Mursi foi o bastante para prever um Oriente Médio infestado de governo fundamentalistas legítimos, eleitos pelo povo. Mais uma vez o argumento do Oriente Médio se espelhar no Egito foi usado. Eu honestamente não faço ideia do que acontecerá. Há alguns anos a situação era o menos otimista possível: ditaduras e teocracias era tudo que se enxergava ali. Hoje, por meio dessa ação espontânea e popular, acredito que devemos dar mais crédito ao inesperado. Talvez o futuro do Oriente Médio nos surpreenda, positivamente.

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