sábado, 30 de abril de 2011

Agora é que são elas

A Amante, Edda van Marschen.
Hoje vamos refletir um pouco sobre um texto da historiadora Michelle Perrot presente em seu livro Excluídos da História que trata sobre a relação de gêneros e o poder político. O título não poderia ser mais objetivo: As mulheres, o poder, a história.
A autora escolheu muito bem as palavras no título e nessa questão as palavras tem um peso enorme, como alerta no começo do artigo. Poder no singular é o símbolo da figura central do Estado, enquanto no plural é entendido como pequenas formas de poder dentro da sociedade civil. O que as mulheres têm a ver com essa semântica? Ora, muitos historiadores e antropólogos atuais tentam demonstrar através de suas pesquisas que as mulheres não tinham o poder, mas os poderes. Aliás, os poderes podem ser mais influentes que o poder.
Essa conclusão, no entanto, tem seus perigos: ela pode ser utilizada pelo anti-feminismo como argumento. "Ora, se elas tem o poder de fato o que querem afinal?" E de fato, foi utilizada. Perrot analisará brevemente como é criado no século XIX um discurso onde a mulher é encarregada do espaço privado e o homem do poder público. Já havia antes a idéia de que a mulher tinha um poder considerável sobre o homem, seja para o bem ou para o mal. Isso pode ser observado na imagem da mulher fatal, conservada pelos românticos, e da mulher enquanto mãe, responsável pelos destinos da Humanidade.
Seja como for, a mulher atuava nos bastidores. A marginalização da mulher é algo estrutural na sociedade ocidental, o que muda são apenas os pretextos e no século XIX o principal deles é de que a mulher não estava preparada para o poder, seja porque era governada pelas emoções ou porque ao tentar conquistar o poder estariam pevertendo o equilíbrio dos sexos.
Essa magrinalização ganha uma nova dimensão no século XIX quando dois conceitos são redefinidos: o público e o privado. Muito já se falou sobre ambos, mas o que Perrot quer nos apontar é que ao homem será reservado o poder público político, enquanto a mulher tem de se contentar com o poder familiar e privado. O conceito de mãe e dona-de-casa é resgatado e saturado.
Essa ideologia ofusca nosso olhar para o passado e para o presente: as pesquisas históricas agora demonstram o peso das mulheres na indústria têxtil e nas agitações de rua na França do século retrasado por exemplo - embora, lembre a autora, não seja possível faze rum quadro geral de como os sexos se relacionaram, afinal cada região tem sua especificidade. E no presente? Hoje ainda há aquela idéia de que a luta da mulher não deve se concentra no poder político, mas no social, numa espécie de ante-sala do pdoer público e político. E com isso o movimento feminista estaria repetindo um falso paradigma criado há dois séculos atrás.

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