terça-feira, 28 de junho de 2011

América para os (norte)americanos

Carregador de flores, Diego Rivera.
A independência dos Estados Unidos da América, como falamos em post anterior, foi um evento que abalou o mundo. Foi interpretado como uma crítica ao Antigo Regime lá e cá (na Europa e na América) e a base dessa crítica era o direito á liberdade. Ora, quem mais inspirou-se na heróica luta do povo norte-americano foram seus vizinhos latino-americanos.
A sociedade colonial hispano-americana era controlada pela Coroa e por seus emissários diretos no continente - chamados de Chapetones. A sociedade colonial portuguesa por sua vez não era muito diferente, mas sua estrutura era menos rígida (nascidos na colônia poderiam desfrutar dos bens públicos). Como nos indica o historiador peruano Juan Carlos Estenssoro, a sociedade colonial é cosntruída em cima de uma oposição, seja entre brancos e índios, seja entre insulares e nativos.
Com o passar dos anos, contudo, uma pequena elite se formará nas colônias e ela fará o jogo dos poderosos por muito tempo (tendo em vista sempre, claro, seu lucro pessoal e seu status). Na América Hispânica será chamada de Criollos e no Brasil de Homens de Grossa Ventura. O maior interesse desses homens era acabar com o pacto colonial e assim comercializar com qualquer país. A situação tornou-se insustentável para esses homens quando no final do século XVIII uma série de medidas foram tomadas pela Coroa Portuguesa (através do Marquês de Pombal) e Espanhola (através das reformas Bourbons) para se controlar melhor as colônias e explorá-las mais.
General Simón Bolívar: um dos líderes do movimento de independência latino-americano.
Essa elite "nativa" começou a atacar o sistema colonial utilizando como argumento a defesa da liberdade. Era uma liberdade restrita, contudo. Se nos discursos ela contemplava á todos os marginalizados pelo sistema colonial (incluindo a população pobre, mestiça, indígena e negra), na prática ela ficaria nas mãos dos homens de grossa ventura e dos criollos. No México, por exemplo, o movimento de independência foi popular, no entanto, após a conquista da autonomia veio a dominação, agora pelos grandes fazendeiros. A maioria dos demais movimentos, contudo, partiu da elite e do exército, conseguindo êxito em grande parte pela situação em que a Espanha se encontrava (guerras napoleônicas).
Uma vez terminada a guerra com Napoleão e restaurada a Coroa, a Espanha tentou conseguir suas colônias de volta. Contava com o apoio de boa parte da Europa que temia a Revolução Francesa (principalmente por conta do período de Terror que veio com Robespierre e de guerras com Napoleão) e anseava retornar ao Absolutismo. Essa liga de países absolutistas ficou conhecida como Santa Aliança (durou de 1815 até 1848) e uma de suas preocupações era justamente reaver as colônias perdidas. No entanto, nessa época surgia um forte adversário á liga: os Estados Unidos da América.
Após conquistar a independência em 1776, o país começou uma expansão a qual deve boa parte das terras que possui agora (algumas tomadas dos povos indígenas do oeste, outras compradas da Espanha, da Rússia e do México - caso, respectivamente, da Flórida, Alaska e Texas). Enquanto estava se expandindo, o EUA construiu um discurso no qual se colocava como o defensor do liberalismo (que a Santa Aliança tanto temia) e do continente americano. Famosa foi a declaração do senador James Monroe: "América para os americanos". Se a doutrina Monroe, como ficou conhecida, era contra a intervenção estrangeira no continente, por outro lado ela era conivente com a intervenção norte-americana em seus vizinhos.

Batalha de San Juan Hill (1896): Guerra Hispano Americana.
Após a Guerra de Secessão (1861-1865) os EUA finalmente superaram a divisão entre Norte e Sul, fortalecendo-se e assim preparando-se, politica e militarmente, para intervir na região. A primeira prova veio com a Guerra Hispano-Americana em 1898. Os Estados Unidos decidiu defender a independência da pequena Cuba diante da Coroa Espanhola, conseguindo atingir seu objetivo: Cuba tornou-se livre, mas dependente de seu tutor norte-americano.
Foi com o presidente Theodor Roosevelt, já no século XX, que o modelo de intervenção norte-americana se definiu com a política do Big Stick: "fale macio, mas use um porrete". Os EUA poderia agir influenciando assim o processo político de seus vizinhos e, em situações mais graves, invadindo o país. Durante boa parte do século XX o continente assistirá a uma série de golpes e de intervenções militares, principalmente na sua segunda metade quando EUA consolidar sua posição de potência militar e tiver iniciado a Guerra Fria. Assim, uma sociedade que se apresentou ao mundo como uma das primeiras á defender a auto-determinação dos povos passou a ser uma das que mais a manipula.

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