Gostaria aqui de comentar um post do escritor paraibano Bráulio Tavares. O título é bem pontual: O nosso pecado original. Bráulio aborda um tema já saturado, seja nas Ciências Sociais ou na Literatura, por uma nova perspectiva.
O autor começa nos apresentando o que se entende por pecado original. Se formos á raiz do termo, chegaríamos então ao Jardim do Éden no instante em que Deus pune Adão e Eva do local por terem comido do Fruto Proibido. A partir daquele momento, Adão e seus descendentes seriam punidos com o trabalho duro como único meio de sobreviver e Eva e suas eventuais filhas com a dor do parto.
Em outras palavras, é "um pecado que não cometemos, mas que foi cometido por quem nos trouxe ao mundo, e que de certo modo nos influencia. Quando um indivíduo toma consciência desse pecado, que não dependeu de uma decisão ou de uma opção sua, sente uma culpa que o habita mas não lhe pertence, e que por isso mesmo lhe parece impossível de expiar".
Nós, brasileiros, teríamos além desses dois pecados originais mais um: a corrupção. A corrupção, em suas mil formas, está entranhada em nossa vida política, empresarial, econômica. Onde quer que exista muito dinheiro (e, de maneira perversa, onde exista dinheiro público) a corrupção surge. Acabamos entrando no labirinto da corrupção diretamente, através da nossa participação, ou indiretamente, principalmente através da vista grossa. Ser honesto e ético no meio de um ambiente viciado é quase impossível. Em outras palavras, no envolvemos na corrupção mesmo quando somos indiferentes á ela.
No entanto, o dinheiro desviado é usado em outra coisa, em outros setores, mesmo que seja de fachada, ajudando a financiar novas formas de produção. Do dinheiro sujo nasce, assim, algo diferente. Tentar limpar a nossa economia dele seria dificílissimo e até prejudicial á economia nacional.
Não, leitor, essa não é uma espécie de apologia á corrupção. Bráulio, diante das inúmeras afirmativas do cárater cultural da corrupção em nosso país e das propostas de "expiar esse pecado", manifesta uma certa descrença. Afinal, se é cultural uma medida política de última hora não mudaria tudo num piscar de olhos. Além disso, a maioria das alternativas propostas pregam uma reestruturação total de nossa cultura, como se para o Brasil se ver livre da corrupção teria que deixar de ser Brasil e se tornar uma espécie de país europeu nos trópicos.
A solução, melhor, a "proposta de expiação" que Bráulio imagina é diferente. A corrupção é um pecado original meu, seu, de todos nós. Mesmo não roubando acabamos, por vias transversas, nos beneficiando de coisas geradas com o produto do roubo (comércio, indústria, serviços, lazer). Não há batismo que nos purifique por inteiro. Talvez tenhamos que tratar a corrupção como outros pecados originais nossos (a escravidão, o latifúndio, os massacres étnicos) e tirar dela algo de positivo. O dinheiro pode ter origem suja, mas ainda assim pode ser reaplicado, num estado de limpeza provisória, na corrente econômica. Ser honesto hoje passaria por tentar modificar o que nos chega em mãos, o dinheiro sujo, aplicá-lo em formas honestas e éticas de produção, "purificá-lo". Alguém poderia dizer que ele substituiu o combate pela corrupção pela aceitação; não acredito, penso que Bráulio apenas está propondo uma nova maneira de se combater a corrupção, que não é de certa forma uma aceitação, pois não passa pela indiferença. E o texto se endereça a todos, não a um círculo de pensadores e cientistas políticos. É uma proposta para o dia- a- dia. Uma proposta melhor que a apatia em que muitos vivem atualmente e, como dissemos acima, ajuda e muito esse status quo. Talvez assim o Brasil finalmente alcance a tão esperada "redenção".
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