sábado, 16 de julho de 2011

Santa Tolerância!

Na última Parada do Orgulho LGBT em São Paulo causou polêmica as imagens promovidas pela nova campanha do movimento. Nessas imagens apareciam modelos musculosos e seminus representando santos. As imagens eram acompanhadas de frases como "Nem santo salva da Aids". O presidente da parada, Ideraldo Beltrame, disse que o objetivo da polêmica campanha era demonstrar que a doença atinge qualquer tipo de pessoa, independente de sua religião. O arcebispo de São Paulo, Dom Odílio Scherer, disse que um comportamento correto pode sim salvar as pessoas da Aids e que as imagens atacaram diretamente a religião católica, já que são imagens sagradas. "Quem deseja ser respeitado também tem de respeitar", concluiu o arcebispo.
Não sou católico, mas concordo em parte com Dom Odílio. Uma das maiores conquistas que tivemos nesses últimos anos no Brasil foi a liberdade. Não a liberdade total, pois ela é um mito. Mas algo certamente muito melhor do que se dizia ser liberdade nos anos de chumbo. A garantia da liberdade deve vir acompanhada com a garantia de respeito. É um príncipio que segue o velho ditado: a sua liberdade termina onde a do outro começa. É um princípio básico para a vida em comunidade e para a democracia.
O individualismo, de uns tempos pra cá, tem se aproveitado do direito á liberdade em detrimento do direito ao respeito. E o individualismo parece ter atingido a maioria das pessoas ou dos movimentos sociais.
Una-se ao individualismo uma moda: a do politicamente correto. A luta pelos direitos humanos que começou no século passado chegou ao novo milênio como o símbolo da pessoa consciente ou do rebelde com causa. Embora hoje se rejeite um pouco o posicionamento político, engrandece-se quem luta pelos direitos de certo segmento da sociedade, seja ele quem for.
Qual o problema? Temos um punhado de organizações e movimentos que não conseguem se unir para lutar pelos seus direitos, as manifestações ficaram mais fragmentadas. Além disso, estes movimentos abrigam pessoas que desonram as bandeiras dignas porque lutam, pessoas que entram no movimento simplesmente pela moda e não pela causa realmente. O que acontece? A sociedade se radicaliza. Por um lado é até interessante esse conflito, pois ele permite que discutamos coisas que não discutiríamos em público. Por outro é negativo, uma vez que tende a rotular as pessoas, ele simplica demais o que impede realmente uma conscientização.
Tomemos essa campanha como exemplo. O objetivo era conscientizar do risco da Aids, no entanto acabou descambando para o ataque á um grupo conservador que não valida essas manifestações. Alguns dias antes Miriam Rios tinha desqualificado o homossexualismo e a Marcha com Deus tinha batido nessa mesma tecla. Vejo essa campanha como uma espécie de retaliação. As imagens subvertem uma esfera muito importante na vida de muita gente: a religião. E justamente num momento delicado onde vivemos entre debates e manifestações de violência. Isso pode gerar mais manifestações de ódio. Como disse, é a rotulação e a radicalização em marcha.

Devemos lembrar dos dois princípios essenciais para a democracia, um dos regimes nos quais os direitos humanos são menos inutilizados: o direito á liberdade e o direito ao respeito. Tolerância é a palavra certa. É difícil numa democracia não chocarmos nossa liberdade com a liberdade do próximo, mas devemos pelo menos tentar. Até agora tenho visto isso acontecer raramente em nosso país. O respeito não tem sido praticado por ambos os lados do jogo.

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