Com a ampliação do campo de fontes do historiador e a consciência de que a subjetividade transforma as fontes em parciais, muitos historiadores passaram a valorizar a literatura.
Para eles, a história e a literatura tem muito em comum, começando pela estrutura. Todo texto de história tem uma narrativa, entendendo aqui como narrativa como organizar uma sucessão de idéias e não apenas de fatos. Sendo assim, o historiador também é um escritor, pois ele apresenta o seu período e suas teses da maneira que mais lhe agrada ou ao leitor - ou seja, ele também tem estilo.
O historiador canadense Hayden White. |
Alguns vão até mais longe, dizendo que a história é uma espécie de literatura, como Hayden White. Segundo essa linha o passado é impossível de ser compreendido, uma vez que as fontes expressam apenas pontos de vista e não a verdade. História seria então ficção.
Discordo, acredito que a história ainda difere da literatura por ser assombrada, na expressão do Prof. Arcangêlo, pelo fantasma da verdade. Claro, não podemos apreender o que aconteceu totalmente, mas podemos atingir um pedaço da verdade. O conhecimento histórico, enquanto ciência, é possível sim.
O filósofo alemão Walter Benjamin. |
Outra aproximação entre história e literatura vem da sensibilidade mais uma vez. Enquanto no mundo da literatura, o escritor está livre para inventar e expor seus sentimentos, na história tenta se evitar isso ao máximo com medo de que a imparcialidade seja afetada. Muitos concordam que a verdadeira imparcialidade é um mito e que podemos expressar nossos sentimentos dentro do campo do conhecimento histórico. Walter Benjamin, por exemplo, defendia não só uma história mais viva, como uma história combativa, onde o historiador não fosse um mero observador, mas tomasse partido também, se simpatizando com determinados grupos sociais ou reprovando certos acontecimentos. Tudo isso feito com discernimento e sensibilidade, tal como Kant queria que o conhecimento científico fosse.
Penso que por ter essa incrível singularidade de ser uma ciência humana, a história admita o conhecimento científico e o sentimento em seus quadros. Aliás, creio que a própria escolha de um tema de pesquisa, a problematização, parte de um sentimento, um sentimento de angústia. Pesquisar é angustiar-se em não achar respostas, respostas para perguntas principalmente sobre o presente. Sendo assim, as universidades brasileiras devem estimular a nos angustiarmos mais.
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