quinta-feira, 28 de abril de 2011

Entrando para História...

Não há como escapar dele. Quem se dedica á História do Brasil, em algum momento tem de falar de Getúlio Vargas. Esse gaúcho de Borja passou 15 anos no poder, utilizando dos mais diferentes meios para isso. Dizia estar fazendo isso pelo Brasil. Até hoje muitos se dividem sobre seus reais motivos - se era por nacionalismo ou interesses próprios mesmo. Se o seu caráter é discutível, o que dizer então de seu fim?

Em 24 de agosto de 1954, Getúlio teria pego seu revólver com cabo de madrepérola e tirado a própria vida com um tiro no peito. Por que ele, um governante tão inteligente e carismático, teria feito algo do tipo? É o que muitos se perguntam, dentre eles seus próprios admiradores que ainda apostam na hipótese de assassintato. Para entendermos o suícidio (com aspas ou sem) devemos antes de tudo entender o momento em que ele se encontrava.

Desde que fora obrigado á se retirar da presidência em 1945, por pressão do Exército que já estava desencantado com as ditaduras fascistas européias. Contudo, Vargas já tinha costurado as alianças que o trariam de volta: o trabalhismo, movimento que ajudou a construir durante o Estado Novo, e o comunismo, o qual perseguira, mas anistiará ao fim de sua ditadura, eram duas forças que juntas formavam o que ficou conhecido como Queremismo (de "queremos Getúlio").

Marecha Eurico Dutra.
A redemocratização teve como seu primeiro presidente eleito o Marechal Eurico Gaspar Dutra, braço direito de Getúlio durante todo seu governo. Dutra era uma solução para o impasse entre o movimento de oposição á Vargas como a União Democrática Nacional (que nasceu nos anos finais do Estado Novo como a reação liberal a um governo que tinha simpatia com o fascimo e ao mesmo tempo lutava ao lado dos Aliados) e o popular Queremismo. O gabinete formado então era em grande parte da UDN e tomou decisões na tentativa de aprofundar os laços do Brasil com os EUA, essas medidas foram aproveitadas pelos norte-americanos para ampliar sua zona de influência, principalmente econômica.

O carnaval de 1950 teve como uma das marchinhas mais populares "O Retrato do Velho", uma alusão á volta de Getúlio. E botaram não só o retrato do velho como o próprio velho no mesmo lugar. Vargas foi eleito, mas como o voto ainda era desvinculado por lei, seu vice foi Café Filho, da oposição. Getúlio fez questão de se cercar de seus colaboradores habituais, dentre eles um jovem João Goulart, mas ele não podia controlar o Exército que se mantinha desconfiado das pretensões ditatoriais do presidente eleito. Vargas, que era anticomunista ferrenho, teve que se acostumar ao jogo político da Guerra Fria, por isso sua maneira de conquistar aliados era apostar no nacionalismo. Assim ele conseguiria o apoio não só de muitos membros do Exército como dos comunistas que lhe consideravam um mal menor se comparado com a UDN e os EUA, como pensou Luis Carlos Prestes.

Vargas era alvo de desconfiança dos setores ditos liberais e simpáticos ao EUA (apelidados pelos varguistas de entreguistas) e diariamente era alfinetado na imprensa, uma vez que os grandes jornais como a Tribuna da Imprensa e a rede de Chateaubriand, dos Diários Associados era da oposição. Deve se destacar a figura de Carlos Lacerda, inicialmente comunista que se tornou orador da oposição. Em seus artigos e discursos atacava o governo sem dó nem piedade.

Carlos Lacerda
O segundo governo Vargas foi extremamente conturbado: havia a ameaça onipresente de um golpe ditatorial na cabeça dos opositores e de um golpe militar na cabeça do governo, além das taxas de inflação serem altas e as greves constantes. Uma medida em especial atraiu a cólera da UDN: o aumento de 100% no salário mínimo decretado pelo ministro do trabalho Jango Goulart com o consentimento de Vargas. Essa medida era entendida como um meio de gerar conflitos na sociedade e com isso o velho caudilho ter um pretexto para instalar uma nova ditadura, agora com o apoio dos operários e dos comunistas. Os jornais atacavam mais e mais Vargas e muitos militares deixaram de apoiá-lo.

Carlos Lacerda sai do atentado com o pé ferido.
O pivô da crise foi um atentado cometido contra Lacerda, onde foi morto um colega seu, um jovem major da Aeronáutica. As Forças Armadas iniciaram um inquérito para apurar o "atentado da Rua Toneleros" e chegaram á um grupo de bandidos contratados pelo chefe da segurança pessoal de Vargas, Gregório Fortunato. As investigações apenas pioravam a imagem de Vargas, agora ele era visto num mar de lama como um assassino. A conclusão das investigações, depois de dias no que ficou conhecido como a República do Galeão, foi de que Fortunato teve a idéia sozinho e não envolveu o presidente, mas a UDN não se contentou com isso.

Gregório Fortunato.
Assim, podemos entender o suicídio como a única saída possível para Vargas. Ele representava uma maneira de escapar de uma situação embaraçosa e ao mesmo tempo uma forma de reverter o jogo: com sua morte a UDN seria a carrasca e ele um mártir. Na manhã em que a notícia foi dada, muitos saíram nas ruas dizendo "mataram o velho!" A reação passou do luto, acompanhando o cortejo fúnebre, ao apedrejamento das readações dos jornais da oposição e explosões de vandalismo no centro da cidade do Rio de Janeiro.

Acredito que o suícidio tenha sido parte de uma estratégia política, mas também fruto do desespero de Vargas (os estudos demonstram que o político já sofria um pouco de arteriosclerose, uma pressão no cérebro que com os anos pode transformar a pessoa em um neurastênico ou provocar um derrame). E uma estratégia que deu certo. A imagem de Vargas foi purificada do atentado e se tornou tão forte e cristalina que todos seus herdeiros políticos foram empossados, para desgosto da oposição, como Juscelino Kubistchek e Jango Goulart. Ainda hoje podemos escutar algum senhor ou senhora de considerável idade lembrar com admiração da figura do pai dos pobres.

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