Da série "sínteses numa mesa de bar":
Raízes do Brasil é o nome do livro clássico do historiador Sérgio Buarque de Holanda. Publicado em 1936, depois de passar uma temporada na Alemanha, o livro pretende analisar a história de nosso país através de conceitos contraditórios.
Até aí nada de novo, desde que o escritor argentino Domingos Sarmiento lançou Facundo a história da América Latina tem sido analisada através de dois conceitos - civilização e bárbarie - com os pensadores defendendo um deles. Mas Sérgio não faz isso; ele apenas elenca uma série de conceito contraditórios e os confronta a toda hora, num movimento dialético, na tentativa de mostrar-nos como a sociedade brasileira foi formada.
Á primeira vista, por utilizar esse método dialético, podemos pensar que Sérgio está se valendo do marxismo, mas na realidade seu referencial teórico vem de outros filósofos alemães, principalmente Max Weber. Sérgio está usando o "tipo ideal" proposto por Weber e sua visão mais cultural dos processos históricos.
Bem, então quais são as "raízes do Brasil"? Elas estão localizadas no cárater de nossa colonização que, ao contrário da América Espanhola, foi feita por aventureiros e pouco planejamento, resultando num predomínio do poder patriarcal e numa carência de infra-estrutura, como serviços urbanos, saúde e educação. Não podemos chamar de sociedade agrícola, pois não haviam técnicas e planejamento adequado também no campo. A fraca presença do Estado criou um poder mais informal, personalista e passional. Temos assim um governo e uma sociedade guiados pelas emoções e não pela racionalidade, em outras palavras, o brasileiro seria um homem "cordial".
O Brasil é um país patriarcalista, cordial, rústico e autoritário graças ao colonialismo português, mas isso está começando a mudar (quer dizer, na época em que Sérgio escreveu o livro). Por quê? A abolição, a urbanização e a industrialização estão superando esse ranço colonial ao impor uma maior racionalidade e impessoalidade no trabalho, governo, dentre outras relações sociais.
Gilberto Freyre, por outros meios, chega a mesma conclusão. No entanto, enquanto o historiador paulista vê essa herança colonial como nosso maior entrave ao desenvolvimento, o antropólogo pernambucano vê com preocupação esse desenvolvimento. Freyre vê, por assim dizer, o lado bom dessa "herança maldita": justamente a nossa cordialidade, ou no seu dizer, nossos "antagonismo equilibrados". Para ele, nossa singularidade e nossa grande lição para o mundo (polarizado) da época seria nossa habilidade em acolher e conciliar tudo e todos, em afrouxar a hierarquia social e aproximar dominador e dominado. Seu medo é que a modernização, pautada nos valores europeus, acabe com essa "harmonia", enquanto Sérgio Buarque acredita que essa modernização é fundamental para termos realmente uma democracia no Brasil.
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