sábado, 19 de maio de 2012

Pensando aqui, escrevendo ali...


Agora, na reta final do curso de História, descobri que muitos colegas tem uma dificuldade enorme em escrever seus artigos e dissertações de conclusão de curso. Outro dia, aproveitando o gancho da Bienal do Livro no Amazonas, falamos de como a leitura e a escrita são dois atos quase que exóticos entre nós. Vamos pensar mais um pouco sobre isso.
Em primeiro lugar, a maior dificuldade dos meus colegas está nas diretrizes acadêmicas, em outras palavras, no esquema de como se faz um artigo e nas regras da ABNT. Em segundo lugar, o tempo. Escrever é algo demorado, muito trabalhoso, demanda muita concentração. Concentração essa que muitos não conseguem desenvolver com tão pouco tempo, diante de suas horas de trabalho. Fala-se muito que os escritores tem o dom de escrever bem, mas não se comenta que isso é trabalhado. Pode até ser que alguns nasçam com esse talento, mas ainda assim é preciso desenvolver muito ele para que se chegue no nível desejado e festejado por todos.
Em terceiro lugar, estamos falando de um país onde a escrita ainda é um privilégio. Diz-se que não temos mais analfabetos. Diz-se que o brasileiro está lendo mais. Mas não se procura saber como se chegou nessas afirmativas. A resposta dada sempre são os programas de alfabetização do governo. Eu me pergunto até que ponto eles tem ajudado, porque a maioria dos brasileiros na verdade são analfabetos funcionais. Ou seja, aprenderam a ler e escrever, mas não possuem nem de longe o domínio dessas técnicas. Resultado: não conseguem ir além do básico.
Exige-se no ensino superior espírito crítico e poder de interpretação, mas no ensino fundamental se prioriza a decoreba, a mal e porca alfabetização. O brasileiro pode até estar lendo mais, mas ele consegue interpretar melhor os textos? Ele consegue escrever, se expressar melhor? Vou ser otimista e acreditar que essa alfabetização seja um primeiro passo para se chegar a uma situação melhor. Se não se investir em um ensino qualitativo e não só quantitativo de nada adianta os MOBRAIs, a Educação de Jovens e Adultos...
Quarto lugar, o brasileiro também tem uma certa ojeriza em relação á ler e escrever. Nos meios intelectuais se cultua esses atos, até como forma de reafirmar status ás vezes, mas no cotidiano da maioria das pessoas a escrita tem um papel importante mas limitado. Na falta de contato com as letras, desenvolvemos melhor nossa linguagem visual e oral, o que não quer dizer que seja algo ruim, é apenas uma constatação. Por isso, entre um livro e um causo falado a maioria prefere o causo. Nós temos muito mais familiaridade com a palavra falada ou com a imagem. O brasileiro é o mestre da oralidade. Os gestos, a entonação e até o uso do silêncio são as ferramentas utilizadas por ele, muitas vezes genialmente, para narrar algo ou expressar seu ponto de vista.
Enfim, valorizar a leitura não é o único recurso na defesa de um país socialmente mais justo. Ora, podemos ir muito além dos projetos educacionais do governo e propormos um intercâmbio entre a cultura escrita e a cultura falada. Mas isso é papo pra outro post.

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