sexta-feira, 22 de junho de 2012

Alguns conselhos de um mestre


Na revista da Academia Amazonense de Letras n. 31 (Dezembro de 2011), Jorge Tufic nos presenteia com um ensaio chamado A Palavra na Ficção que é uma verdadeira "mão na roda" para quem quer começar a escrever contos. Coloco aqui abaixo apenas alguns trechos do texto:

Comecemos pelo emprego exagerado de lugares-comuns e gírias. Os livros estão cheios de "nariz aquilino", "lágrimas de crocodilo" e outros chavões. Se não é possível a metáfora, que se descreva o nariz do personagem com criatividade.
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O mau uso dos diálogos tem sido outro pecado de muitos escritores. É o caso de personagens do tipo Zé Perequeté falando como literatos, isto é, o oposto do uso excessivo de gíria ou transcrição da fala do joão-ninguém. José de Alencar é criticado por ter posto nos lábios de seus índios o modo de falar dos portugueses. O romantismo tinha lá, porém, suas leis, como a de que os diálogos nunca reproduzissem a fala dos "sem-fala". O sertanejo que falasse como o doutor da cidade, com acatamento e respeito às normas gramaticais.
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Passemos aos personagens. Um dos erros mais comuns é o excesso de personagens em contos. A não ser que somente dois ou tres deles participem diretamente da ação. A primeira causa disso será o surgimento de personagens desnecessários, sem lugar na ação, supérfluos. Depois, a confusão no enredo. O tamanho da narrativa não comporta muitos personagens.
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Vejamos a descrição dos personagens. O narrador não precisa descrever o caráter dos personagens. Se fulano é mau ou bom, não cabe ao narrador qualificá-lo e, sim, ao leitor. Suas ações e suas palavras o pintarão aos olhos do leitor.
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Agora a questão do narrador. Durante muito tempo prevaleceu em prosa de ficção a onisciência do narrador, fosse personagem ou não. Tudo mudou a partir de James Joyce, porém. O narrador onisciente desapareceu. Os pensamentos dos personagens não podem ser do conhecimento do narrador. "Fulano tencionava matar sicrano". "Ele se sentiu culpado por alguma coisa" A interferência excessiva do auto-narrador é um mal maior para a narrativa.
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Em suma: para escrever boa prosa de ficção é preciso, além de conhecer todas as técnicas de narrar e muito talento, saber lapidar, transpor, alterar, substituir, riscar, cortar, remendar, costurar palavras, frases, parágrafos inteiros. E não ter medo do cesto de lixo, ser cruel consigo mesmo.

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