sexta-feira, 29 de abril de 2011

Tempo de reformas

Em 1517, o monge agostiniano alemão Martinho Lutero prega na porta da universidade em que lecionava em Wittenberg um panfleto com noventa e cinco argumentos contra a venda de indulgências. O documento ficou conhecido como As Noventa e Cinco Teses, mas na realidade era uam tese acadêmica apresentada antes com o título de Esclarecimento sobre o Poder e a Eficácia das Indulgências.
Esse ato é considerado o início de um movimento do século XVI conhecido como Reforma Protestante. Mas antes de falarmos da Reforma, vamos esclarecer alguns pontos.

Primeiro, Lutero não queria atacar a Igreja Católica e, principalmente, não queria largar ela. Lutero estava preocupado com a questão da salvação. Até então, a idéia que se tinha era de que a salvação deveria se conquistada por meio de uma vida em prol de boas ações. Só assim o paraíso seria alcançado. Lutero discordava dessa visão, pois, com base numa leitura atenta do Novo Testamento, encontrou na fala e no ato final de Jesus uma salvação garantida á todos os homens desde que se convertesse.

O que motivou uma reflexão sobre essa questão foi uma situação recorrente na Europa medieval: a venda de indulgências. Indulgência era o termo dado para se anistiar algum pecador de uma sentença proferida por um padre, como, por exemplo, rezar cem Ave Maria. No entanto, o povo começou a entender essa prática como uma espécie de maneira de limoar seus pecados e comprar um lugar no Céu, e muitos pregadores se aproveitaram disso. Johann Teztel era um deles. Esse padre tinha uma oratória tão virulenta que conseguia convencer todos a comprarem suas indulgências. Quando o papa Leão X precisava de fundos para construir a Praça de São Pedro recorreu á Teztel e suas vendas.

Johann Teztel
A entrada de Teztel em Wittenberg motivou a ação de Lutero, que acreditava que essa prática não chegava ao conhecimento da autoridade papal. Ao fixar as Noventa e Cinco Teses na porta da universidade, Lutero estava tentando começar um debate sobre a validade dessa prática e, quem sabe, convencer as autoridades locais a abolirem tal ação. O historiador Carter Lindberg nos fala que Lutero não era um homem carismático como Teztel, mas um jovem dedicado aos estudos universitários. Sua intenção não era atrair tanta atenção e ódio assim.

Lutero na Dieta de Worms.
A Igreja Católica já tinha um histórico de pequenas teses que se tornaram movimentos perigosos anti-clericais, como os cátaros do norte da França por exemplo. Justamente por isso sua reação contra Lutero foi dura e severa. Em 1520, ele foi chamado pelo imperador do Sacro Império Germânico, Carlos V, para expor sua tese e se retratar (esse episódio ficou conhecido como a Dieta ou o Edito de Worms). Mas Lutero não arreda o pé, por causa disso é excomungado pelo papa e declarado fora-da-lei pelo imperador. Antes de ser levado para a prisão, um admirador seu, o príncipe Frederico, o Sábio, o resgata e o protege em seu castelo. Nesse castelo ele ficará por seis meses, onde se dedicará a traduzir o Novo Testamento para o alemão.

Liga Schmlkald.
Carlos V lutou contra Frederico e seus aliados por muito tempo, mas tinha preocupações maiores: a França e o Império Turco Otomano. Os nobres que se tornaram simpáticos á Lutero formaram uma espécie de aliança, a Liga Schmalkald, mas que foi derrotada em 1547. O luteranismo já tinha se difundido e então o imperador decide reconhecer a validade da religião de cada reino, decretado a partir da Paz de Augsburg.
Lutero não queria se separar da Igreja, mas encontrou apoio nos príncipes germânicos que eram contra os duros impostos vindos do Sacro Império e da Igreja Católica. A salvação incondicional parecia ser muito conveniente para eles. Ele também foi interpretado de uma maneira diferente por Thomas Münzer, pregador alemão. Para ele, a reforma pregada por Lutero era uma reforma social também, o que motivou inúmeras guerras camponesas contra os senhores e a Igreja.
No entanto, a Reforma não se concentrou só na Alemanha e não foi motivada somente pela insatisfação com a venda das indulgências. De país para país, a Reforma teve sua especificidade.

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