sábado, 7 de maio de 2011

Á procura do singular

Micro-história é um termo usado á torto e direito hoje. Quando procuramos uma boa definição, no entanto, acabamos quebrando a cara. O que se entende por Micro-História, afinal? É a história de personagens? É a história de regiões pequenas? É a história de fatos menores? O que é, afinal?


Carlo Ginzburg

Carlo Ginzburg, em seu livro O Fio e Os Rastros onde tenta fazer uma autobiografia intelectual através de seus ensaios, tenta inicialmente nos mostrar como esse termo surgiu. Existem três paternidades para a expressão: uma francesa, outra inglesa e uma mexicana (todas partiram de historiadores dos respectivos países por volta da década de 1960 e 1970). A primeira estaria vinculada á uma tentativa de ir contra a história das estruturas feitas por Braudel, enquanto a segunda se concentrava mais na narrativa e a terceira no local. Ginzburg acredita que a Micro-História que fazia era mais próxima da francesa, pois seu objetivo era sair dos velhos esquemas gerais, reduzir o foco, enxergar os personagens e o cenário das ações melhor e, claro, utilizar a narrativa como forma de apresentar tudo isso ao leitor.

Giovanni Levi
Giovanni Levi, outro grande nome da Micro-História,  no prefácio ao livro Exercícios de Micro-História organizado por Mônica Ribeiro e Carla Maria Carvalho credita o nascimento desse campo justamente á uma simpatia para com os excluídos da história, aqueles que acabavam, voluntária ou involuntariamente, afastados do fazer historiográfico quando as estruturas ou os grandes nomes e datas gloriosas entravam em cena. Mas estes atores sociais não eram os únicos excluídos da história com essa forma de escrita da história; ora, os próprios leitores não se sentiam atraídos por aqueles textos esquemáticos e acadêmicos demais. A Micro-História, através da narrativa, convidou os leitores á entenderem suas pesquisas.

Casamento coletivo, Marcel Gautherot, 1950.
E quanto aos métodos da Micro-história? Levi nos diz que a Micro-História deve trabalhar com a covergência entre dois conceitos: um fator normativo, regulador (como por exemplo, a instituição do casamento em determinada região) e o peso do cotidiano, das pequenas e grandes transformações feitas pelos atores sociais, sejam eles quem for, dentro desse fator (ainda segundo aquele exemplo, como algumas pessoas burlam o casamento, apelam para o adultéreo, a poligamia, etc). É um método que tenta apreender o singular. A Micro-História têm um grande apreço pelo singular, afinal, como dissemos acima, foi esse desejo de uma pesquisa e uma reflexão mais empírica e mais crítica que a gerou.
A Micro-História, resumindo, procura reduzir a escala para enxergar melhor os personagens e o cenário, mas não reduz a análise, pelo contrário, tenta sempre alargá-la, estabelecer, como Levi fala, uma dialética entre o normal e o singular, entre o geral e o cotidiano.

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