Religião é um assunto sempre polêmico, mas necessário.
Fui criado numa família evangélica que, com a exceção de alguns parentes, não era muito rígida, muito praticante. Mesmo assim havia um respeito enorme pelo nome de Deus, afinal Ele é sagrado, então não deveria ser utilizado assim sem mais nem menos. Os rituais nós também não questionávamos.
Passaram os anos e o contato com diferentes religiões, por meio de meus amigos, me fizeram pensar mais a fundo nesse assunto, até então renegado ao silêncio. Achei interessante o islamismo, o judaísmo, a wicca, mas ainda tentava entender o protestantismo e o catolicismo, o cristianismo de uma maneira geral.
Eu comecei a fazer uma leitura da Bíblia, um compromisso firmado comigo mesmo. Não o terminei ainda, pois fui interrompido por algumas tarefas e certos acidentes de percurso. Como falei aqui antes, considero a Bíblia não só como um livro sagrado, mas uma fonte histórica também. A Bíblia pode ter uma mensagem universal, mas é também fruto do seu tempo, carrega em si as marcas de quem a escreveu e a quem era endereçada.
Um dos livros que mais achei interessante foi o livro de Jó, onde podemos ver um homem tentando entender como um Deus benevolente que nos ama pode deixar que soframos. Ora, essa é uma pergunta que deve ter passado pela cabeça de todos que crêem ou não em Deus. E o livro de Jó, ao contrário das respostas que costumamos ouvir, termina nos revelando que "se você faz o bem, não está ajudando a Deus; ele não precisa de nada que é seu. São os outros que sofrem por causa dos pecados que você comete; e também são eles que são ajudados quando você pratica o bem" (Jó, 35:7-8). Ou seja, Deus não gosta de pecadores porque eles desrespeitam seus próximos e não somente á Deus. A maldade no mundo não pode alcançar á Deus; ela, antes, é fruto das escolhas dos homens. Deus não pode acabar com a maldade no mundo, pois com isso ele acabaria com o livre-arbítrio do homem.
Sendo assim, esse livro faz uma ponte com o Novo Testamento muito interessante. Jesus e seus apóstolos fizeram uma releitura da tradição judaica, mas adaptaram-na para os tempos em que viviam: opressão pelo império romano e as reações á ele como o messianismo, o terrorismo, etc. Interessante é que ao lado de inovações (como o apelo aos pobres) ele pegue muito da mensagem de Jó, incluindo aí a idéia de redenção. Mesmo pecando, Jó poderia ser salvo se reconhecesse seus erros. Com Jesus, o homem pode ser salvo se arrependendo de seus pecados. E mais: a Salvação seria garantida á todos, uma vez que Cristo, "o cordeiro de Deus", morreu na cruz para garantir á todos a redenção.
A maior prova de amor seria essa, onde Deus se faz homem, vive entre eles, e morre por eles. A Páscoa representa esse amor e a promessa de vida eterna. Os homens renasceriam, assim como Jesus, a partir do momento em que reconhecessem sua ignorância e seguissem seus ensinamentos. A partir desse momento, o reino dos Céus lhes seria garantido.
Acredito que o essencial do cristianismo talvez seja isso: o amor. Não que as outras religiões não visem o amor também (a maioria delas visa o amor através do respeito e do autoconhecimento, por exemplo), mas a mensagem que o Novo Testamento traz, além da promessa da vida eterna - tendo o apocalipse como um ponto importante - , a afirmação de que Deus é amor. Não um amor obsessivo que sufoca o amado, mas um amor compreensivo que respeita a liberdade de quem ama - prova maior seria a proteção de nosso livre-arbítrio, fonte de nossa maior força e de nossa maior fraqueza.
A grande lição que o cristianismo trouxe para mim é a de que temos que reconhecer que somos livres e que, como teria dito o filósofo francês Paul Claudel, a questão é que Deus confia em nós, por isso nos abençoou com a liberdade. Uma lição no campo da religião e da ética, uma vez que devemos amar a todos e respeitá-los como Deus nos ama e respeita.
Hoje me declaro agnóstico porque ainda não acredito que possamos realmente compreender a Deus integralmente, mas podemos sentir sua presença através da experiência do sagrado, do transcendental. Mas desde que descobri o real sentido do cristianismo, passei a nutrir mais respeito ainda por essa religião. É justamente por isso que escrevi esse texto. Esse texto é uma homenagem, ainda que modesta, á Páscoa e ao cristianismo como um todo. Que os atos sombrios e lamentáveis dos homens e instituições que diziam e dizem lutar por ele não obscureçam a sua verdadeira mensagem!
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