domingo, 27 de maio de 2012

Só um pensamento...

Imagine a cena: um professor está falando sobre a colonização do Brasil, o papel dos missionários na catequese dos índios e um aluno ao ver uma palavra estranha no texto pergunta:
-Professor, o que é "doutrinação"?
-Doutrinar é impor um modo de vida, uma filosofia, uma visão de mundo á pessoas que pensam diferente de você.
-Ah, mais ou menos como o senhor faz com a gente?
-Não, o que eu faço com vocês é diferente...
-Diferente como?
Vamos ir na onda do aluno, será que nos ensinar sobre a Idade Média não soa um pouco como doutrinação? Claro, pertencemos á sociedade ocidental (ainda que perifericamente), mas será que dar mais ênfase ao desenvolvimento da Europa não é exaltarmos o eurocentrismo?
Calma, não pensem que estou pedindo que queimem todos os livros didáticos de História que falem da Europa. Mas não seria muito mais interessante desenvolver conteúdos relacionados não só ao Brasil, mas ao Amazonas?
Em nossa região a História é muito mais palpável, mesmo após tantas e tantas mudanças que modificaram a cara de nossas cidades. Mas ainda assim podemos encontrá-la em passeios pelo centro da cidade, pelos museus, pelas praças, enfim. E não é necessário nem recorrer á monumentos ou instituições: há também o relato dos mais velhos das comunidades.
Acredito que pelo fato dessa história regional estar mais próxima do aluno ele pode se interessar mais pelos demais conteúdos. O problema não é ensinar Idade Média, mas entender porque é importante estudá-la e para isso precisamos nos reportar ao presente. Todo tipo de período histórico está fundindo com o presente, no entanto, uns são mais visíveis que outros, como no caso da história regional.
Só isso resolve? Não. O professor de História teria de saber como articular os saberes do presente com os do passado, como utilizar o interesse do aluno para fazê-lo entender seu contexto. Nesse sentido, visitar a histórica Rua Japurá e conversar com o pessoal que organiza a tradicional Festa de São Benedito não é importante só por aproximar duas gerações diferentes, mas para fazer os alunos entenderem também como se dá essa relação entre uma comunidade e uma cidade que se urbaniza desordenadamente como Manaus.
Já sabemos que a escola é um local de doutrinação também, ela não escapa de relações de poder. Mas é preciso também sabermos articular o ensino com outros ambientes educacionais. Ora, a educação também pode se dar em casa ou na rua. A escola não é a única, mas uma das formas de se educar. E se vamos educar nos atentando para estas outras formas, também devemos ficar de olho nas relações de poder que também existem nesses outros locais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário