Em 24 de agosto de 1954, Getúlio teria pego seu revólver com cabo de madrepérola e tirado a própria vida com um tiro no peito. Por que ele, um governante tão inteligente e carismático, teria feito algo do tipo? É o que muitos se perguntam, dentre eles seus próprios admiradores que ainda apostam na hipótese de assassintato. Para entendermos o suícidio (com aspas ou sem) devemos antes de tudo entender o momento em que ele se encontrava.
Desde que fora obrigado á se retirar da presidência em 1945, por pressão do Exército que já estava desencantado com as ditaduras fascistas européias. Contudo, Vargas já tinha costurado as alianças que o trariam de volta: o trabalhismo, movimento que ajudou a construir durante o Estado Novo, e o comunismo, o qual perseguira, mas anistiará ao fim de sua ditadura, eram duas forças que juntas formavam o que ficou conhecido como Queremismo (de "queremos Getúlio").
Marecha Eurico Dutra. |
O carnaval de 1950 teve como uma das marchinhas mais populares "O Retrato do Velho", uma alusão á volta de Getúlio. E botaram não só o retrato do velho como o próprio velho no mesmo lugar. Vargas foi eleito, mas como o voto ainda era desvinculado por lei, seu vice foi Café Filho, da oposição. Getúlio fez questão de se cercar de seus colaboradores habituais, dentre eles um jovem João Goulart, mas ele não podia controlar o Exército que se mantinha desconfiado das pretensões ditatoriais do presidente eleito. Vargas, que era anticomunista ferrenho, teve que se acostumar ao jogo político da Guerra Fria, por isso sua maneira de conquistar aliados era apostar no nacionalismo. Assim ele conseguiria o apoio não só de muitos membros do Exército como dos comunistas que lhe consideravam um mal menor se comparado com a UDN e os EUA, como pensou Luis Carlos Prestes.
Vargas era alvo de desconfiança dos setores ditos liberais e simpáticos ao EUA (apelidados pelos varguistas de entreguistas) e diariamente era alfinetado na imprensa, uma vez que os grandes jornais como a Tribuna da Imprensa e a rede de Chateaubriand, dos Diários Associados era da oposição. Deve se destacar a figura de Carlos Lacerda, inicialmente comunista que se tornou orador da oposição. Em seus artigos e discursos atacava o governo sem dó nem piedade.
Carlos Lacerda |
Carlos Lacerda sai do atentado com o pé ferido. |
Gregório Fortunato. |
Acredito que o suícidio tenha sido parte de uma estratégia política, mas também fruto do desespero de Vargas (os estudos demonstram que o político já sofria um pouco de arteriosclerose, uma pressão no cérebro que com os anos pode transformar a pessoa em um neurastênico ou provocar um derrame). E uma estratégia que deu certo. A imagem de Vargas foi purificada do atentado e se tornou tão forte e cristalina que todos seus herdeiros políticos foram empossados, para desgosto da oposição, como Juscelino Kubistchek e Jango Goulart. Ainda hoje podemos escutar algum senhor ou senhora de considerável idade lembrar com admiração da figura do pai dos pobres.
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