terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mea Culpa ou nossa culpa?



Já faz um tempo que Amanda Gurgel, uma professora potiguar, fez um longo discurso atacando os políticos por  considerarem o professor o único responsável pela situação caótica da educação brasileira. Pois bem, coisa de dois dias atrás o governador do Ceará, Cid Gomes, disse: "Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado."
Ontem, na aula de Teoria e Prática do Ensino de História, ministrada pelo Prof. Tarcísio Serpa Normando falávamos justamente disso. Da idéia enraizada em nossa mentalidade do magistério enquanto sacerdócio. O professor tem a vocação para ensinar. Na sala de aula ele é o próprio saber, ele coloca na cabeça dos alunos todo o conhecimento.
De onde vem essa imagem? Levantamos algumas hipóteses: talvez a origem de nossa educação (afinal, os jesuítas dominaram a educação no Brasil por anos a fio) ou mesmo uma distorção do iluminismo (enxergando a Razão como uma entidade quase divina e o professor e o filósofo como os responsáveis por levá-la ás classes populares).
De qualquer maneira, o fato é que essa mentalidade tem mais culpa no cartório que o professor, pois ela justifica uma posição autoritária na sala de aula e falta de política educacionais que ajudem o professor nos órgãos responsáveis. O professor que se encara como um xamã não dialoga com seu aluno e assim vai se abrindo um fosso entre ele e sua turma. O político que encara o professor como sacerdote acredita que por ele estar servindo á uma causa maior não merece ter um bom salário, afinal o dinheiro corromperia sua "missão".
É claro que existem professores não comprometidos com a educação (e muitos), mas Cid Gomes apenas está procurando uma justificativa para os pequenos recursos destinados (ou desviados) á educação. E ao dizer isso se iguala á tantos políticos pelo nosso país. A culpa nunca é deles, mas dos professores. Muitos pais também acreditam que a culpa de seus filhos não aprenderem direito e não se comportarem seja do professor também. O que é um absurdo: a educação, como já falamos aqui antes, vai além dos muros da escola, ela está nas ruas e nas casas. E o sistema educacional é muito complexo que precisa que todas suas partes ajam conjugadas, o que não é o que acontece. Logo a culpa cai sempre sobre o elo mais fraco da corrente: o professor.
É muito fácil se desligar da responsabilidade de educar, Cid Gomes demonstra isso muito bem. Enquanto não houver professores comprometidos, pais comprometidos e políticos comprometidos com a educação o que podemos esperar?

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