sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Greve á paisana II


Agora vamos refletir um pouco sobre a situação. A imagem que temos da polícia no Brasil é a do policial truculento e corrupto, mas ninguém se interessa em perguntar o por quê disso. Ora temos sim policiais desse tipo, mas a maioria não é assim. Muitos entram na corporação pensando em realmente serem agentes da lei. O que acontece no meio do caminho? O salário baixo, as propostas tentadoras dos criminosos (estou pensando aqui especificamente no caso do Rio de Janeiro) e a burocracia corrompem o cara.
Em Tropa de Elite, José Padilha tenta nos mostrar isso muito bem. Em algum momento ele diz que isso já se tornou uma cultura da corrupção, da violência. Concordo. Mas o debate sobre a segurança pública no Rio foi deixado de lado justo no momento mais oportuno: a ocupação do Complexo do Alemão e da Favela da Rocinha. De repente, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) se tornaram uma panaceia, o remédio dos remédios para endireitar o Rio. E não é só isso. Outro momento oportuno para discutirmos, a greve dos bombeiros no ano passado. O governo tratou tudo como motim militar. A população chiou, manifestando sua gratidão para as pessoas que ajudariam o Rio a mudar de cara.
Agora, como aponta o Francisco Chao, temos outra oportunidade para discutirmos sobre isso. E dessa vez de forma séria e profunda. O deputado estadual Marcelo Freixo, que participou de uma CPI das Milícias e chegou a ser ameaçado de morte, concorda com o debate, embora tenha um pé atrás com a greve.
Eu também tenho um pé atrás com a greve. Afinal, a paralisação deixa a população toda á mercê dos bandidos. Acho interessante a proposta de um dos grupos da PM baiana de continuar trabalhando, mas protestando. Isso pode conquistar o apoio do povo baiano, que parece ter sido perdido diante de algumas mortes que aconteceram por causa da greve em Salvador.
O movimento ainda é muito desorganizado. Falta mediadores. Falta conquistar apoio de outras entidades também (na Bahia o Sindicato dos Bancários aderiram). A situação está ruim sem polícia nas ruas? Está, mas imagine se continuar do mesmo jeito que antes. Com policiais vendidos fazendo vista grossa ou aprontando nas habituais zonas vermelhas. Agora parece que podemos mudar esse painel sombrio, mas só com muito diálogo, muita negociação. E é exatamente isso que não está acontecendo.
O que não ajuda e nenhum pouco nessa situação difícil é o modo como o governo e a imprensa lidam com o acontecimento. Na Bahia, que falarei aqui menos por ter pouco conhecimento de causa da situação lá, o governo de Jacques Wagner levou tropas de choque contra os grevistas e prendeu algumas de suas lideranças. Muitos ficaram surpresos: mas o Wagner não é do PT? A linha de governo do PT mudou, está mais próxima do neoliberalismo que outra coisa. Mesmo derrotando o clã de ACM, Wagner só demonstra com essas atitudes que dele pode se esperar uma nova dinastia baiana. A negociação foi para o espaço.
A imprensa também têm caído em cima dos movimentos, ressaltando o prejuízo das greves e associando o tom dos líderes da greve com o de bandidos. Principalmente a Rede Globo, daí a hostilização dos grevistas contra seus jornalistas. Ora, em toda greve existem pessoas que se aproveitam do conteúdo político para sobrepor seus interesses, agora dizer que todos os líderes do movimento na Bahia e no Rio tem esse mesmo perfil é generalizar ao extremo.
No discurso, estes dois adversários dos grevistas tem batido, indiretamente, na mesma tecla do "policial corrupto e violento", impedindo-nos de enxergarmos o lado á paisana, por assim dizer destes elementos da segurança pública nacional. Aumento no salário e nas gratificações vai resolver tudo? Não. Mas já é um começo. Só não podemos perder de novo a oportunidade de sanear nosso sistema de segurança. 

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