Charge de Angelo Agostini sobre a Proclamação da República (1889). |
A discordância está no cárater dessa mudança de regime: ora é vista como fase necessária e inevitável no desenvolvimento nacional, ora como mudança superficial (o regime é o mesmo, só mudou de nome). As visões sobre esse processo geralmente estão associadas ás ideologias dos historiadores, assim temos monarquistas defendendo que a República representou a continuação dos vícios de antes e republicanos defendendo que esse foi um dos maiores passos para modernizar o Brasil.
Aristides Lobo |
José Murilo de Carvalho |
Com base em pesquisas recentes sobre o Rio de Janeiro, o autor encontrou uma cidade politizada e o povo participando da política.O povo podia pedir diretamente ao intendente ou prefeito e até mesmo ao Conselho Municipal. A comunicação existia e, com efeito, muitas de suas queixas foram solucionadas (por pressão ou por politicagem).
Largo de S. Francisco de Paula, Rio de Janeiro. Fonte: Marc Ferrez, 1890. |
Se olharmos para as elites políticas, como estas pesquisas vem fazendo, então temos sim uma cultura política carioca que pode ser resumida em uma tensão entre intervenção e autonomia. O Rio de Janeiro carregava o peso de ser a capital do Brasil, o que acarretava mudanças estratégicas do governo federal, e de não deixar de ter que representar seus habitantes. O dilema na política local era: obedecer aos interesses da União ou dos cidadãos desta cidade?E muitos políticos lutavam entre si tendo esse dilema como motivo: prefeitos eram pressionados pelos habitantes, intendentes pelos prefeitos, o Conselho Municipal pressionava prefeitos e intendentes, e vice-versa.
No entanto, se olharmos para os habitantes da cidade veremos, segundo Marcelo, que eles encontraram outros canais, que não os da política oficial, para se manifestar. E seus interesses eram os mais diversos. Quando se envolviam na política oficial era para pedir algo que os ajudasse a sobreviver (melhor moradia, melhor alimentação, etc) e não para realizar o seu projeto político. Ora, se os paulistas, pernambucanos, amazonenses, dentre tantos outros, faziam o mesmo, como podemos chamar isso de uma cultura política carioca? Antes de tudo, estamos falando de uma negociação entre o povo e o governo, onde o primeiro buscar melhorar suas condições de vida e o segundo conseguir mais legitimidade popular (se bem que Marcelo aponta para uma revisitação do clientelismo).
Se uma cultura política não engloba a maioria da população de uma cidade, então temos uma cultura política? Não, essa é a resposta de Marcelo. De qualquer forma, é interessante como ele se apropria de premissas de José Murilo de Carvalho (o bilontra) e dessa historiografia carioca recente (a política não-tribofe). Nos faz repensar no descompasso/compasso do governo e do povo na República e ainda hoje.
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