quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sagrado e Profano

O Jardim das Delícias, Hieronymus Bosch

Segundo um dos maiores pesquisadores sobre as religiões, o romeno Mircea Eliade o homem é formado por duas dimensões: a sagrada e a profana. A profana diz respeito á vivência cotidiana, á vida mundana, enquanto o sagrado fala sobre um mundo mais abstrato e metafísico, um mundo transcendental. Sempre foi assim, hoje, a dimensão sagrada parece ter sido um pouco reduzida, mas ainda está aí.
Eliade começa a analisar o sagrado e nos apresenta aquilo que acredita serem pontos fundamentais de sua estrutura: o sagrado é um canal para interagir com uma ou umas divindades, por isso o homem sempre procura em seus rituais e orações uma volta aos primórdios, quando elas criaram o mundo, por ser um momento onde sua ação e vitalidade é muito maior.
Assim sendo o sagrado tem sua própria temporalidade: é o eterno retorno. O rito, os altares, o mito tem essa função: a de ligar o homem ao início de tudo, ás divindades, no seu dia-a-dia. Claro que tudo isso também tem uma função social:  legitimar uma ordem através de tabus e rituais.
Eu entrei em contato com esse texto durante minhas aulas de Introdução aos Estudos Históricos. O objetivo da professora (Cristiane Manique, uma das melhores professoras que tive) era nos fazer repensar o conceito de tempo. O tempo em si é uma coisa inefável, indizível, impossível de ser capturado totalmente. O que existe são tentativa de defini-lo e de medi-lo. Essas tentativas se refletem no conhecimento histórico: cada historiador tenta entender os processos históricos, tenta conferir á história um sentido e uma finalidade. E o que a professora nos fez ver é que isso não é privilégio somente dos historiadores. O mito e a religião são uma forma de conhecimento, embora por anos tenhamos os desprezados por não terem uma "cientificidade". São uma forma de conhecimento e, em certos casos, uma filosofia da história também. Filosofia da História é toda tentativa de ver a história além dos acontecimentos, encontrar um nexo entre os diversos fatos, encontrar estruturas ou outra forma de totalidade. Assim, sendo uma religião pode ser uma filosofia da História pois ela confere á todos os fatos a vontade das divindades. O Cristianismo é uma das "filosofias da História" com quem mais os filósofos dialogaram, seja atacando ou acatando os desígnios da Providência na história. A filosofia da História, no ocidente, se "profaniza" com os iluministas, principalmente Voltaire, e desde então temos aí o idealismo, o materialismo histórico, o historicismo e por aí vai.
Como podemos ver, a história,. como a nossa própria vida, também está entre o sagrado e o profano.

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