sábado, 29 de outubro de 2011

Pensando e repensando Javé III

Narradores de Javé (2003) também pode ser pensado como uma narrativa mítica. Não só porque muito do que é contado pelos moradores tem esse tom, mas porque o próprio rumo da história indica isso.
Javé é uma cidade fundada por pessoas á procura de terras seguras para poder viver. O que a represa faz, inundando a cidade, é retomar ao começo: novamente temos pessoas á procura de uma nova área onde, com certeza, fundarão uma nova cidade.
Essa circularidade, chamada de eterno retorno, é um dos pontos básicos do mito.O mito, já falamos aqui antes, é uma narrativa, uma tentativa de compreender o mundo. Quase sempre é utilizado como forma de legitimar uma ordem social. As histórias contadas pelos moradores podem ser vistas como tentativas de cada um se legitimar, de reclamar pra sim um status todo especial que remonta ás origens.
As origens, aqui está outro ponto interessante. Todo mito se reporta á origem, seja do mundo ou de determinada sociedade. A origem de Javé se torna mito. Seus fundadores se tornam guerreiros destemidos, bravas mulheres, cavaleiros cômicos e até mesmo líderes quilombolas. De todos os narradores, o ancião do quilombo é o que mais encarna essa dimensão mítica da fundação da cidade: ele conta a história através de elementos místicos e reais, dando especial importância para o ato de contar, tanto que decide não falar mais depois de ver a incredulidade de Biá.
Ao final, a história se repete e os javeenses tem de encontrar um novo local onde poderão contar e recontar essa história como acharem convenientes, pelo que dá a entender não só pela última fala de Zaqueu, mas pelo recomeço do bafafá sobre quem salvou o sino da igreja em torno de Antônio Biá.

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