sábado, 14 de maio de 2011

Casoys e Bolsonaros

Jair Bolsonaro (PP-RJ).
Tem causado polêmica as opiniões do deputado estadual do Rio de Janeiro Jair Bolsonaro desde que ele concedeu uma entrevista ao CQC há mais de um mês. Defendendo os tempos da ditadura, associando promiscuidade á cor da pele ou o homesseuxalismo á falta de moral e educação, Bolsonaro se tornou assunto de muitos jornais. Apesar de vários pedidos de cassação ele se manteve no cargo.
Apesar dos seus comentários absurdos, Bolsonaro pelo menos manifesta seu preconceito ao vivo e á cores. Muito me preocupa outros colegas dele no governo ou mesmo líderes civis dito liberais que estão cheios de preconceitos do tipo, mas escondem sobre uma capa de polidez e esclarecimento. Coisa de um ano atrás, o jornalista Boris Casoy degradou a profissão de lixeiro, sem saber que ainda estava ao vivo. Apesar de pedidos, Casoy continuou apresentando o jornal após se retratar.

Boris Casoy
O brasileiro é assim: acha que não tem preconceito. Essa é uma construção ideológica muito antiga e já foi mais do que estudada pelos sociólogos e historiadores - o mito da democracia racial e da cordialidade já foi demolido. Demolidos, mas continuam vivos. Interessante como membros de uma dita classe esclarecida conseguem ser arrogantes e ignorantes. Interessante como de uns tempos para cá fomos tomados por uma onda do politicamente correto que na realidade não passa de hipocrisia.
Projetos que dizem defender as minorias tem uma clara intenção de conquistar mais eleitores, de manipular a opinião pública. Por um lado, eles se demonstram bastante produtivos, uma vez que assuntos que antes não podia nem se mencionar agora são debatidos em público, como a questão racial ou mesmo a sexualidade. Ora, a polêmica serve assim para o verdadeiro esclarecimento. Democracia é debate. Por um outro lado, estes projetos ajudam a radicalizar a sociedade. Não estou aqui defendendo a paz social como muitos conservadores e até populistas fazem. Pelo contrário, a sociedade que pretende ser democrática não pode ter medo de conflitos. O que quero dizer é que cada vez mais as pessoas passam a ser rotuladas segundo critérios simplistas demais.
Voltando á vaca fria: Bolsonaro, contudo, tornou-se o porta-voz dos conservadores. Mais uma estratégia política (ou melhor, de politicagem) que uma questão de ideal, na minha opinião. Nas próximas eleições, podem estar certo, o lema de Bolsonaro será o "novo herói da família brasileira". É o velho caso dos nossos representantes que não nos representam, só nos manipulam, mas essa é outra história.
A bolada da vez tem sido o projeto de lei que prevê uma série de medidas para acabar com a homofobia. Entre uma das medidas está uma pequena cartilha que será distribuida nas escolas que apresentará aos alunos o tema da homossexualidade. Qual o objetivo dessa medida? Começar o esclarecimento e o sentimento de respeito sobre o homossexualismo nas escolas, através da educação. Qual o mérito dessa medida, na minha opinião? Nenhum. Ao contrário do que defende Bolsonaro isso não vai transformar nossos jovens em homossexuais e ao contrário do que acreditam os defensores da medida ela não vai conscientizar nossa juventude. Pelo simples fato de que nossa educação está falida. Qualquer tentativa de conscientizar o povo sobre alguma coisa deve passar pela educação e numa educação falida o resultado claramente será nulo.
Um exemplo: há alguns anos lançaram uma cartilha contra o racismo. O simples fato de não enxergarmos na mídia tantas referências ao preconceito racial (sejam nas manchetes como na fala dos funcionários desse meio) significa que o racismo diminuiu ou que ele apenas anda escondido. A onda do politicamente correto produz essa internalização dos preconceitos. A conscientização não vêem com uma cartilha apenas, ela tem de ser feita com todo um acompanhamento da mídia, dos professores e da família, principalmente. Nesse sentido, todos deixam a desejar: a mídia se preocupa mais em atacar que discutir, os professores não estão preparados com o baixo salário e a alta carga de trabalho e as famílias simplesmente não se pronunciam sobre o assunto, por arrogância, preguiça ou indiferença.

Sem um real trabalho de conscientização (que passa pelo ensino e pela discussão) continuaremos nessa situação empobrecedora. Nós estamos falando de questões importantes com uma maturidade e sensatez incrível. Rotulamos e atacamos, seja quem for. Essa é a radicalização de que falava. É algo tremendamente superficial que não contribui muito para a democracia. O que estamos precisando é de nos despir de nossas armas e sentarmos para debatermos questões como a de gênero, respeitando nossos partidários e adversários. Também precisamos agir: cobrar mudanças no sistema educacional, mas não só pressionar. Precisamos apresentar propostas e fazer o papel de fiscal constante da educação se não em nossa comunidade pelo menos em nossa família. A construção do respeito passa pela escola, disso todo mundo sabe, mas não somente por ela. A educação não se restringe aos muros da escola e quando se trata de cada um fazer sua parte pela educação de uma forma geral é aí que começa o problema.

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