segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Homens e muros (parte II)


Dando um passeio por Manaus é meio que inevitável não perceber o que está escrito ou desenhado em seus muros. Se limitando na área, digamos assim, central (Adrianópolis, Centro Histórico, Coroado, Praça 14) encontraremos grafittis e pichações, segundo a classificação que abordamos antes, convivendo junto.
A verdadeira febre ultimamente tem sido a frase "ÉORAP" e suas variações (EORAP...3R, É EORAP..., etc). Como uma epidemia, estas palavras parecem ter infectado cada muro da cidade. Nem o Encontro das Águas escapa, numa montagem feita no Facebook. O que significa? Uma brincadeira cujo significado só meia dúzia de gatos pingados sabe? Pode ser. Como dissemos, o anonimato e a possibilidade de ter muitos significados é uma característica dessa prática urbana, o que produz algumas frases obscuras como essa.
Em um muro na Rua Major Gabriel, antes de se chegar ao conjunto de casinhas pré-moldadas do Igarapé de Manaus (acho que uma quadra antes) podemos ler, entre as rachaduras do reboco: "Só peixe morto que nada com a correnteza". Uma mensagem interessante de inconformismo.

Na Avenida Paraíba, na altura do ponto de ônibus em frente á Escola Ida Nelson, atrás da parada, uma imagem da logomarca da TV Globo acompanhados da frase: "Cuidado! Veículo de Alienação em Massa!" Indo na direção do hospital Check Up encontraremos um desenho de um homem carrancudo dizendo "Manaus Reallity Show!" Este último é assinado por Buiú e Zé, uma dupla que já assinou outros trabalhos pela cidade, principalmente no bairro de Adrianópolis.
Há também os mais bairristas: num muro branco na Rua Leonardo Malcher, atravessando a Rua Japurá, podemos ler "Sou Bairo 14!" Desculpando a falta do segundo "r", até que é uma declaração válida de orgulho por pertencer á essa comunidade. Será que foi feita na época do carnaval, quando as rivalidades das Escolas de Samba afloram? Não se sabe.
Ainda na Leonardo Malcher, mas próxima da Rua Tapajós e da escola Lato Sensu, em um muro sem graça, há um desenho de um rapaz com uma rosa saindo de um de seus dedos e uma estrela de David do outro. Ao lado uma mensagem escrita: "Vamos Amar Mais" (se não me engano).
Pena que não carrego comigo sempre uma câmera fotográfica para registrar estes desenhos para vocês, mas espero que tenha dado uma boa mostra do que se esconde pelos muros de Manaus, no meio de declarações de amor, nomes de grupos ou gangues e até mensagens religiosas. O que eu apenas gostaria de salientar aqui, antes de terminar esse trecho, é que os muros de Manaus tem uma tradição de experimentalismo, mais antiga do que se pode imaginar. Basta dizer que o Clube da Madrugada, movimento cultural que surgiu nos anos 50 em Manaus, teve um papel muito importante nisso. No próximo tópico falaremos mais sobre isso.

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