terça-feira, 16 de agosto de 2011

A industrialização de São Paulo

Da antiga série "sínteses numa mesa de bar":


A Industrialização de São Paulo é um livro do brasilianista canadense Warren Dean que já falou da economia da borracha e da história dos desmatamento da Mata Atlântica. Nesse livro Dean quebra alguns mitos sobre a industrialização paulista.
Primeiro: todo mundo pensava que a industrialização paulista nasceu com a crise do café.
Dean mostra que os cafeicultores paulistas foram os homens que criaram a indústria na região. A maioria precisava conseguir novas maneiras de lucrar e outros investiam na indústria só pra ajudar a beneficiar e transportar seu produto.  Mas existiam também aqueles que não eram fazendeiros, mas também ajudaram a construir a indústria paulista. Quem eram eles? Imigrantes (especializados) e profissionais liberais.
Esse pessoal era contra os cafeicultores? É aí que chegamos no segundo mito: formou-se uma classe forte e unidade de industriais que lutavam contra o domínio do café e de outras exportações.

Warren Dean
Ora, vamos dar uma olhada na origem social dos imigrantes especializados e dos profissionais liberais. Os imigrantes que se tornavam industriais eram quase sempre técnicos, ou seja, aqueles que já tinham um conhecimento aprofundado sobre a fábrica. Eles começam a ser promovidos até se tornarem diretores da fábrica ou fundarem sua própria fábrica. Mas eles não tinham prestígio, eram vistos como aventureiros ainda. Por isso se casavam com as filhas de famílias tradicionais (principalmente de cafeicultores). Além disso, o sogrão sempre podia ajudar investindo um pouquinho ali e aqui.
Os profissionais liberais (advogados, gráficos, jornalistas, médicos, etc) eram geralmente filhos dos barões do café. Mandados com o dinheiro do pai para se formarem no exterior, conseguindo assim o tão prestigiado título de bacharel. Quando não se envolviam na esfera intelectual, optavam por criar empresas "modernas" na cidade.
O que temos então são dois personagens visceralmente ligados ao cafeicultor o que cria uma classe dividida: o industrial é um empreendedor que quer ser um nobre como o barão do café. Mas nem todos pensavam dessa mesma forma e isso provocava muitos atritos entre os próprios industriais. Era isso que os impedia de se organizarem tão cedo. Só na década de 1920 que surge a Federação da Indústria do Estado de São Paulo.
Terceiro mito: os industriais estavam tão bem organizados que reprimiam fortemente os operários.
O historiador acaba de nos mostrar que eles não estavam tão unidos assim, mas mesmo assim eles partilhavam (a maioria) de uma mentalidade autoritária para com seus empregados. Eles não eram organizados, o que acontecia é que todos possuiam a mesma idéia de como se devia tratar uma greve: com repressão das grossas.
Os industriais só iriam se unir mesmo a partir de 1930, quando os barões de café estão em franca decadência (com a crise de 1929) e Vargas consolida a industrialização nacional.
Para fechar: o livro de Warren Dean é importante porque ele quebra com muitos mitos, demonstrando que a industrialização de São Paulo foi algo rápido, mas a criação de uma classe unida foi lenta, graças á origem de seus membros e os momentos de crise que o país passava na Primeira República.

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