domingo, 1 de julho de 2012

Terra do Prata em Transe



Por causa das tribulações com o TCC não acompanhei muito bem o que vem acontecendo no Paraguai. Agora, com mais calma e mais tempo, pude me inteirar dos fatos. E vamos á eles:
A) Fernando Lugo foi alvo de um impeachment aprovado pelo Senado, ou seja, ele foi destituído do cargo de presidente por vontade dos senadores.
B)O motivo? Lugo estaria incentivando conflitos agrários, como o último que aconteceu no interior do país que terminou com 17 mortos. Se não incentivando, no mínimo sendo conivente com eles, na avaliação da oposição.
C) O novo presidente, até então vice de Lugo, Frederico Franco tem sofrido acusações do próprio Lugo e dos vizinhos latino-americanos de compactuar com um golpe branco, tanto que o país agora foi suspenso da Mercosul.

O que muito tem se questionado é se isso foi um golpe, ou seja, se a elite paraguaia atropelou a democracia e cortando as asas de um presidente popular. Bem, que Lugo é popular em seu país não é de se duvidar, por conta das medidas que tem feito, sendo uma delas a promessa de uma verdadeira reforma agrária. Algumas outras promessas de campanha não foram cumpridas, abaixando um pouco de sua popularidade inicial, mas mesmo assim ele ainda é mais ovacionado que seus opositores - principalmente aqueles pertencentes ao tradicional Partido Colorado que governa o país há quase 60 anos.
Quanto a questão do impeachment, foi ele legal ou não? Claro que foi legal, a Constituição paraguaia ampara as decisões do Senado como forma de cercear os poderes do Executivo. É aquela velha lei dos três poderes onde cada um barra o outro, equilibrando assim as forças, evitando que um se sobressaía sobre outro. O que está em jogo não é a legalidade, mas a legitimidade. Toda acusação deve vir precedida de uma defesa. Mesmo em caso de impeachment. Lembre-se de Fernando Collor, onde uma CPI foi instaurada e ele teve tempo de responder ás acusações. No caso de Lugo, tudo foi muito rápido.Na quinta o processo foi aberto e já na sexta foi julgado. Uma equipe de cinco advogados foi intimada a comparecer para a defesa ás 13h. Já ás 18h30 mais ou menos, o caso foi votado (quatro votaram a favor de Lugo e 39 á favor de sua saída da presidência).
Quer dizer, essa rapidez e essa unanimidade são muito suspeitas. Os demais países do continente estão se contorcendo, mas não é porque estão diante de uma "ditadura", mas sim porque perceberam que a direita descobriu um meio de manobra na política que não passa necessariamente pela decisão clássica do apelo ás Forças Armadas. Em outras palavras, o que os líderes populistas tinham descoberto 50 anos atrás e foi redescoberto recentemente por uma nova safra de estadistas latino-americanos (de que a democracia pode ser manipulada sem apelar para a força) começou a ser utilizado agora pelas direitas da América do Sul.

Nenhum comentário:

Postar um comentário