sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Um marechal entre as malocas

O marechal Candido Mariano Rondon (1865-1958) costumava aconselhar os membros do Serviço de Proteção aos Índios, fundado por ele em 1910, que se diante de alguma adversidade com tribos indígenas era melhor "morrer se preciso for, matar nunca".
Rondon e sua máxima são famosos até hoje quando se discute questão indígena. Não é a toa. Desde que esse militar, de origem bororo, participou do serviço delimitação de fronteira e fixação de postes telegráficos no interior do Brasil e entrou assim em contato com os povos indígenas dessa região começou a sua preocupação com o destino desses povos. Preocupação que perduraria por toda a sua vida.
Em suas andanças, Rondon encontrou muitas aldeias á míngua, quase sendo destruídas por doenças como a varíola ou por ataques de grileiros. A maioria dessas comunidades sempre lhe recebeu de braços abertos, algumas até esperando que ele fosse o seu grande salvador, retirando-os da miséria. Isso deve ter sensibilizado muito o então quarentão coronel do Exército.

Rondon estudou na Escola Militar da Praia Vermelha na virada do século e, como muito de seus colegas, apreendeu ali a cultivar uma rígida disciplina e a apreciar o Positivismo. Ordem e Progresso era o lema da nossa bandeira e do ideal positivista. Para essa ideologia, a Humanidade tem estágios de evolução: os primeiros, são os mais primitivos, e a tendência é se chegar até o último, o Estado Positivo ou Científico, onde a razão passa a guiar as pessoas e os sentimentos bárbaros e violentos são deixados de lado.
No Brasil, essa corrente de pensamento foi uma das mais fortes durante a República Velha, contudo fizemos uma leitura toda nossa do Positivismo: enquanto August Comte, seu fundador, acreditava que essa evolução seria feita primeiro na sociedade, para depois atingir o Estado, o político gaúcho Júlio de Castilhos acreditava que deveria acontecer o contrário e Benjamin Constant, republicano histórico e professor de gerações de militares, defendia que só chegaríamos ao estágio positivo com a ajuda do Exército.

O que isso tem a ver com a questão indígena? Rondon, sendo fortemente positivista e nacionalista, inseriu a problemática indígena nessa discussão. A sociedade brasileira teria que incorporar os "primeiros brasileiros" se quer se tornar evoluída e uma das maneiras de se efetivar essa incorporação é justamente o Exército, segundo a interpretação de Rondon. Por isso, o general incentivou o ingresso de tantos jovens indígenas nas fileiras do Exército. Prometia á eles uma educação gratuita, uma carreira sólida e um certo prestígio.
O que encontramos na interpretação de Rondon é aquela velha associação do indígena com o arcaico e o primitivo. A conclusão a que se chega: A sua cultura é louvável, mas sua extinção pelo Progresso é inevitável, o que podemos fazer então é incorporá-lo, aculturá-lo. Mesmo carregando um pouco de etnocentrismo, marechal Rondon foi uma das poucas figuras públicas que nutria uma simpatia e uma preocupação com os povos indígenas. Um dos poucos que no alvorecer da Primeira República se dedicou a discutir as políticas indigenistas, diante da indiferença geral que reinava na sociedade sobre tal assunto.

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