sábado, 16 de abril de 2011

Andar com fé eu vou...

Conversas com os amigos são sempre muito divertidas e produtivas. Digo isso porque entre amigos falamos dos mais diversos assuntos, de besteiras e fofocas á discussões políticas e historiográficas.
Hoje, por exemplo, o assunto que dominou em nossa conversa foi a religião. A veracidade da Bíblia foi o que originou a discussão. Ora, a Bíblia é a compilação dos escritos de vários homens em diferentes períodos. Nada mais natural que seja contraditória, uma vez que foi escrita por homens que tinham personalidades distintas e com elas maneiras diferentes de entender a tradição judaica. O que a Igreja Católica tentou fazer foi torná-la mais coerente e, claro, apoiar sua legitimidade, por isso muitos evangelhos apócrifos foram desconsiderados.

O cristianismo nasceu como um movimento extremista (no sentido de atacar radicalmente o status quo), pois ele pregava uma volta á tradição, sendo que, na realidade, tratava-se de uma nova interpretação - o Deus que se faz homem é algo novo. Extremismos não sobrevivem por muito tempo, para isso eles tem de se adaptar e foi o que aconteceu. O cristianismo tornou-se uma religião subversiva e, com a ajuda do apóstolo Paulo, universal. Somente com Constantino ela se torna temporal, ela se une ao poder, tornando-se uma instituição cada vez mais poderosa (atingindo seu auge durante a Idade Média). Nesse processo, muito foi ficando para trás, intencionalmente ou não.
Acredito, como futuro historiador, que não podemos esquecer que a religião é uma tentativa do ser humano entender o sagrado ( ou a experiência sagrada como já disse aqui) e justamente por isso está carregada de suas limitações e qualidades. Embora tente ser transcendental, a religião é marcada pelo tempo. O cristianismo hoje não é o mesmo da Idade Média ou dos seus primeiros anos, isso está claro. O tempo muda e com ele os homens e sua percepção sobre a vida.
O sagrado é algo transcendente, é a nossa percepção sobre ela que muda (o que chamo de religião). A fé, no entanto, nem sempre é suficiente para sustentar uma religião: geralmente precisa de rituais para que os ensinamentos não sejam esquecidos e de certa dose de racionalismo para que não se transforme em pura alienação (mas nós todos sabemos que se transformar em pura alienação é muito mais conveniente para muita gente).
Um de nossas colegas tentava entender a razão da fé em um livro como a Bíblia. Ora, o que te afeiçoa a certa religião não pode ser explicado com simples argumentos, frios e diretos. O que podemos tentar dizer é que a nossa fé é feita em cima de nossa personalidade. Nossa personalidade nos guia até aquele modo de viver o sagrado que mais nos parece correto. Concordo com Dalai Lama quando ele diz que a melhor religião do mundo é aquela que te transforma em um ser humano melhor.
O que quero dizer que falar sobre fé é sempre um assunto espinhoso, pois envolve termos como "verdade", "dogmas" e "alienação". Devemos tomar cuidado com as generalizações:  nem tudo é só alienação, as religiões também contribuem para o desenvolvimento do homem, cada uma a seu modo. Acredito que o discernimento pode nos ajudar a evitar cairmos em círculos fechados, assim como a fé também pode nos ajudar a entender mais o mundo (mas principalmente o homem). Mas muita reflexão estrangula a fé e muita fé esfaqueia o discernimento. É preciso um equilíbrio (tarefa difícil, mas não impossível).
Esse post por exemplo: não se trata de uma afirmação inviolável, uma verdade incontestável, mas apenas a minha visão, a minha opinião sobre religiões e experiências sagradas. Mas acredito que ela possua pelo menos algumas gramas de verdade.

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