quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Os diagnósticos do Dr. Djalma Batista

Djalma Batista. Foto: Roberto Mendonça Furtado.
Quando Djalma Batista, médico acreano que se radicou em Manaus, escreveu Complexo da Amazônia em fins da década de 1970 pretendia fazer um grande diagnóstico de toda região. Para o bom doutor o diagnóstico era simples: o subdesenvolvimento. A razão dessa doença, contudo, era das mais variadas, mas um de seus principais motivos era o extrativismo. Para Djalma, desde a colonização até o século XX a história da Amazônia tem sido a história do predatismo, tem sido a luta do homem contra a natureza. Se parece que o homem está ganhando ao desmatá-la e polui-la na realidade ele só está se iludindo. Sem a natureza o homem morrerá. E na Amazônia isso fica muito claro, principalmente porque o solo amazônico é pobre de substâncias, se sustenta apenas com o material produzido pelas plantas e os animais. Uma vez varrido o manto verde a terra virará deserto.
A Amazônia para Djalma é um ecossistema importantíssimo e ao mesmo tempo delicadíssimo. Se o homem quer mesmo sobreviver deve preservá-la. Mas não transformá-la em um museu vivo, mas conviver com esse bioma, de forma respeitosa e inteligente. Isso é o que ele chama de "desenvolvimento auto-sustentado".
Como fazer isso? Antes de tudo sabendo onde estamos pisando. Sem os estudos dos cientistas talvez descobríssemos essa falsa riqueza do solo amazônico tarde demais. Djalma clama para a Amazônia cientistas. Só depois de conhecer e entender esse fantástico bioma é que saberemos exatamente o que fazer sem correr o risco de condená-lo e com isso a todos nós.
E tenta inventariar o que sabemos sobre a região com base em estudos históricos, geográficos e biológicos. Djalma Batista é um pensador muito sagaz que domina a interdisciplinaridade, pulando da Medicina para a Geografia como se fosse um verdadeiro especialista nas duas. Esse livro é a maior prova disso.
Após apresentar cada aspecto, não deixa de avaliar como ele tem sido tratado pelos nossos governantes, levando em conta sempre os lados positivos e negativos. Justamente por operar dessa maneira que o livro se tornou um tanto polêmico. Na última parte, destinada a analisar as políticas de desenvolvimento criadas na história da Amazõnia recente, Djalma critica o Banco da Amazônia, a Sudam e a Zona Franca de Manaus. Bom lembrar que essas instituições foram implementadas na Amazônia á pouco tempo e estávamos vivendo o momento do regime militar.
Esses são apenas alguns dos motivos que fazem desse seu livro essencial para todo aquele que procura conhecer e pensar realmente sobre a Amazônia. Muitos tem dito que Djalma é um homem á frente de seu tempo, principalmente por defender uma teoria ecológica antes mesmo do próprio movimento ecológico formulá-la completamente. Suas avaliações também eram altamente lúcidas, prevendo os efeitos desastrosos das políticas de desenvolvimento imediatistas como o inchamento das capitais e esvaziamento do interior, além da violência e da crise da infra-estrutura urbana.
O grande amazonólogo era sim um inovador, mas mesmo assim não fugia das influências do seu tempo. Djalma defendia um projeto nacional-desenvolvimentista, ideologia criada na década de 1950 e levada á cabo pela ditadura militar. Um dos pressupostos básicos dessa ideologia é acabar com o subdesenvolvimento através da industrialização, integrando o Brasil e não mais existindo aquele dualidade entre o Brasil urbanizado e rico e o Brasil pobre e rural. Ainda assim, Djalma não engole simplesmente a ideologia desenvolvimentista, repetindo o que os outros vinham dizendo. O intelectual a adota, mas antes critica alguns pontos que considera equivocados como considerar como desenvolvimento apenas o crescimento do poder aquisitivo. Para Djalma, o desenvolvimento é um processo mais amplo que envolve a política, a sociedade e a cultura.
A leitura de Complexo da Amazônia, portanto, é mais do que recomendada.

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