Djalma Batista. Foto: Roberto Mendonça Furtado. |
Quando Djalma Batista, médico acreano que se radicou em Manaus, escreveu Complexo da Amazônia em fins da década de 1970 pretendia fazer um grande diagnóstico de toda região. Para o bom doutor o diagnóstico era simples: o subdesenvolvimento. A razão dessa doença, contudo, era das mais variadas, mas um de seus principais motivos era o extrativismo. Para Djalma, desde a colonização até o século XX a história da Amazônia tem sido a história do predatismo, tem sido a luta do homem contra a natureza. Se parece que o homem está ganhando ao desmatá-la e polui-la na realidade ele só está se iludindo. Sem a natureza o homem morrerá. E na Amazônia isso fica muito claro, principalmente porque o solo amazônico é pobre de substâncias, se sustenta apenas com o material produzido pelas plantas e os animais. Uma vez varrido o manto verde a terra virará deserto.
A Amazônia para Djalma é um ecossistema importantíssimo e ao mesmo tempo delicadíssimo. Se o homem quer mesmo sobreviver deve preservá-la. Mas não transformá-la em um museu vivo, mas conviver com esse bioma, de forma respeitosa e inteligente. Isso é o que ele chama de "desenvolvimento auto-sustentado".
Como fazer isso? Antes de tudo sabendo onde estamos pisando. Sem os estudos dos cientistas talvez descobríssemos essa falsa riqueza do solo amazônico tarde demais. Djalma clama para a Amazônia cientistas. Só depois de conhecer e entender esse fantástico bioma é que saberemos exatamente o que fazer sem correr o risco de condená-lo e com isso a todos nós.
E tenta inventariar o que sabemos sobre a região com base em estudos históricos, geográficos e biológicos. Djalma Batista é um pensador muito sagaz que domina a interdisciplinaridade, pulando da Medicina para a Geografia como se fosse um verdadeiro especialista nas duas. Esse livro é a maior prova disso.
Após apresentar cada aspecto, não deixa de avaliar como ele tem sido tratado pelos nossos governantes, levando em conta sempre os lados positivos e negativos. Justamente por operar dessa maneira que o livro se tornou um tanto polêmico. Na última parte, destinada a analisar as políticas de desenvolvimento criadas na história da Amazõnia recente, Djalma critica o Banco da Amazônia, a Sudam e a Zona Franca de Manaus. Bom lembrar que essas instituições foram implementadas na Amazônia á pouco tempo e estávamos vivendo o momento do regime militar.
Esses são apenas alguns dos motivos que fazem desse seu livro essencial para todo aquele que procura conhecer e pensar realmente sobre a Amazônia. Muitos tem dito que Djalma é um homem á frente de seu tempo, principalmente por defender uma teoria ecológica antes mesmo do próprio movimento ecológico formulá-la completamente. Suas avaliações também eram altamente lúcidas, prevendo os efeitos desastrosos das políticas de desenvolvimento imediatistas como o inchamento das capitais e esvaziamento do interior, além da violência e da crise da infra-estrutura urbana.
O grande amazonólogo era sim um inovador, mas mesmo assim não fugia das influências do seu tempo. Djalma defendia um projeto nacional-desenvolvimentista, ideologia criada na década de 1950 e levada á cabo pela ditadura militar. Um dos pressupostos básicos dessa ideologia é acabar com o subdesenvolvimento através da industrialização, integrando o Brasil e não mais existindo aquele dualidade entre o Brasil urbanizado e rico e o Brasil pobre e rural. Ainda assim, Djalma não engole simplesmente a ideologia desenvolvimentista, repetindo o que os outros vinham dizendo. O intelectual a adota, mas antes critica alguns pontos que considera equivocados como considerar como desenvolvimento apenas o crescimento do poder aquisitivo. Para Djalma, o desenvolvimento é um processo mais amplo que envolve a política, a sociedade e a cultura.
A leitura de Complexo da Amazônia, portanto, é mais do que recomendada.
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