quinta-feira, 9 de junho de 2011

Oprimido e Opressor

Oprimido e opressor, dominado e dominador. São definições que já foram tão usadas que parecem ter se tornado rótulos muito convenientes. Não só na Política como na História. A culpa é de quem? De Marx? Ao contrário do que muitos pensam, Marx não foi um dos primeiros pensadores á falar de dominação. Antes dele houve pensadores, inclusive conservadores, que falam da dominação, muitos, aliás, defendendo a opressão. Quase contemporâneo de Marx, Max Weber desenvolveu quase uma tipologia das dominações (desde a dominação seguida de violência até a manipulação pelo carisma).
No entanto, não foram esses autores que divulgaram ao extremo essa "dobradinha". Suas produções estiveram voltadas para o meio acadêmico e mesmo aqueles que tinham um projeto político (como Marx) tiveram suas idéias simplificadas ao máximo pelos seus seguidores. Marx, por exemplo, dizia que não existe dominação absoluta, enquanto muitos dos que diziam ser seus seguidores a concebia como estrutura onipotente.
A dominação é um dos assuntos principais das Ciências Humanas, sendo apenas ponto divergente entre os vários pensadores a qual classe devem defender. Oliveira Vianna, pensador autoritário brasileiro, por exemplo, se simpatiza com as elites e o Estado, defendendo uma política opressiva que ensine o povo brasileiro a ser civilizado. Ortega y Gasset, filósofo espanhol, acreditava por sua vez que a modernidade tinha dado muito poder ás massas e que caberia ás elites o dever de discipliná-las para não cairmos na anarquia. A opressão no pensamento desses autores é vista como positiva, já que aqui se salienta o papel disciplinador do poder.
Michel Foucault construiu sua filosofia em cima da denúnica dos mecanismos de poder, dentro e fora da política, simpatizando-se com todos os alvos do "projeto disciplinador": as mulheres, os loucos, os homossexuais, os bandidos, etc. Walter Benjamin declara que todo historiador deve simpatizar com os marginais, pois eles são apagados da história pelos vencedores. É uma forma de dominação simbólica: a história desses marginais não é uma história sobre eles, mas sobre aqueles que os dominam. Pierre Bourdieu, sociólogo argelino, lembra que a dominação pode assumir diversas formas e considera interessante as formas como as pessoas a enganam.
Acho interessante a contribuição do educador pernambucano Paulo Freire: a maioria das teorias e ideologias que querem acabar com a dominação não desejam realmente acabar com ela, mas apenas substituir uma dominação por outra. O desejo do oprimido é se tornar opressor, porque para ele essa é a única maneira dele se afirmar como sujeito de sua própria vida. O modelo que ele tem de ser humano digno é seu opressor. Assim, devemos romper com essa visão. O oprimido tem que ter sua humanidade valorizada e podemos fazer isso tentando desenvolver a sua autonomia e independência, tanto material como intelectual. Portanto, a função da educação aqui é essencial.

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