sábado, 7 de maio de 2011

Tempos modernos

A Dança, Henri Matisse.
No mundo da arte existem muitos "ismos", muitas vanguardas. Na virada do século XIX para o XX surgem muitas delas em um espaço de tempo muito pequeno. Alguns historiadores da arte costumam colocá-las no mesmo balaio e chamá-lo de modernismo. Geralmente, a definição desse movimento é deixada de lado uma vez que a palavra modernismo parece ser auto-explicativa.

O livro e seu autor.
O historiador alemão Peter Gay decidiu abordar esse movimento artístico de maneira mais precisa em seu livro Modernismo (2009). Sua tese é de que o modernismo tem como características principais a contestação e o intimismo, ou seja, a vontade de abalar os valores e a necessidade de falar sobre a subjetividade de cada um (até a do próprio artista) andaram lado a lado.

Charles Baudelaire. Foto: Félix Nadar.
É difícil dizer quem inaugurou o modernismo, mas muitos tomam o poeta francês Charles Baudelaire e seu livro polêmico As Flores do Mal como o pioneiro e o ponto inicial desse movimento. Baudelaire defendia uma arte diferente do classicismo praticado nas academias, ele defendia uma arte voltada para o êfemero, para o presente - daí sua procura em suas críticas e crônicas sobre o "heroísmo da vida moderna". A arte seria, assim, contemporânea, ela sempre se reportaria ao presente. Aliás, esse desejo de encontrar a beleza nos atos cotidianos levou Baudelaire a se tornar um flanêur, um homem dedicado a andar pela cidade admirando-a.
As Flores do Mal é o exemplo perfeito desse espírito iconoclasta modernista: nele, os sonetos (uma forma clássica) são utilizados como plataforma para as críticas ao moralismo da sociedade francesa e revelações sentimentais (a maior parte delas eróticas).

Oscar Wilde
Outro grande nome dos primeiros tempos do modernismo, segundo Gay, foi também o escritor britânico Oscar Wilde. Wilde, na verdade, condensa um ideal que já vem sendo defendido antes mesmo do século XIX: a idéia da arte pela arte ou, como sugere Peter, da arte pelo artista. A arte não precisa ser justificada por ser um instrumento da moral, da política ou da economia. A arte deve existir porque ela nos fornece prazer estético. A defesa da arte vêem acompanhada da defesa do artista, de sua valorização. Como sabemos, o artista até nosso século não dispunha de um campo todo seu, ele tinha que encontrar mecenas para poder sobreviver. Essa defesa do artista vêem acompanhada, por sua vez, da defesa do diferencial de cada artista: sua subjetividade. Com o modernismo, passamos a acreditar que todo artista pode colaborar com a arte trazendo sua opinião e sua visão sobre determinado assunto e determinada idéia.

Andy Warhol
A partir dessas teses, Peter Gay começa a analisar vanguarda por vanguarda, gênero por gênero (música, literatura, poesia, pintura, etc) até chegar ao final do século XX. O autor acredita que por ser um movimento muito amplo e cultiva essa diversidade, existiram alguns modernistas antimodernistas, como o poeta T. S. Elliot que defendia uma poesia inconoclasta ao mesmo tempo que mantinha posições extremamente conservadoras. Aliás, para o historiador o movimento vêem a terminar com o antimodernismo da arte pop.

Marilyn Monroe, Andy Warhol.
A arte pop, ao contrário dos artistas anteriores, já nasce sendo valorizada. Se ela tenta ser iconoclasta demolindo o conceito de arte isso acaba, por sua vez, com a própria defesa da arte pela arte. Andy Warhol, segundo o autor, demonstra essa indiferença para com a arte e essa mercadologia cultural quando afirma que tudo é arte e que gostaria de que outras pessoas pintassem suas telas para ele. A contestação com o tempo deixaria de ser criativa e intensa para se tornar mais uma norma no meio artístico, deixando a fúria iconoclasta de lado para a "rebeldia sem causa".
Nessa rápida leitura que fiz do Peter Gay (o qual lerei com mais tempo novamente) acabei, depois de ler as considerações finais, por me perguntar se o modernismo não foi vítima de seu próprio sucesso, afinal, os artistas finalmente conquistaram um espaço autônomo e a contestação não ficou só na sociedade civil como um todo, mas também atingiu o próprio conceito de arte. E a arte contemporânea? Ela seria uma arte pós-modernista? São conclusões que não encontrei e espero descobri-las numa segunda leitura, essa mais atenta.

Mais informações aos interessados pelo livro de Peter Gay: veja aqui uma crítica feita no Estadão.

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